Camaradas

A discussão sobre o livro do camarada Alexándrov não se limita ao quadro dos temas em discussão. Ele se desenvolve em todas as direções, levantando também as questões mais gerais sobre a situação da frente filosófica. A discussão se transforma, deste modo, numa espécie de conferência de toda a União sobre a questão das condições dos trabalhos científicos filosóficos. Isto, sem dúvida, é perfeitamente natural e de acordo com as leis do desenvolvimento do pensamento. A elaboração do livro de história da filosofia, o primeiro livro marxista dessa ordem, representa tarefa de imensa significação científica e política. Não é casual, pois a atenção dada a essa questão pelo ComitêCentral, organizando a presente discussão.

Elaborar um bom livro de história da filosofia significa fornecer à nossa intelectualidade, aos nossos quadros, à nossa mocidade, novas e poderosas armas ideológicas e ao mesmo tempo dar grande passo para a frente na estrada do desenvolvimento da filosofia marxista-leninista. É compreensível, assim; o elevado teor que se exige para o livro, tal como foi aqui reclamado. O alargamento do quadro da discussão tornou-se, por isso mesmo, útil. Seus resultados serão, sem dúvida, muito grandes, tanto mais que aqui foram tratadas não somente as questões ligadas com a apreciação sobre o livro, mas também os mais vastos problemas dos trabalhos filosóficos.

Eu me permito tratar dos dois temas. Estou longe de pensar em resumir as calorosas discussões; isto é tarefa que cabe ao autor do livro, de modo que inicio a discussão pela ordem.

Antes de mais nada, peço desculpas pelo fato de recorrer ao emprego de citações, embora o camarada Baskin, de todas as maneiras possíveis, advertisse a todos nós de que deveríamos evitá-las. Certamente, a ele, velho lobo do mar da filosofia, é fácil sulcar os marés e oceanos da filosofia sem os instrumentos de navegação, navegando “às cegas”, como dizem os marinheiros. Que me seja concedido, porém, como grumete filosófico, que pela primeira vez ensaia passos no vacilante convés do navio filosófico, durante violenta tempestade, empregar as citações, à guisa de bússola, a fim de me permitir não perder a rota certa.

Passemos ao exame do livro:

Falhas do Livro do Camarada Alexándrov

Penso que temos o direito de exigir de um livro de história da filosofia a observância às se guines condições, que no meu modo de ver, são elementares.

Primeiro — É preciso que no livro esteja exatamente definido o objetivo da história da filosofia como ciência.

Segundo. — Que o livro seja científico, isto é, baseado nos fundamentos das conquistas contemporâneas do materialismo dialético e histórico.

Terceiro — É indispensável para que a exposição da história da filosofia não seja escolástica, mas atuante e ao mesmo tempo criadora, que esteja ligada diretamente com os problemas contemporâneos e que seja conduzida de modo a projetar as perspectivas do futuro desenvolvimento da filosofia.

Quarto — Que o material citado, baseado sobre fatos, seja completamente controlado e de boa qualidade.

Quinto — Que o estilo da exposição seja claro, exato e convincente.

Suponho que essas exigências acima apresentadas para o livro, não foram satisfeitas.

Antes de tudo, sobre o objetivo da ciência.

O camarada Kivíenko salientou que o livro do camarada Alexándrov não dá uma idéia clara sobre o objetivo da ciência e que, embora no livro se encontre grande quantidade de definições, tem particular significação o fato de nele não existir uma definição completa, generalizadora, porquanto cada definição particular esclarece somente aspectos parciais da questão. Esta observação é completamente correta. O objetivo da história da filosofia como ciência não é definido como tal. A definição dada à pág. 14 é incompleta. A definição da pág. 22 sublinhada em itálico, como definição básica, é visível e essencialmente incorreta, pois se estivéssemos de acordo com o autor, de que a “história da filosofia é a história do desenvolvimento progressivo e ascendente do conhecimento do homem sobre o mundo que o cerca”, então isto significaria que o objetivo da história da filosofia coincide com o objetivo da história da ciência em geral, e a filosofia, mesmo neste caso; pareceria ser a ciência das ciências, o que já há muito foi rejeitado pelo marxismo.

