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    Comunicação

    Na Sombra

    O Velho Mundo Ó mar! Deves baixar! Já subistes bastante. Nunca foi o teu fluxo assim tão abundante. Dos teus abismos, ouço, em batalhas insanas, rugirem as marés como vozes humanas. Por que essa chuva fria e esse vento de açoite que se fazem sentir no coração da noite? Por que ameaças de pôr todo […]

    POR: Victor Hugo

    O Velho Mundo

    Ó mar! Deves baixar! Já subistes bastante.
    Nunca foi o teu fluxo assim tão abundante.
    Dos teus abismos, ouço, em batalhas insanas,
    rugirem as marés como vozes humanas.
    Por que essa chuva fria e esse vento de açoite
    que se fazem sentir no coração da noite?
    Por que ameaças de pôr todo o mundo em perigo?
    Detém-te em teu limite! É tudo que te digo!
    As mais antigas leis, os velhos preconceitos
    que à ordem social só tem dado proveitos;
    os freios ancestrais: a ignorância e a miséria
    cuja sobrevivência é uma coisa tão séria;
    as estreitas prisões, os calabouços da alma
    onde falta a esperança e a revolta se acalma;
    o poder secular que os anos não consomem
    sujeitando a mulher à autoridade do homem;
    o faustoso banquete em que já foi vedada
    a participação da massa deserdada;
    toda a superstição, toda a fatalidade,
    tendo em vista ocultar a face da verdade,
    não toques nisso não que são coisas sagradas,
    Só te resta baixar as ondas revoltadas.
    Querendo proteger todo o gênero humano
    A fim de lhe evitar que lhe causassem dano,
    essas torres ergui, monumental empresa,
    que deveriam ser a eterna fortaleza.
    Porém, tu ruges sempre e cresces sem cessar.
    Que pretendes fazer? Que queres destroçar?
    Vejo tudo ceder. Tu arrastas contigo
    tanto o velho missal como o código antigo.
    Tudo se torna incerto, incompreendido e falso.
    Nas ondas a rugir lá vai o cadafalso!
    Mas não toques no rei! Meu Deus ele caiu!
    Que vai acontecer? Já o abismo se abriu
    para tragar agora o juiz e o sacerdote.
    Não há nada afinal que o teu furor esgote.
    Detém-te! Por que não? É a verdade divina
    que assim deseja, exige, impõe e determina.
    Mas que vejo, meu Deus! O Mar desobedece,
    Volta-se contra mim! Socorro! Como cresce!
    Como vejo avançar com extrema presteza!
    E invade em turbilhão a minha fortaleza!

     

    O Mar

    Eu não sou a maré como pensaste em vão,
    pois eu sou o dilúvio e sou a inundação!

     

    Edmundo Moniz – Poemas da Liberdade
    Uma Antologia Poética de Dante a Brecht
    Editora Civilização Brasileira

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