Alguns dias atrás, li um estudo que parecia competente na “American Economic Review”, cujo argumento central era o de que o desemprego elevado dos EUA tinha raízes estruturais profundas e não era suscetível a soluções rápidas.

O diagnóstico era que a economia dos EUA simplesmente não é flexível o bastante para enfrentar rápidas mudanças tecnológicas. O estudo criticava programas como o seguro-desemprego, visto como prejudicial aos trabalhadores porque reduz o incentivo para que se ajustem às novas realidades do mercado.

Bem, esqueci de contar uma coisa: o estudo é de 1939. Poucos meses depois, a Segunda Guerra irrompeu, e os EUA -ainda que não estivessem em guerra- deram início a um grande reforço das Forças Armadas, o que produziu estímulo fiscal em escala comensurável com a profundidade da crise.

Nos dois anos posteriores à publicação daquele artigo, os empregos nos EUA cresceram 20%.

Agora estamos de novo em depressão, não tão grave quanto aquela, mas ainda assim grave. E, uma vez mais, figuras que parecem bem informadas insistem em que nossos problemas são “estruturais”, que não podem ser corrigidos rapidamente. Precisamos nos concentrar no longo prazo, dizem elas.

O que significa dizer que temos um problema estrutural? A versão usual envolve a alegação de que os trabalhadores estão presos a setores incorretos ou não dispõem das capacitações em demanda.

Ao contrário do que sugerem essas histórias, as perdas de emprego não se concentraram em setores que supostamente se incharam demais nos anos da bolha. Praticamente todos os setores perderam, assim como ocorreu nos anos 30.

Tudo aponta que estamos sofrendo de falta generalizada de demanda -escassez que deveria ser curada com rapidez por meio de programas governamentais para acelerar os gastos. Alegar que nossos problemas são estruturais dá uma desculpa para nada fazer para aliviar a situação dos desempregados.

Os estruturalistas dizem que não estão procurando desculpas, é claro. Dizem que não deveríamos nos concentrar em soluções rápidas, mas no longo prazo -ainda que em geral seja difícil determinar qual deveria ser a política de longo prazo.

De qualquer forma, John Maynard Keynes já tinha sacado qual é a dessas pessoas, mais de 80 anos atrás: “O longo prazo de que eles falam”, escreveu, “é um guia enganoso para os assuntos atuais. No longo prazo todos estaremos mortos”.

Eu só acrescentaria que inventar razões para nada fazer não é apenas cruel e perdulário, mas representa má política para o longo prazo. Há provas cada vez mais fortes de que os efeitos do desemprego elevado lançarão uma sombra que obscurecerá a economia por anos.

A cada vez que começarem a resmungar sobre o fardo dos deficit para as futuras gerações, lembre-se de que o maior problema dos jovens hoje não é a carga futura da dívida.

O problema real é a falta de empregos. Por isso, essa conversa sobre desemprego não gira em torno de enfrentar nossos problemas reais, mas de evitá-los e escolher a saída fácil e inútil. É hora de mudar.

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Fonte: Folha de S. Paulo