Materialismo e Idealismo

Incorreta e inexata é também a afirmação do autor de que a história da filosofia é também a história do nascimento e desenvolvimento de muitas idéias contemporâneas, pois a noção de “contemporâneo” se identifica neste caso com a noção “cientifica” o que, evidentemente, é errado. É indispensável extrair a definição do objetivo da história da filosofia da definição da ciência filosófica dada por Marx, Engels, Lênine Stálin.

“Este o lado revolucionário da filosofia de Hegel que Marx tomou e desenvolveu. O materialismo dialético “não precisa de qualquer filosofia que fique acima de outras ciências”. Das antigas filosofias persiste “a doutrina sobre o pensamento e suas leis, isto é, a lógica formal e a dialética”. E a dialética, na concepção de Marx, de acordo também com a de Hegel, inclui em si a atual chamada teoria do conhecimento, gnosiologia, a qual deve estudar o teu objetivo, de igual maneira historicamente, estudando e generalizando a origem e desenvolvimento do conhecimento, sua transição de não conhecimento para o de conhecimento” (V. I. Lênin— Obr. Comp. T. XVIII, pág. 11 — em russo) .
A história científica da filosofia, consequentemente, é a história da germinação, nascimento e desenvolvimento da concepção materialista científica e suas leis. À medida que cresce o materialismo e este se desenvolve na luta contra as correntes do idealismo, a história da filosofia é também a história das lutas do materialismo contra o idealismo.

No que se refere ao caráter científico do livro, do ponto de vista da utilização das conquistas contemporâneas do materialismo dialético e histórico, também sob esse aspecto o livro tem muitíssimas e sérias falhas.

Uma Revolução na Filosofia

O autor descreve a história da filosofia e a marcha do desenvolvimento das idéias e sistemas filosóficos como evolução normal através de acréscimos e mudanças quantitativas sucessivas. Cria-se, assim, a impressão de que o marxismo surgiu como simples sucessor no desenvolvimento das doutrinas progressistas anteriores, principalmente da doutrina dos materialistas franceses, da economia política inglesa e das escolas idealistas de Hegel.

O autor, na pág. 475, diz que as teorias filosóficas, criadas antes de Marx e Engels, embora contivessem às vezes grandes descobertas, não foram, contudo, conseqüentes até o fim e científicas em todas as suas conclusões. Tal definição distingue o marxismo dos sistemas filosóficos pré-marxistas somente como doutrina conseqüente até o fim e científica em todas as suas conclusões. Isto nos mostra que a diferença do marxismo das doutrinas filosóficas pré-marxistas consiste somente em que estas filosofias não foram até o fim conseqüentes e científicas, como também que os velhos filósofos somente “se equivocaram”.

Como vêem, trata-se aqui somente de mudanças quantitativas. Isto, porém, é metafísica. O aparecimento do marxismo constituiu uma verdadeira descoberta, foi uma revolução em filosofia. Certamente, como em qualquer descoberta, como em qualquer salto, interrompe-se a graduação em cada transição para o novo estado; o marxismo, pois, não podia ter origem sem preliminar acumulação de mudanças quantitativas, em filosofia, e, neste caso, somas de desenvolvimento da filosofia até a descoberta de Marx e Engels. O autor, evidentemente, não compreende que Marx e Engels criaram nova filosofia, que qualitativamente se diferencia de todas as predecessoras, não obstante estas terem sido também sistemas filosóficos progressistas. Acerca das relações da filosofia de Marx com todas as predecessoras de cuja transformação resultou o marxismo em filosofia, transformando-o em ciência, todos têm conhecimento. O que é mais estranhável é que o autor concentra a sua atenção não no que é novo e revolucionário no marxismo, em comparação com os sistemas filosóficos predecessores, e sim no que o une com o desenvolvimento das filosofias pré-marxistas. No entanto, mesmo Marx e Engels disseram que sua descoberta significava o fim das velhas filosofias.

