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    Comunicação

    Luar do Sertão

    Canção                Ao jornalista Assis Chateaubriand Oh, que saudade do luar da minha terra, lá na serra, branquejando fôlhas secas pelo chão! Este luar, cá da cidade, tão escuro, não tem aquela saudade do luar lá no sertão. Não há, ó gente, oh, não, luar como esse do sertão. Se a lua nasce por detrás da […]

    POR: Catulo da Paixão Cearense

    3 min de leitura

    Canção               

    Ao jornalista Assis Chateaubriand

    Oh, que saudade
    do luar da minha terra,
    lá na serra,
    branquejando fôlhas secas
    pelo chão!
    Este luar, cá da cidade,
    tão escuro,
    não tem aquela saudade
    do luar
    lá no sertão.

    Não há,
    ó gente,
    oh, não,
    luar
    como esse
    do sertão.

    Se a lua nasce
    por detrás da verde mata,
    mais parece
    um sol de prata,
    prateando
    solidão!

    E a gente pega na viola,
    que ponteia,
    e a canção
    é a lua cheia,
    a nos nascer
    do coração!

    Quando vermelha,
    no sertão,
    desponta a lua,
    dentro dalma,
    onde flutua,
    também,
    rubra,
    nasce a dor!
    E a lua sobe…
    E o sangue muda
    em claridade!…
    E a nossa dôr
    muda
    em saudade…
    branca…
    assim…
    da mesma
    cor!!!

    Ai!… Quem me dera
    que eu morresse lá na serra,
    abraçado à minha terra
    e dormindo de uma vez!
    Ser enterrado
    numa grota pequenina,
    onde, à tarde,
    a sururina (12)
    chore sua viuvez!

    Diz uma trova,
    que o sertão todo conhece,
    que, se à noite,
    o céu floresce,
    nos encanta,
    e nos deduz,
    é porque rouba dos sertões
    as flores belas
    com que faz essas estrelas
    lá do seu jardim de luz!!!

    Mas como é lindo ver,
    depois,
    por entre o mato,
    deslizar,
    calmo,
    o regato,
    transparente como um véu,
    no leito azul das suas águas,
    murmurando,
    ir, por sua vez,
    roubando
    as estrelas
    lá no céu!!!

    A gente fria
    desta terra,
    sem poesia,
    não se importa com esta lua,
    nem faz caso do luar!
    Enquanto a onça
    lá na verde capoeira,
    leva uma hora
    inteira,
    vendo a lua,
    a meditar!

    Coisa mais bela neste mundo
    não existe,
    do que ouvir
    um galo,
    triste,
    no sertão,
    se faz luar!!!
    Parece até que a alma da lua
    é que descanta,
    escondida
    na garganta
    desse galo,
    a soluçar!

    Se Deus me ouvisse
    com amor
    e caridade,
    me faria
    esta vontade,
    o ideal do coração!
    Era que a morte,
    a descantar,
    me surpreendesse,
    e eu morresse
    numa noite
    de luar,
    no meu sertão!

    E quando a lua surge
    em noites estreladas
    nessas noites enluaradas,
    em divina aparição,
    Deus faz cantar o coração
    da Natureza
    para ver toda a Beleza
    do Luar do Maranhão

    Deus lá no céu, ouvindo
    um dia,
    essa harmonia,
    a canção
    do meu sertão primaveril,
    disse aos arcanjos
    que era o Hino da Poesia,
    e também a ave-maria
    da grandeza do Brasil.

    Pois só nas noites do sertão de lua plena,
    quando a lua é uma açucena,
    é uma flôr primaveril,
    é que o Poeta, descantando
    a noite inteira,
    vê, na Lua Brasileira,
    toda a alma do Brasil.

    Luar do Sertão e outros Poemas Escolhidos – Catullo da Paixão Cearense Seleção organizada, anotada e revista por Guimarães Martins
    Editora Ediouro