A Agência de Segurança Nacional dos EUA [orig. National Security Agency (NSA)] tenta agora outra campanha de propaganda superturbinada, pela imprensa e pela internet comercial. A maior agência de comunicações e de inteligência para tempos de ciberguerra do planeta insiste agora que sua infraestrutura de vigilância, gigantesca, descomunal, sem precedentes, existiria apenas para proteger os EUA contra ataques de terroristas e agentes ‘estrangeiros’ de inteligência.

De fato, a NSA existe exclusivamente para coletar informações, com vistas a proteger os interesses do dinheiro da aristocracia que governa os EUA.

Depois que o mundo tomou conhecimento da existência dessa rede de vigilância global massiva organizada na e a partir da Agência de Segurança Nacional dos EUA, graças às revelações feitas por Edward Snowden – ex-funcionário da CIA e depois empregado de empresa privada contratada para ‘terceirizar’ os serviços da Agência de Segurança Nacional dos EUA –, a elite no poder em Washington rapidamente se mobilizou. E passou a proclamar em uníssono, em todos os grandes jornais comerciais e redes comerciais de televisão, que Snowden seria “traidor”, e a NSA seria virtuosa guardiã da segurança nacional dos EUA.

O presidente Barack Obama pôs-se logo ombro-a-ombro, aliado ao presidente da Câmara de Deputados, o Republicano John Boehner; à líder da minoria, a Democrata Nancy Pelosi; à presidente da Comissão de Inteligência do Senado, a Democrata Dianne Feinstein; ao presidente da Comissão de Inteligência da Câmara de Deputados, o Republicano e ex-agente do FBI Mike Rogers; e a John Kerry, secretário de Estado, e, em uníssono, puseram-se todos a exigir que Snowden seja entregue aos EUA… para enfrentar sistema judiciário que está longe de merecer qualquer confiança de seja lá quem for.

Democratas e Republicanos puseram-se a gritar os mais desatinados desaforos contra todos os países que apareceram no percurso de Snowden como refugiado político: contra a Região Administrativa Especial de Hong Kong, a República Popular da China e o Equador.

Hong Kong respondeu que o pedido dos EUA, que ‘exigia’ a extradição de Snowden, não era claro. E, na mesma resposta, exigiu que os EUA explicassem a espionagem e a invasão ilegal, pela Agência de Segurança Nacional dos EUA… contra redes de telecomunicações e de computadores em Hong Kong!

O governo Obama retaliou contra a China, que se recusou a violar as regras de “um país, dois sistemas” e não forçou Hong Kong a entregar Snowden aos EUA. Obama também condenou a Rússia por não deportar Snowden, de Moscou para os EUA.

A arrogância, a hipocrisia de Obama, apareceram expostas aos olhos do mundo, quando seu governo aplicou a “Lei Magnitsky” à Rússia. Chega a ser patético: a lei proíbe a entrada nos EUA de ex-funcionários do governo russo, porque a Rússia praticaria “violações dos direitos humanos”.

Em seguida, os EUA ameaçaram com “repercussões severas” o Equador, que forneceu documento oficial de refugiado, com o qual Snowden pode viajar internacionalmente, depois que Kerry revogou seu passaporte norte-americano. Quanto mais Washington arrancava as vestes, sapateava e berrava de fúria, mais o resto do mundo via o ridículo.

É o que acontece, se uma autoproclamada superpotência, proprietária do maior sistema de vigilância, controle e espionagem do mundo, põe-se a berrar palavrões e a rogar pragas, porque seu suposto inviolável programa de espionagem e coleta ilegal de informações, de posse das quais a tal superpotência pode chantagear e intimidar líderes políticos, foi exposto aos olhos do mundo, e por um único homem.

Mao Tse Tung da China referiu-se aos EUA, certa vez, como “tigre de papel”. Obama acaba de mostrar ao mundo que os EUA já não passam de resto de papel sem sentido, que vendem ao mundo como se fosse Constituição democrática. Já não são tigre.

Quando Obama defendia o poder de espionar e vigiar da Agência de Segurança Nacional, ninguém jamais o questionou sobre a participação do diretor-geral daquela Agência, general Keith Alexander, em cinco reuniões do grupo que comanda o dinheiro do mundo, o chamado “Grupo de Bilderberg”.

Chega a ser cômico. Alexander vive a repetir que está(ria) protegendo o povo dos EUA contra número sempre variável de ameaças terroristas. Na verdade, Alexander é o que o general Smedley Butler da marinha dos EUA chamou uma vez de “apontador [orig. ‘finger-man’] a serviço do capitalismo”: alguém que identifica e aponta os inimigos da elite no poder. Butler – que comandava a Marinha dos EUA quando invadiu o México, o Haiti, Cuba, Nicarágua, República Dominicana e China –, lamentou ter agido como “corneteiro pró-capitalismo”.[1] Hoje, o mesmo Alexander e seus apoiadores no governo Obama já são “corneteiros pró-fascismo.”

Que a Agência de Segurança Nacional dos EUA e sua parceira britânica, Quartel-general das Comunicações de Governo [orig. Government Communications Headquarters (GCHQ) operam à margem de qualquer lei ou regulamentação internacional está fartamente comprovado pelo material já vazado. Por exemplo, pela evidência de que a agência britânica, a serviço da agência norte-americana, mantém escutas clandestinas no cabo transatlântico TAT-14 que liga Blaabjerg, Dinamarca, a Norden, East Friesland; a Alemanha a Katwijk; Países Baixos a St. Valery-en-Caux, França, a Bude, Cornualha, Inglaterra, a Tuckerton, New Jersey.

