Unasul deve discutir proibição de avião de Evo Morales em espaço aéreo
Brasília – A proibição ocorreu ontem (2) porque as autoridades portuguesas suspeitavam que o ex-agente norte-americano Edward Snowden estava a bordo da aeronave. A Bolívia quer explicações oficiais dos portugueses e franceses sobre a proibição.
A ministra da Comunicação da Bolívia, Amanda Dávila, confirmou que Morales estava “retido” em Viena, na Áustria. Segundo ela, a decisão dos governos de Portugal e da França caracteriza uma “ofensa grave”. Morales chegou ontem à noite ao aeroporto de Viena, procedente de Moscou (Rússia). As autoridades austríacas garantiram que Snowden não estava a bordo. O porta-voz do governo da Áustria, Alexander Schallenberg, disse que o presidente boliviano volta hoje (3) a La Paz.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Bolívia, David Choquehuanca, disse que aguarda explicações das autoridades portuguesas. “Não sabemos de onde veio essa informação mal-intencionada, essa enorme mentira. Estamos a averiguar. Portugal e a França têm de nos dar explicações”, disse o chanceler.
Choquehuanca disse que foi preparado um plano de voo alternativo, com a notificação do governo da França de proibição da aeronave sobrevoar o seu território. O chanceler confirmou que as autoridades de Portugal e da França suspeitavam de que o ex-agente estava a bordo.
Snowden é acusado de espionagem pelos Estados Unidos e está na Rússia esperando a concessão de asilo político. O ex-agente denunciou que os norte-americanos monitoravam e-mails e ligações telefônicas de cidadãos dentro e fora do país. Há ainda informações que comunicações da União Europeia também foram monitoradas. O norte-americano pediu asilo a 21 países, inclusive ao Brasil.
Repercussões
Os presidentes Ollanta Humala (Peru), Cristina Kirchner (Argentina), José Pepe Mujica (Uruguai) e Rafael Correa (Equador) prestaram solidariedade ao presidente da Bolívia, Evo Morales, que teve o avião impedido de ingressar nos espaços aéreos de Portugal, da França e da Itália.
Humala conversou com Mujica e ambos se disseram indignados com a situação. Para o presidente peruano, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que reúne 12 países da região, inclusive o Brasil, deve manifestar repúdio ao ato contra Morales. Humala avalia a hipótese de promover uma reunião extraordinária do bloco. Na rede social Twitter, Cristina Kirchner alertou sobre as “consequências legais internacionais” do incidente.
Segundo informações do Ministério das Relações Exteriores, o Brasil irá atuar em cooperação com os países da Unasul nas decisões que serão tomadas em relação ao ocorrido.
“Falei com Pepe Mujica que está indignado, com razão, é tudo muito humilhante”, disse a presidenta argentina. “Ollanta vai convocar uma reunião da Unasul”, acrescentou. “Amanhã [hoje] será um dia longo e difícil.”
O ministro das Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, definiu a proibição à aeronave de Morales como uma “tremenda ofensa” à Bolívia e Unasul. Para ele, houve risco à segurança de Morales.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, conversou hoje (3), por telefone, com o chanceler da Bolívia, David Choquehanca, e expressou o repúdio do Brasil ao incidente com o avião do presidente boliviano Evo Morales, proibido de sobrevoar o o espaço aéreo de Portugal, da França, da Itália e da Espanha na noite de ontem (2). Patriota classificou de arrogante a atitude e disse que a negativa dos países em autorizar o sobrevoo causou surpresa, por não estar de acordo práticas internacionais consagradas.
O chanceler brasileiro informou ao ministro boliviano que o Palácio do Planalto deve emitir uma nota com manifestação sobre o incidente. Choquehanca agradeceu o apoio do Brasil e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
A Bolívia já anunciou que vai denunciar Portugal, Espanha, França e Itália na Comissão dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) por terem fechado o espaço aéreo ao avião do presidente Evo Morales.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, cobrou explicações dos governos que proibiram o ingresso no espaço aéreo do avião do presidente da Bolívia, Evo Morales. Em comunicado, Insulza se disse “profundamente incomodado” e ressaltou que “nada justifica uma ação de tanto desrespeito”.
Esfarrapadas
Europeus e americanos deram ontem as mais diferentes justificativas para a retenção do avião presidencial boliviano na Europa.
Os EUA admitiram que só alertaram países sobre possíveis voos com o fugitivo Edward Snowden.
A Embaixada da França em La Paz disse que o chanceler Laurent Fabius falou com o colega David Choquehuanca e pediu “desculpas” pelo “contratempo” causado ao presidente Evo Morales. E afirmou que a autorização para sobrevoo foi confirmada “assim que as autoridades francesas souberam” que tal aeronave era a de Morales.
O governo português disse ter cancelado a autorização para pouso no país “por considerações técnicas”, sem dar detalhes, que avisou as autoridades bolivianas com antecedência e as responsabilizou por não ter alterado o plano de voo. Já o premiê espanhol, Mariano Rajoy, foi mais evasivo. “O importante é que Snowden não estava no avião”, afirmou.