Resistência, Conquistas e os Desafios da Luta por Direitos – Falta cerca de um mês para o Carnaval carioca, e milhões de pessoas vão celebrar a vida de uma pessoa trans na Sapucaí. Xica Manicongo, primeira travesti reconhecida no Brasil, será o enredo da Paraíso do Tuiuti. Nas alas, eu e outras lideranças trans da política e das artes vamos encarnar seu espírito na folia: as deputadas Erika Hilton e Duda Salabert, as ativistas Jovanna Baby, Bruna Benevides e a pioneira Eloína dos Leopardos. Celebraremos nossos corpos livres e felizes.
Celebrar é também refletir. O Brasil lidera o ranking de assassinatos de pessoas trans. Desses, 78% abandonam a escola devido à transfobia institucional. A expectativa de vida segue em torno dos 30 anos. Além disso, percebemos que 75% das vítimas são negras. Mesmo sem dados governamentais precisos, esses números escancaram nossa realidade.
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O Dia da Visibilidade Trans tem um caráter político e reivindicatório, mas também celebramos avanços na cultura e na política, que, apesar das limitações, impulsionam diretrizes e políticas públicas. A representatividade ainda é baixa, mas houve conquistas nos últimos anos. É também um dia de orgulho por expressar uma identidade que desafia o sistema cis-heteronormativo patriarcal, por continuar resistindo, por toda conquista individual que reverbera no coletivo. Exemplos como Liniker e Karla Sofía Gascón demonstram essa força e retroalimentam a luta.
Como o Dia da Visibilidade Trans nasceu no Brasil? Entenda a importância da data e a luta por direitos na TV Grabois.
Enquanto isso, a extrema-direita instrumentaliza pautas de costumes para atacar minorias e reforçar desigualdades. Donald Trump e seus aliados promovem discursos retrógrados, tentando apagar nossas existências.Não à toa, o presidente da maior potência imperialista reafirmou, em seu discurso de posse, uma visão binarista e biologizante da identidade de gênero.
Diante desse cenário, seguimos resistindo: vivas, fortes e articuladas. Fortalecemos nossos movimentos sociais e reafirmamos a politização de nossas vidas.
Dani Balbi é professora, roteirista, filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e primeira mulher trans deputada estadual no Rio de Janeiro.
Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.