Em Bude, a GCHQ e a NSA, clandestinamente e em dupla, escutam o mesmo cabo, para recolher dados de internet e de tráfego de telefones que são então armazenados no sistema de metadados PRISM, da Agência de Segurança Nacional dos EUA, grande parte dos quais guardados no gigantesco centro de armazenamento de dados da NSA em Bluffdale, Utah. Essa operação clandestina de escuta e captura de dados em Bude leva o nome de “Operação TEMPORA”. Snowden divulgou e distribuiu todas as informações que comprovam que essa operação existe e opera.

A Grã-Bretanha sempre foi vista como um “cavalo de Troia” da inteligência dos EUA enfiado na União Europeia. A operação de escuta clandestina em Bude chama a atenção para o fato de que a aliança de inteligência EUA-Grã-Bretanha desconsidera todas as demais alianças e tratados vigentes, inclusive o Tratado de Maastricht e o Tratado da Aliança do Atlântico Norte, OTAN. EUA e Grã-Bretanha espionam, em dupla, os seus próprios ‘aliados’ alemães, franceses, holandeses e dinamarqueses.

Apesar do que agora se sabe, continuaram vigentes os acordos bilaterais de inteligência pelos quais a Agência de Segurança Nacional dos EUA recebia sinais interceptados pelas agências de inteligência de Alemanha, Dinamarca, Países Baixos e, em menos escala, da França, os chamados “Terceiros”. O que se constata é que a espionagem goza de prioridade absoluta, acima de qualquer acordo multinacional ou bilateral, sejam acordos militares, econômicos ou de qualquer natureza.

William Hague, secretário de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, menino-de-recados das elites globais, defendeu a aliança NSA-GCHQ quando discursou na Califórnia, na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan. No mesmo momento, o ministro da Justiça do estado de Hesse, na Alemanha, dizia a Handelsblatt que “a Grã-Bretanha é uma sanguessuga de dados, operando dentro da União Europeia”. Para a ministra de Justiça da Alemanha, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, a operação TEMPORA “é um pesadelo hollywoodiano”.

Há muito tempo Hollywood produz filmes sobre mundos distópicos, onde forças obscuras assumem o controle sobre a vida privada dos habitantes do planeta. Hoje, a ficção científica já é fato, depois de eventos repetidos de divulgação de informações sobre o alcance descomunal da Agência Nacional de Segurança dos EUA, agência planetária de vigilância.

Richard Clarke, o antigo “czar” do contraterrorismo de Bill Clinton e de George W. Bush, comentou que o terrível acidente de carro no qual morreu o jornalista Michael Hastings em Los Angeles pode ter sido resultado de o computador de seu [carro] Mercedes ter sido invadido; o carro teria sido descontroladamente acelerado, o que teria levado à colisão e à morte do motorista. Hastings, dentre outras investigações, já se aproximara do sistema de vigilância da Agência de Segurança Nacional que Snowden desmascarou, e distribuiu um e-mail, pouco antes de morrer, em que dizia que estava sendo seguido pelo FBI. Embora Hastings tenha morrido em rua próxima de Hollywood, nada há, aqui, de ficcional. Foi ação assustadoramente real. A Agência de Segurança Nacional dos EUA já é a agência sinistra, obscura, ultra secreta mostrada em incontáveis filmes, de 1984 e V de Vingança, a O mundo em 2022 [orig. Soylent Green] e Fahrenheit 451.

Russ Tice, ex-operador e analista de sinais de satélite da Agência de Segurança Nacional dos EUA está na imprensa e na internet, declarando que a NSA-EUA e seus parceiros de aliança jamais pouparan ninguém, na sua rede de vigilância e controle. Em 2004, a vigilância focou-se num senador recentemente eleito por Illinois, negro, de nome Barack Obama. Não há limites nem reais nem imaginários para o tipo de informação pessoal privada que a Agência Nacional de Segurança dos EUA possui hoje, para chantagear o presidente Obama – e Obama jamais desobedeceu nem a mais ínfima das regras e ordens emitidas pela infraestrutura de inteligência dos EUA. Obama, hoje, crê firmemente que controla a alucinada rede de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos EUA. De fato, não controla coisa alguma.
Em janeiro de 2017, quando deixar a presidência, ele, como antes dele os presidentes George W. Bush, Bill Clinton, George H. W. Bush, Ronald Reagan, Jimmy Carter, Gerald Ford, Richard Nixon e Lyndon Johnson serão alvos da vigilância ativa da Agência de Segurança Nacional, embora sejam membros da fraternidade ultra seleta dos ex-presidentes dos EUA.

A elite que controla o Panopticon de vigilância e controle da Agência de Segurança Nacional dos EUA é a elite do dinheiro: controla também o fechadíssimo clube dos ex-presidentes.

A NSA espiona e monitora todos os membros eleitos do Congresso dos EUA, todos os governadores dos 50 estados e territórios, cada celebridade, cada um que use aparelho de telefone celular ou computador ou qualquer rede em qualquer parte do mundo, das populosas ruas de Hong Kong e Cairo, à remota cida de Kyzyl na República Tuva da Sibéria e em Grytviken na ilha antártica de South Georgia…

Ainda que os cidadãos do mundo decidissem levantar-se para destruir esse amaldiçoado sistema de supervigilância, não saberiam onde começar. A vigilância está em toda parte. Só os donos do sistema estão bem escondidos, longe dos sensores que tudo ouvem e tudo veem, oniscientes.

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[1] “I was a racketeer for capitalism”, Maj. General Smedley Butler, 1935, em http://scanlyze.wordpress.com/2007/01/23/i-was-a-racketeer-for-capitalism-maj-general-smedley-butler-usmc-1935/ [NTs]

Publicado em 28/6/2013, Strategic Culture
http://www.strategic-culture.org/news/2013/06/28/nsa-all-about-preserving-power-aristocracy-dystopian-world.html

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu