Quatro derrotas seguidas foram mais do que suficientes para escancarar, de vez, o ódio de classe assumido pela “militância” oposicionista. E o ódio não é um fim em si mesmo. Ele traveste uma situação onde o grupo político que nos contrapõe não tem, simplesmente, nada a dizer em matéria de alternativa séria ao país. Eles têm um projeto, o que não significa novidade. Eles tem uma não-alternativa, uma caixa vazia que só se preenche na base do fascismo. Neles, existe o ponto de encontro perfeito entre banditismo neoliberal e fascismo aberto.

Eles são isso e podem ser isso diante da falta de responsabilidade sobre o presente e o futuro do Brasil. De nosso lado, as tarefas são imensas. O momento não pode ser de confusão entre – por exemplo – o que vem primeiro, a política ou a economia. Uma leitura na conjuntura deixa claro que sem uma recomposição do nosso campo no Congresso Nacional, não será possível a execução de uma agenda que possibilite um conserto nacional em torno no desenvolvimento. E isso ocorre, justamente, por conta da radicalização de posições e do clima policialesco que toma conta do país e que já alcança – e tem como alvo – grandes empresas executoras das maiores, e mais importantes, obras em andamento.

Evidente que o objetivo de quem cria, alimenta e retroalimenta esse clima de terror pouco está longe de acabar com a corrupção. O objetivo é sangrar o governo paralisando o país até que o terror se transforme em recessão econômica e, consequentemente, em regressão social. Trata-se de uma alta aposta contra o país, numa prática digna de uma quinta-coluna, antinacional e objetivamente antipopular.

O antídoto residirá na capacidade do governo em reinventar a si mesmo, construindo um novo ciclo de mudanças, persuadindo aliados ao centro da necessidade de um pacto em torno, e em defesa do país. Inclui amplitude elevada à décima potência para um olhar de conjunto das forças do Congresso e da própria sociedade. Visão de Estado desprovida de mesquinharias ideológicas, pois o momento é de nos colocarmos acima de nossa condição de esquerda. É perceber, de forma fria que hoje temos uma oposição irresponsável, porém lastreada nas urnas e numa base social em processo de solidificação no Congresso e nas ruas e com força política e domínio sobre os meios de comunicação suficientes para travar, quase que completamente, o debate de ideias. É o caso em que a política deverá sobrepor-se a um clima de censura imposta pela imprensa golpista em torno de temas que encetem o futuro do Brasil. O momento deles é o presente, não o futuro.

É neste contexto que uma ampla, e difícil, costura política faz-se impor sobre nós. A retomada do crescimento tem uma relação de causa e efeito com este processo. As dificuldades do momento político impõem-se sobre o futuro da economia. Não esperemos uma retomada do crescimento de forma imediata. Diante do momento político difícil e radicalizado, o mais importante no momento está na manutenção de uma agenda em torno das concessões das infraestruturas ao setor privado. Não se trata de uma agenda tocada como foi tocada até aqui. A conjuntura política nacional deve fazer o governo perceber a necessidade dessas concessões passarem por um verdadeiro processo de blindagem. E a oposição sabe calcular a ponto de saber que o país só não entrou em recessão aberta por conta das oportunidades de investimento abertas ao setor privado neste setor e da elevação, recente, do próprio investimento público.

Além da blindar o investimento, o outro campo de observação está na ampla possibilidade de a taxa de juros chegar a 13% no mês de junho e, ainda assim, a inflação continuar a bater no dito “teto da meta”. Este cenário, muito possível pois a inflação no Brasil tem obedecido muito mais a induções políticas do que ao próprio sistema de formação de preços, demandará de nós ao menos uma luta econômica no próximo ano: o governo deverá impedir de toda a forma que a valorização abrupta da taxa de câmbio. Seria intolerável para a nossa indústria um dólar abaixo dos R$ 2,40. Se é difícil impedir que o Banco Central aumente a taxa SELIC, que ao menos não  intervenha no mercado de dólares.

Enfim, retomar o crescimento demanda uma recomposição de nossas forças no Congresso e na sociedade. Algum grau de ajuste fiscal deverá ocorrer no próximo ano. Neste cenário, retomar o crescimento em 2015 será muito difícil, restando no horizonte a necessidade de blindar, com todas as forças, o investimento privado em infraestruturas e uma taxa de câmbio minimante suportável à nossa indústria.

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* Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ). Membro do Comitê Central do PCdoB