A crise na Europa e as incertezas no mundo
Com o aumento do risco de uma convulsão no sistema bancário e suas consequências na economia e nas sociedades, as novas decisões da comunidade têm sido de dar um pouco de tempo aos países para que resolvam seus problemas fiscais, reduzindo seus déficits sem aumentar ainda mais a crise social que atingiu níveis críticos na maioria dos países.
Nos 17 países que utilizam a mesma moeda, começa a surgir o sentimento de que eles precisam encontrar o caminho para uma união muito mais sólida, que permita introduzir mecanismos que ajudem a funcionalidade do sistema, como, por exemplo, ter um banco central no papel de coordenador de todos os bancos centrais, com a capacidade de emprestador de última instância e autoridade reguladora capaz de produzir ajustes na velocidade que seja requerida.
O reconhecimento dessas necessidades tem contribuído para uma melhora aparente da situação, mas a Europa tem de caminhar para se organizar como federação, tal como a americana ou a brasileira. Quer dizer, a França, a Espanha, a Itália etc. serão Estados de uma federação ou confederação que tenha um organismo fiscal para o controle de todo o sistema. Sei que é muito difícil, mas será muito menos custoso do que as guerras que têm assolado o continente europeu nos últimos mil anos.
Toda essa discussão interessa ao Brasil porque a continuada ameaça de que poderemos ter efetivamente na Eurolândia uma crise bancária que terminaria em uma depressão de proporções como a de 1929 (e poria os povos do continente no rumo de mais uma guerra) é uma nuvem que está cobrindo o mundo inteiro, obrigado a viver a incerteza desse processo. São os Estados Unidos e a China crescendo menos, é o Brasil que desacelerou o crescimento, embora continue crescendo, são os empresários inseguros, não sabendo mais qual é o futuro dos negócios, são os trabalhadores com dúvidas se vão continuar empregados. E ainda são os banqueiros em pânico porque não sabem quais seriam as consequências de uma crise bancária verdadeiramente profunda em toda a Europa.
Há, entretanto, um entendimento cada vez mais amplo de como essas ameaças devem ser enfrentadas. “Todos sabemos o que temos de fazer”, sentenciou Angela Merkel, escondendo o ceticismo, “só não sabemos como vamos ganhar as eleições para fazê-lo”… Ironias à parte, minha percepção é que a Europa vai levar alguns anos para se libertar da enorme encrenca financeira em que se meteu, mas a nuvem, propriamente, vai se dissipar um pouco mais rapidamente.
Essa nuvem produziu o pessimismo que tomou conta do mundo. O nevoeiro atingiu o Brasil: o comportamento dos empresários e de uma parte da sociedade acaba sendo condicionado pelo fenômeno global.
O nível de pessimismo que se reflete na mídia não tem justificativa, na realidade, em relação ao Brasil. Pelo menos na minha leitura dos sempre confiáveis “indicadores antecedentes” organizados pela insuspeita Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Eles apontam para a diminuição da atividade econômica nas principais economias desenvolvidas, incluídos Estados Unidos, China, Rússia e Índia (dentre os 34 maiores países), com “crescimento declinante” nos próximos meses. No Brasil, no entanto, não haverá declínio. Pelo contrário, a economia vai continuar a crescer!
Os indicadores antecedentes da OCDE são concebidos para fornecer antecipadamente indícios de pontos de inflexão entre a expansão e a desaceleração do nível de atividade econômica. A principal exceção à tendência declinante geral foi o Brasil, que teve seu indicador antecedente elevado de 99,0 pontos de abril para 99,2 pontos em maio, o que, segundo a OCDE, é sinal de que o crescimento do País vai se acelerar.
_____________
Fonte: CartaCapital