A Ideologia neoliberal saiu dos porões do conservadorismo após a crise do modo de regulação fordista, do retorno do capital financeiro aos governos dos EUA e da Inglaterra e da derrota do bloco socialista. Hayek, um dos patronos do pensamento neoliberal, e companhia não buscavam construir uma teoria capaz de iluminar as decisões dos governos. A receita indicada era baseada em um único pressuposto sem necessidade de comprovação: quanto mais livre o Mercado, mais livres os indivíduos. O Mercado não é só a melhor maneira de organizar a economia, mas também de organizar a sociedade. Ou seja, não há espaço para a ação humana. Qualquer caminho conscientemente alternativo levará a um resultado pior em termos de bem-estar coletivo. Logo, não há espaço para a Política. Como se vê, não há Ideologia mais adequada para pavimentar o caminho do domínio da finança desregulada sobre as nações.

A economia é, portanto, o campo prioritário de ação da Ideologia neoliberal. E nesta campanha eleitoral, a Presidenta Dilma resistiu exemplarmente às tentativas do mercado financeiro de impor a ela sua Agenda. Não só se manteve distante da proposta do Banco Central independente, vendida pela oposição como a panaceia, como denunciou com todas as letras a tentativa de construção de um quarto poder ao qual é vedada a participação do povo. Não só defendeu a atual política de controle da inflação, como enfatizou que a redução da meta de inflação traria desemprego. Não só reforçou a política de crédito executada dos bancos públicos, como expôs a intenção da oposição de diminuir o BNDES.

Como admitem os próprios economistas neoclássicos, o mercado financeiro liberalizado tem como uma de suas funções “disciplinar” os governos e impor a “boa” condução da política econômica. Entenda-se: não importa a escolha popular, a chantagem do capital financeiro é sempre mais poderosa. Nesta segunda pós-eleitoral, previsível como o nascer do sol, o noticiário econômico conservador no Brasil e fora dele já buscava transformar em verdade única os interesses da fração rentista dos capitalistas. O portal da Revista The Economist trás matéria intitulada “Um país dividido”1 e afirma que a Presidenta reeleita terá que incorporar as ideias para a economia de seu adversário, Aécio Neves. Enumera como mudanças indispensáveis uma menor interferência do governo nos negócios e a independência do Banco Central. O jornal Valor Econômico traz a informação de que o governo já estaria estudando a adoção de mandato fixo para o BC2, prontamente desmentido pelo ministro Guido Mantega3. Além disso, há a movimentação especulativa no mercado de capitais brasileiro, mais uma vez gerando volatilidade na taxa de câmbio.

A mesma edição do jornal Valor Econômico, no entanto, traz matéria que afirma que nos EUA “a fatia do patrimônio do país nas mãos do 0,1% das famílias mais ricas subiu de 7%, no fim dos anos 1970, para 22% em 2012”4, conforme o gráfico abaixo:

                Retirado do Jornal Valor Econômico de 27 de outubro de 2014


Em 1920, o patrimônio dos 90% mais pobres nos EUA representavam 15% do total nacional, subiu para 36% até meados dos anos 1980 e caiu desde então chegando a 23% em 2012, “o mesmo nível observado em 1940”. No país exemplo da desregulamentação financeira, o neoliberalismo conseguiu a façanha de reverter todo o ganho distributivo ocorrido no pós Segunda Guerra Mundial.

A Ideologia neoliberal ao afirmar que não é possível às sociedades construir instituições capazes de gerar um mundo mais homogêneo social e economicamente, retira de cena o instrumento mais poderoso de nossa Época, a Razão. Não é estranho que a hegemonia do capital financeiro traga resultados como o descrito acima, pois o retrocesso civilizacional é a condição de seu sucesso.

A conclusão que se segue é que a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff, e nos marcos econômicos estabelecidos por ela, coloca o Brasil, como nunca antes, na vanguarda da luta da Razão contra o mundo deixado à deriva, como quer o Neoliberalismo.

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Diogo Santos é Graduando em Economia pela UFMG e Membro da Comissão Política do PCdoB em Minas

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A Riven Country. The Economist, São Paulo, 27 de outubro de 2014. Disponível em http://www.economist.com/blogs/americasview/2014/10/brazils-presidential-election-2?zid=305&ah=417bd5664dc76da5d98af4f7a640fd8a


2 Safatle, Cláudia. Governo Estuda Mandato fixo no BC. Valor Econômico. Brasília, 27 de outubro de 2014. Disponível em: http://www.valor.com.br/eleicoes2014/3749886/governo-estuda-mandato-fixo-no-bc

3 Simão, Edna; Rodrigues, Lorenna; Marchesini, Lucas; Campos, Eduardo. Mantega: Questão da autonomia do BC é menor frente a tudo que fizemos. Valor Econômico. Brasília, 27 de outubro de 2014. Disponível em: http://www.valor.com.br/financas/3751016/mantega-questao-da-autonomia-do-bc-e-menor-frente-tudo-que-fizemos

4 Lamucci, Sergio. EUA têm maior concentração de riqueza desde os anos 20. Valor Econômico. Washingon, 27 de outubro de 2014. Disponível em: http://www.valor.com.br/internacional/3749904/eua-tem-maior-concentracao-de-riqueza-desde-os-anos-20