“O sistema de Hegel foi o último, a mais acabada forma de filosofia, desde que a concebamos como ciência especial, que fica acima de todas as outras ciências. Junto com ela, toda a filosofia. Restou somente o método dialético do pensamento e a concepção de todo o mundo natural, histórico e intelectual, como de um inundo eternamente mutável e móvel, que se encontra em permanente processo de nascimento e perecimento. Agora, não somente à filosofia, mas também a toda ciência foi imposta a exigência de descobrir as leis do desenvolvimento deste eterno processo de transformação em cada domínio separado. Nisto consiste a herança deixada pela filosofia hegeliana aos seus sucessores”. (F. Engels — Anti Dühring, 1945, pág. 23-24 — edição russa).

O Marxismo e o Fim da Velha Filosofia

O autor não compreende, evidentemente, o processo histórico concreto do desenvolvimento da filosofia.

Uma das essenciais, senão mesmo a principal falha do livro, é a ignorância do fato de que na marcha da história se substituem não somente as opiniões sobre estas ou aquelas questões filosóficas, mas até mesmo sobre um conjunto de questões. O próprio objetivo da filosofia sempre esteve em permanente transmutação, o que corresponde completamente à natureza dialética do conhecimento humano e isto deve ser evidente a qualquer verdadeiro dialeta.

À pág. 24 de seu livro, expondo a filosofia dos antigos gregos, o camarada Alexándrov escreve:

“A filosofia, como ramo independente do conhecimento, surgiu na antiga sociedade escravista grega”.
E mais adiante:

“A filosofia, surgindo no VI século antes da nossa era, como ramo particular do conhecimento, teve larga propagação”.
Podemos, porém, falar sobre as antigas filosofias gregas como um ramo particular do conhecimento que se haja diferenciado? Absolutamente, não. Os pontos de vista filosóficos dos gregos foram de tal modo estreitamente ligados às suas idéias políticas e aos seus pontos de vista de história natural que não devemos e não temos o direito de transferir para a ciência grega a nossa divisão das ciências e sua classificação, que surgiram muito depois. Em verdade, os gregos conheciam somente unia ciência indivisa, na qual entravam também as idéias filosóficas. Tomemos Demócrito, Epicuro, Aristóteles; todos eles igualmente corroboram o pensamento de Engels sobre isso, que “os mais antigos filósofos gregos foram simultaneamente naturalistas”. (F. Engels — Dialética e Natureza — K. Marx e F. Engels, obr. Comp. T. XIV, pág, 498 — edição russa).

A originalidade do desenvolvimento da filosofia consiste em que a medida que se desenvolvia os conhecimentos científicos sobre a natureza e a sociedade, dela se ramificavam as ciências positivas, uma após outra. Por conseqüência, reduzia-se ininterruptamente o domínio da filosofia devido ao desenvolvimento das ciências positivas (observação relevante é que este processo não está terminado e prossegue até no presente momento), e essa libertação das ciências naturais e sociais da égide da filosofia representava, por si mesma,, um processo progressivo como também pata as ciências naturais e sociais e da mesma forma para a própria filosofia.

Os criadores dos sistemas filosóficos do passado, que pretendiam o conhecimento da verdade absoluta, em instância final, não puderam promover o desenvolvimento das ciências naturais, porque as enfaixavam em seus esquemas e se esforçavam por ficar acima das ciências, impondo ao vívido conhecimento humano as concussões que eram ditadas não pela vida real, mas por exigência dos sistemas. Nestas condições, a filosofia se transformou em museu, onde foram acumulados os mais diversos fatos, conclusões, hipóteses e simples fantasias. Se a filosofia pode servir para a supervisão, para a contemplação, no entanto, de nada valeu como instrumento de ação prática sobre o mundo e como instrumento de conhecimento do mundo.

