O evento marcou o lançamento do livro “Desenvolvimento nacional e desigualdades regionais”, resultante do Ciclo de Debates promovido pela Fundação Maurício Grabois, em parceria com a UFC, o BNB e o Instituto da Cidade. O representante da Fundação no Ceará, Benedito Bizerril, fez uma saudação inicial relembrando a importância do Ciclo de Debates, realizado em setembro de 2009, que debateu uma série de assuntos relacionados à questão nacional e as desigualdades regionais. Benedito reiterou a importância de o Brasil garantir soberania, solucionando problemas nos mais diversos aspectos, dentre eles os sociais e econômicos.

Durante a exposição, o professor Márcio Pochmann fez várias reflexões sobre os processos históricos de desenvolvimento do país. Pochmann chamou atenção para o fato de que, apesar da realidade atual se posicionar dentro de uma dinâmica mais progressista, o Brasil ainda não pode ser qualificado como um país desenvolvido. “Nós ainda seguimos como subdesenvolvidos, mas temos grandes possibilidades de superação dessa questão”, considerou

Novo mundo

Segundo Pochmann, o Brasil vive um momento singular de participar do processo de evolução capitalista, explicando que até o século XVIII o mundo girava em torno da Ásia. Com a Revolução Industrial o eixo se expandiu para o Ocidente, instalando-se na Europa. “Estamos retornando essa concentração para o eixo asiático. Cerca de 40% da dívida dos Estados Unidos está nas mãos da China”, afirmou.

Pochmann também destacou que esse “novo mundo” não diz respeito somente à decadência dos Estados Unidos, mas também tem implicâncias diretas com relação a algumas dificuldades da América Latina. “Problemas como a desvalorização da moeda, a incapacidade de concorrência e a pressão inflacionária são exemplos que ocasionam esse redirecionamento”.

Ciclo de produção brasileiro

De acordo com Márcio Pochmann, o Brasil viveu três ciclos produtivos, que iniciou ainda no século XIX, com o desenvolvimento agrário, destacado pela inserção do país na economia mundial com a exportação do café. “Esse período de exploração do café estimulou as jornadas de trabalho e a inserção do Brasil nos fluxos de comércio internacional. Foi um período importante para o país”, destacou

Outro aspecto abordado pelo professor foram os problemas emergentes ocasionados pelo ciclo de produção brasileiro. “É preciso resolver algumas questões como a mobilidade social, as reformas essenciais para o crescimento do país. Para se ter uma ideia, os que criticam a reforma tributária são os que menos pagam juros”, criticou.

Questões centrais

Márcio Pochmann citou outros pontos que precisam ser discutidos e dependem de medidas concretas para o desenvolvimento do país. O presidente do Ipea alertou sobre a redução do crescimento demográfico como um ponto que pode tornar-se um problema no futuro caso não seja tratado com devida atenção. “Podemos visualizar um esvaziamento nas nossas escolas. O processo de envelhecimento tem mais visibilidade e uma taxa de fecundidade bem menor. Corremos o risco de entrar em uma fase de cidades ‘fantasmas’ e isso já está acontecendo”, alertou

Pochmann também elencou que a mudança na estrutura familiar e a transição do trabalho material para o imaterial são questões na contemporaneidade que forjam uma nova classe trabalhadora. Ele considera as novas tecnologias como responsáveis por esse processo na dinâmica do trabalho atual. “Existe um novo perfil do trabalhador: aquele que recebe o material de trabalho e desempenha a função em casa. A carga horária de trabalho está ficando mais extensa também por conta dessa modernidade e é por isso que os sindicatos devem estudar essa realidade para responder os anseios da classe trabalhadora”, analisou.

Márcio Pochman reforçou a necessidade das organizações e movimento sociais em compreender que todo o processo de expansão está em disputa e essas saídas são políticas. “Os movimentos precisam se organizar nesse processo. Claro que com os governos recentes existe uma maior intervenção social e é preciso compreender que essas mudanças para um salto civilizacional que corresponda as demandas populares devem ser travadas em âmbito político. Hoje existe um grande espaço para isso”, finalizou.

Desenvolvimento regional

Em declarações à imprensa cearense, Márcio Pochmann falou também sobre a necessidade de combater as desigualdades regionais. Para tantao ele considera que é preciso que o plano nacional de desenvolvimento, tenha um olhar diferenciado para as regiões mais pobres do Brasil, sobretudo a nordestina, . Esse é um dos principais desafios a serem enfrentados pelo País nos próximos anos

Segundo o presidente do Ipea, por muitos se acreditou no modelo paulista de desenvolvimento, porém, na visão dele, esse parâmetro apresentou falhas, especialmente, no que diz respeito aos custos advindos com a intensa aglomeração em São Paulo. "Por muito tempo se acreditou que a saída seria copiar a trajetória paulista. Podemos pegar essa experiência para fazer uma análise dos erros e não repetir os insucessos dela, mas o plano nacional de desenvolvimento precisa de um olhar mais adequado às especificidades de cada região", afirmou Márcio Pochmann.

Migração inversa

Ele disse, ainda, que, nesta última década, em virtude de políticas como o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, o Ipea observou, em seus diversos estudos, uma migração inversa das famílias nordestinas instaladas no eixo Sul/Sudeste no retorno para a sua região de origem.

Segundo Pochmann, esse fenômeno foi possível graças às diferentes condições do Nordeste quando comparadas com outros tempos. Para isso continuar, contou ele, é preciso investir em tecnologia, com a instalação de universidades e escolas técnicas no interior. "O Brasil fez as bases para combater as desigualdades regionais. Isso permitiu que a partir de agora o País tenha melhores condições de enfrentar esse problema", avaliou Pochmann, ressaltando que a importância da região nordestina. "O Nordeste não é só pobreza, ela também é riqueza. Há um grande potencial de expansão. O Brasil não será um país desenvolvido se o Nordeste também não for", pontuou.

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De Fortaleza, Ivina Carla (estagiária do Portal Vermelho), com informações do Diário do Nordeste