A recente revelação pelo ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, Snowden que a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA monitorava ilegal e inconstitu-cionalmente a privacidade de centenas de milhões de cidadãos norte-americanos, assim como, de cidadãos de outros países violando suas informações pessoais, trouxe em posição de defesa o presi-dente, Barack Obama, o qual, repete firmemente que, “estas táticas produzem frutos na guerra contra o terrorismo”. Entretanto, a pergunta formulada por muitos é: Como, exatamente, o governo Obama define o terrorismo e os terroristas?

A propósito, reportagem do jornal britânico Guardian destaca que, “nos EUA vivem cerca de dois milhões norte-americanos de origem árabe e, cerca de três milhões de norte-americanos que pro-fessam a religião muçulmana e, jamais – em momento algum – foram, oficialmente, conhecidos os critérios com base aos quais, alguém considera-se suspeito de ação terrorista ou mesmo possivel-mente, perigoso para que seja permitido seu monitoramento. Consequentemente, todos os árabes e em geral os muçulmanos poderão ser suspeitos de ação terrorista”.

Um dos mais frequentes pontos-de-vista (formulado por 66% dos norte-americanos entrevistados)a favor da ação secreta da NSA é: “Eu não tenho nada a esconder. Por que, então, ter algo a temer?” Porém, o que acontece se, apesar de não ter nada a esconder, torna-se alvo como suspeito de terrorismo? O que acontece se é homem e seu nome é Ahmed, Jihad, Anwar ou Abdullah? E se é mulher e seu nome é Fátima, Ránia, Ráisa ou Saimá? O que acontece se alguns de seus telefonemas, os quais, a NSA está monitorando com grande interesse, são feitos para pessoas suas queridas no Paquistão, no Iêmen, no Iraque, na Síria, no Irã, no Líbano ou na Palestina? E se a língua que você utiliza não o inglês, mas, árabe, urdu ou farsi, não por causa de algum código do Jihad, mas, porque é sua língua materna?”, questiona-se, Anna Lekas Miller, redatora do Guardian.

Nos últimos seis anos, o Birô Federal de Investigações (FBI) e o Departamento de Polícia de Nova Iorque (NYPD) adotam um complicadíssimo programa de monitoramento das comunicações dos cidadãos norte-americanos de religião muçulmana. Não conseguiram localizar sequer uma conspiração do terrorismo islâmico. E desde que não está bem claro até que ponto certos sucessos que apresenta de tempo em tempo o FBI são resultado do programa de monitoramento adotado, permanece inexplicável a razão de sua existência.

“É óbvio que, o atentado contra as Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001 sinalizaria uma nova época na forma de monitoramento e enfrentamento das comunidades imigratórias que vivem e trabalham nos EUA há anos. Mas, a realidade é que, a maioria destas pessoas, que são originárias de países do Grande Oriente Médio, mantém ligações com a pátria e suas pessoas queridas, algo que constitui seu direito indiscutível, sem que seja preciso serem suspeitos porque telefonam a países que os EUA consideram perigosos. Mesquitas, comunidades, organismos educacionais, empresas e, organismos que ocupam-se com temas árabes e muçulmanos encontram-se na lista dos serviços de segurança e são monitorados estreitamente pelas autoridades em um clima de suspeita em massa e inimizade”, prossegue a reportagem.

E conclui: “É certamente direito dos EUA de protegerem seu território e a segurança de seus cidadãos. A diferença consiste no fato que, os limites nos métodos com os quais fará isso deverão ser discretos e não serem abusivos. A lógica de ‘eu não tenho nada a esconder. Por que, então ter algo a temer e, pode controlar sem o meu consentimento’, recomenda concessão de direitos políticos”.

Assim a pergunta à qual o presidente dos EUA deve responder é, por qual motivo considera que justifica-se um tão intervencionista programa de monitoramento quando não existe algum específico e palpável perigo.

________

Fonte: Monitor Mercantil