Estive em Brasília, na terça-feira (3), com promotoras legais e populares e outras lideranças do movimento de mulheres, no Ministério do Meio Ambiente, para dar um abraço solidário à ministra Marina Silva. A ação foi uma das várias manifestações de apoio diante do revoltante ataque misógino que ela sofreu no Senado.
Tornam-se cada vez mais frequentes as agressões a parlamentares e lideranças que se destacam no cenário político, como os ataques à deputada Jandira Feghali e à deputada Enfermeira Rejane, impedida de entrar no plenário da Câmara.
A violência política de gênero expressa a reação conservadora ao papel que as mulheres vêm desempenhando na sociedade. Tentam, com isso, empurrar o protagonismo feminino de volta ao espaço privado.
Como afirmou o relatório do Ministério das Mulheres sobre essa forma de violência:
“O discurso de ódio contra as mulheres, largamente disseminado no Brasil e no mundo, vem de um processo histórico baseado na desigualdade de gênero, raça e etnia, que subalterniza, desvaloriza e oprime mulheres, em toda sua diversidade e pluralidade, cotidianamente. Pilar estrutural dessa desigualdade, o patriarcado mantém e reforça a lógica de dominação e exploração histórica dos homens diante das mulheres, mediante práticas misóginas.”
(Misoginia é definida como ódio e desprezo pelas mulheres.)

Ana Rocha e Marina Silva durante ato de solidariedade à ministra com a participação promotoras legais e populares e lideranças do movimento de mulheres. Foto: Arquivo Pessoal de Ana Rocha
Concordo quando o relatório afirma que a atual ofensiva extremista ao campo dos direitos humanos — em especial aos direitos das mulheres — visa frear a ascensão da agenda feminista e antirracista no país. E mais: o crescimento dos casos de violência política no Brasil explicita um grave problema na democracia, na medida em que tenta restringir a entrada e permanência das mulheres nos espaços de poder e decisão. Além disso, amplia a sensação de insegurança e afeta a saúde mental das vítimas.
Por isso, o acolhimento às vítimas, a solidariedade e a mobilização devem fazer parte do enfrentamento dessa realidade. É preciso pactuar redes que possam registrar, atender, apoiar e prevenir todas as situações de violência política, dando proteção e segurança às lideranças femininas.
A defesa da democracia é essencial para combater esse tipo de ataque, que se tornou um instrumento dos setores conservadores para frear o avanço progressista do país.
Torna-se urgente realizar campanhas que valorizem o papel das mulheres na política. É necessário promover ações de formação nas escolas, combatendo os estereótipos de gênero e reafirmando o direito das mulheres de ocuparem os espaços que quiserem.
Por outro lado, não devemos subestimar que boa parte da violência política também ocorre no ambiente virtual, onde se perpetuam ataques que visam desestabilizar e silenciar.
Enfrentar a violência política contra as mulheres é conter o avanço conservador, preservar a democracia, consolidar as conquistas históricas das brasileiras e garantir a liberdade, a vida e a felicidade das mulheres.
Ana Rocha é jornalista, psicóloga, mestra em Serviço Social e integrante da Coordenação do Fórum Nacional sobre Emancipação das Mulheres do PCdoB.