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    Comunicação

    Pela rua

    Sem qualquer esperança detenho-me diante de uma vitrina de bolsas na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, domingo, enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.  Sem qualquer esperança te espero. Na multidão que vai e vem entra e sai dos bares e cinemas surge teu rosto e some num vislumbre                           e o coração […]

    POR: Ferreira Gullar

    2 min de leitura

    Sem qualquer esperança
    detenho-me diante de uma vitrina de bolsas
    na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, domingo,
    enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro. 
    Sem qualquer esperança
    te espero.
    Na multidão que vai e vem
    entra e sai dos bares e cinemas
    surge teu rosto e some
    num vislumbre  
                            e o coração dispara.
    Te vejo no restaurante
    na fila do cinema, de azul
    diriges um automóvel, a pé
    cruzas a rua
                       miragem
    que finalmente se desintegra com a tarde acima dos edifícios
     e se esvai nas nuvens. 
    A cidade é grande
    tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só.
    Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
    talvez na rua ao lado, talvez na praia
    talvez converses num bar distante
    ou no terraço desse edifício em frente,
    talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes,
    misturada às pessoas que vejo ao longo da Avenida.
    Mas que esperança! Tenho
    uma chance em quatro milhões.
    Ah, se ao menos fosses mil
    disseminada pela cidade. 
    A noite se ergue comercial
    nas constelações da Avenida.
    Sem qualquer esperança
    continuo
    e meu coração vai repetindo teu nome
    abafado pelo barulho dos motores
             solto ao fumo da gasolina queimada.

    Toda Poesia 1950- 1980 – Ferreira Gullar
    Editora Civilização Brasileira – 2ª edição 1981