O último sistema de tal gênero foi o sistema de Hegel, o qual tentou erguer o edifício filosófico, que dominaria todas as outras ciências. Comprimindo no leito de Procusto das suas categorias, e imaginando poder resolver todas as contradições, o sistema de Hegel entrou em contradição absoluta com o método dialético, por Hegel mesmo mais pressentido do que compreendido e por isso mesmo indevidamente aplicado.

Mas, “uma vez que compreendamos… que exigir da filosofia a solução de todas as contradições significa exigir que um só filósofo realize tal obra, que somente poderia ser realizada por toda a humanidade em seu gradual desenvolvimento; uma vez que compreendamos isto, para as filosofias, na velha significação da palavra, chegou o fim, como indicava Engels. Por conseqüência, deixemos em paz a “verdade absoluta”, que por esse caminho é inatingível para o homem isolado e nos esforcemos na pretensão de alcançar para nós as verdades relativas pelo caminho das ciências positivas e unificação de seus resultados com a ajuda do método dialético”. (F. Engels — L. Feuerbach. Marx e Engels — Obr. Compl. T. XIV, pág. 640 — edição russa).

A descoberta de Marx e Engels representa o fim da velha filosofia, isto é, o fim daquela filosofia que pretendia dar uma universal explicação do mundo.

Uma Filosofia Científica do Proletariado

As formulações vagas do autor obscurecem a maior significação revolucionária da genial descoberta filosófica de Marx e Engels; acentuam quanto estava Marx ligado aos filósofos predecessores; e não mostram que, desde Marx, começa realmente um novo período de história da filosofia, que desde então se tornou ciência.

A este erro, está ligada estritamente a maneira não marxista com que o livro trata a história da filosofia, como de gradual mudança de uma escola filosófica para outra. Com o aparecimento do marxismo, como concepção científica do proletariado, acaba o velho período da história da filosofia, aquele em que a filosofia era ocupação de indivíduos, propriedade de escolas filosóficas, compostas de pequeno número de filósofos e de seus discípulos, fechados, isolados da vida, do povo, estranhos ao povo.

O marxismo não é uma escola filosófica dessa espécie. Ao contrário, é a superação das velhas filosofias, das que eram propriedade de uns poucos eleitos da aristocracia do espírito; é o princípio de um período completamente novo da história da filosofia, quando ela se torna arma científica nas mãos das massas proletárias, que lutam por sua libertação do capitalismo .

A filosofia marxista, diferentemente dos anteriores sistemas filosóficos, não se apresenta como ciência acima das outras ciências, ainda é um instrumento de investigação científica, um método, que torna mais penetrante todas as ciências sobre a natureza e a sociedade e que se enriquece ao mesmo tempo com as conquistas dessas ciências no desenrolar de seu desenvolvimento. Nesse sentido, a filosofia marxista é a mais completa e decisiva negação de todas as filosofias precedentes. Mas negar, como sublinhava Engels, não significa dizer simplesmente “não”. A negação encerra em si a sucessão, significa a absorção, revisão crítica e unificação em nova e superior síntese de tudo quanto há de vanguardeiro e progressista, já conquistado na história do pensamento humano.

Daqui decorre que a história da filosofia, desde que existe o método dialético marxista, deve incluir a história da preparação do aparecimento desse método; mostrar o que condicionou o seu surgimento. No livro do camarada Alexándrov não consta a história da lógica e da dialética, não é exposto o processo do desenvolvimento das categorias lógicas como reflexo da prática humana; e por isso mesmo ficou no ar a citação de Lénin, encontrada ao prefácio do livro, de que cada categoria da lógica dialética precisa ser considerada como ponto central na história do pensamento humano.

Completamente injustificável é o fato de que a história da filosofia, no livro, só vá até o surgimento da filosofia marxista, ou seja, até o ano de 1847. Sem a exposição da história da filosofia destes últimos cem anos, o livro, certamente, não pode ser considerado como livro de história da filosofia. O autor não esclareceu e não explicou porque não cuidou desse período, nem na introdução nem no prefácio da obra.

