Faleceu nesta sexta-feira (5) o militante comunista baiano Péricles de Souza, referência histórica do movimento comunista brasileiro.
“Sobre Péricles, um registro é muito importante: modéstia. Modéstia é a ausência de vaidade, vaidade não é coisa para comunistas. Os comunistas são as pessoas absolutamente extraordinárias, mas como todas as outras. Em Péricles, a modéstia fala muito de sua força de caráter, de compromisso e de luta. Ele nos dá essa lição de vida”, afirma Walter Sorrentino, presidente da Fundação Maurício Grabois (FMG).
O Comitê Estadual do Partido Comunista do Brasil – PCdoB Bahia, do qual Péricles era presidente de honra, recebeu a notícia do falecimento “com imensa dor e profundo respeito” e ressalta que Péricles foi “referência histórica do movimento comunista brasileiro, homem de firmeza política, ternura humana e militante exemplar da causa do socialismo e da liberdade”.
“Sua trajetória é testemunho de uma vida inteira a serviço do povo. Péricles de Souza jamais se rendeu diante das adversidades, jamais abriu mão da convicção de que um Brasil socialista é possível, e soube combinar firmeza de princípios com generosidade humana. Seu legado seguirá vivo na história do PCdoB, da esquerda brasileira e do povo baiano, inspirando presentes e futuras gerações”, destaca a nota do PCdoB-Bahia.
“O PCdoB Bahia presta sua mais profunda homenagem a este militante imprescindível, que dedicou todos os seus dias à luta por liberdade, justiça social e dignidade. À família, aos amigos e companheiros de jornada, expressamos nossa solidariedade fraterna. Péricles de Souza seguirá entre nós, em cada militante que erguer a bandeira da esperança, em cada luta do povo brasileiro, em cada sonho de transformação que insiste em florescer”, conclui o texto.
O deputado estadual da Bahia Fabrício Falcão (PCdoB) destacou que Péricles de Souza foi fundamental na construção do partido no estado e “incansável defensor da democracia e da justiça social”.
“Sua trajetória política e seu compromisso com os trabalhadores, as minorias e a liberdade ficarão para sempre na memória. Sua partida deixa uma lacuna, mas o legado que ele construiu continua vivo na luta diária por um Brasil melhor”, expressou.
Trajetória
Filho de uma família de Vitória da Conquista que se mudou para Salvador durante o segundo governo de Getúlio Vargas, Péricles teve o início do seu despertar político com o suicídio do então presidente, em 24 de agosto de 1954. Iniciou sua atuação no movimento estudantil e, no começo da década de 1960 esteve entre os fundadores da Ação Popular (AP).
Péricles estava entre os estudantes que foram para Feira de Santana, a segunda maior cidade do estado, organizar a resistência ao golpe de 1964 contra o presidente João Goulart.
Após um enfrentamento dos estudantes com o ministro das Relações Exteriores da ditadura, Juraci Magalhães, Péricles foi para a clandestinidade e se instalou no Bico do Papagaio, região Sul do estado do Maranhão, para organizar o que seria um ponto da guerra popular contra a ditadura. A AP transitava para a incorporação ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), num momento em que estava em preparação, no Sul do Pará, a Guerrilha do Araguaia.
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Com a incorporação, em 1973, Péricles foi para o Comitê Central e se mudou para Sergipe, de onde comandou a reorganização do PCdoB no Nordeste. Retornou para Salvador após a anistia de 1979 e assumiu a direção do PCdoB no estado.
Como membro do Comitê Central do PCdoB, participou dos principais eventos que levaram o país a transitar para a redemocratização, elaborar a Constituição de 1988, enfrentar o neoliberalismo dos governos Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso e eleger e reeleger os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
A trajetória do militante é abordada por Osvaldo Bertolino no livro Péricles de Souza – uma vida uma luta (Anita Garibaldi, 2024).