Nada justifica também a exclusão do desenvolvimento da filosofia russa, no livro de história em apreço. Não é preciso provar que essa omissão possui o caráter de princípio. Fossem quais fossem os motivos que levaram o autor a excluir a história da filosofia russa da história geral da filosofia, o seu silêncio sobre ela objetivamente significa a depreciação do papei da filosofia russa e também a divisão da história da filosofia em história da filosofia da Europa ocidental e história da filosofia russa, e para tanto o autor não faz quaisquer tentativas no sentido de esclarecer a necessidade de tal divisão. Ele eterniza dessa forma a divisão burguesa de cultura “ocidental” e “oriental” e considera o marxismo como corrente regional do “ocidente”. Mais que isso, na página 6 da introdução, demonstra com vigor uma tese inversa, insistindo que “não tendo estudado atentamente e utilizado a crítica profunda dos sistemas filosóficos do passado, realizada pelos clássicos da filosofia russa, não se pode organizar uma exposição científica sobre a marcha do desenvolvimento do pensamento filosófico nos países da Europa ocidental”. Por que, então, o autor não organizou essa correta exposição no livro? Tal fato permanece completamente incompreensível, da mesma forma que o arbitrário modo de terminar a exposição da história da filosofia no ano de 1848, que deixam no leitor a mais opressiva impressão.

Em suas intervenções, os camaradas aqui presentes também acertadamente apontaram as lacunas na exposição da história da filosofia do Oriente, que deveria ser clara.

Evidentemente, também por esse motivo o livro precisa de radical revisão.

Alguns camaradas salientaram que a introdução para o livro deveria, sem dúvida, significar o “credo” do autor e também definir corretamente o objetivo dos problemas e métodos de investigação, mas que o autor, parece-lhes, não cumpriu essa obrigação. Penso que esta crítica á insuficiente, portanto incorreta; também não resiste à crítica feita à própria introdução.

Por Uma Posição de Partido em Filosofia

Já falei sobre a incorreta e inexata definição do objetivo da história da filosofia. Mas isto é pouco ainda. Na introdução existem também outros erros teóricos. Os camaradas já falaram aqui de que uma interpretação forçadíssima se encontra na exposição das bases da história da filosofia marxista-leninista, no que se refere a Tchernichévski, Dobrolíubov e Lomonóssov, os quais, certamente, não têm relações diretas com o assunto.

Mas a questão, entretanto, não é somente essa. As citações apresentadas, das obras desses grandes mestres e filósofos russos, são escolhidas com evidente infelicidade, e as teses teóricas que elas encerram, são, do ponto de vista marxista, incorretas e, eu diria mais, nocivas mesmo. Dizendo isso, nem no menor grau tenho em vista desacreditar os próprios autores dos textos citados, pois as citações, escolhidas arbitrariamente, se referem a questões que nada têm em comum com as em que tem em vista o autor. Ou melhor, o autor cita Tchernichévski para provar que os fundadores dos vários e ainda que contrários sistemas filosóficos devem tolerantemente referir-se um ao outro.

Que se me permita fazer citações de Tchernichévski:

“Os continuadores de obra científica se rebelam contra os seus predecessores cujos trabalhos serviram de ponto de partida para os seus próprios trabalhos. Assim, Aristóteles inamistosamente, olhava para Platão; Sócrates humilhava imensamente os sofistas, dos quais ele foi continuador. Nos tempos modernos encontramos também muitos exemplos semelhantes. Mas acontece, às vezes, casos de fundadores de novos sistemas compreenderem claramente a conexão de suas opiniões com os pensamentos expressos pelos seus predecessores, e modestamente, então, se intitularem de seus discípulos; ou que, revelando as deficiências das concepções de seus predecessores, ao mesmo tempo, claramente, confessam quanto contribuíram essas concepções para o desenvolvimento de seus próprios pensamentos. Tal foi, por exemplo, o caso de Spinoza com Descartes. Para honra dos fundadores da ciência contemporânea, é preciso dizer que eles com respeito e quase amor filial olham para os seus predecessores, reconhecem completamente a grandeza de seus gênios, o caráter nobre e generoso de suas doutrinas, nas quais apontam o germe de suas próprias idéias.” (Págs. 6-7, do livro de Alexándrov).
Desde que o autor faz essas citações sem restrições, elas, evidentemente, são o seu próprio ponto de vista. Se isto é verdade, então o autor efetivamente se coloca no caminho da rejeição do princípio de partidarismo em filosofia, o qual é inerente ao marxismo-leninismo. São conhecidas a paixão e irreconciliabilidade, com as quais o marxismo-leninismo sempre conduziu e conduz a áspera luta contra todos os inimigos do materialismo. Nessa guerra, os marxistas-leninistas submetem os seus adversários a uma crítica aniquiladora. Como modelo de luta bolchevique contra os opositores do materialismo é o livro de Lénin, “Materialismo e Empirocriticismo”, onde cada palavra de Lêninrepresenta, por si mesma, uma arma aniquiladora, que destrói o adversário. A genialidade de Marx e Engels consiste justamente — dizia Lênin— em que no decorrer de um período muito longo, de quase meio século, eles desenvolveram o materialismo, impulsionaram para a frente uma fundamental tendência da filosofia, não permaneceram na repetição das questões gnosiológicas já resolvidas, mas a conduziram consequentemente, isto é, mostraram como era preciso levar o materialismo para o campo das ciências sociais, varrendo impiedosamente como lixo, a asneira, a bombástica galimátia pretensiosa e as numerosas tentativas de “descobrir” uma “nova” linha na filosofia, de inventar uma “nova” tendência, etc.

“Tomem, finalmente — escreve Lêninmais adiante — as várias observações filosóficas de Marx em “O Capital” e outras obras, e vereis imutável a idéia fundamental, a insistência no materialismo e um altivo desprezo votado a qualquer obscurecimento, confusão ou recuo para o idealismo. Sobre essas duas básicas antinomias (materialismo-idealismo) giram todas as observações filosóficas de Marx, as quais são julgadas pela filosofia professoral como “estreitas” e “unilaterais”, e é justamente nisso que consistem suas falhas.” (V. I. Lénin, Obr. Compl., t. XIII, págs. 275-276, em russo) .
O próprio Lénin, como se sabe, não poupava os seus adversários. Na tentativa de amenizar e conciliar as contradições entre as tendências filosóficas, Lêninsempre viu apenas uma manobra da filosofia professoral reacionária. Como pode, pois, depois disso, o camarada Alexándrov apresentar-se em seu livro, suave e manso, em relação aos filósofos adversários, o que representa positiva concessão ao quase-objetivismo professoral, ao expor o período em que emergia, crescia e vencia o marxismo na implacável luta contra todos os representantes das tendências idealistas?

O camarada Alexándrov não se limita a isso. Sua concepção objetiva, ele consequentemente a faz presente através de todo o conteúdo do livro. Não é por casualidade, pois, que o camarada Alexándrov, antes de criticar qualquer filósofo da burguesia, renda homenagens aos seus méritos, incensando-os. Tomem, por exemplo, a doutrina de Fourier, que já foi aqui mencionada, sobre as quatro fases do desenvolvimento da humanidade.

O ponto mais alto da filosofia social de Fourier, diz o camarada Alexándrov, “é a doutrina sobre o desenvolvimento da humanidade. Em seu desenvolvimento, a sociedade passa, segundo Fourier, por quatro fases:

— destruição ascendente;
— harmonia ascendente;
— harmonia descendente;
— destruição descendente.
No seu último estádio, a humanidade vive num período de caducidade, depois do que qualquer vida na terra chega ao fim. Tanto quanto o desenvolvimento da sociedade se realiza independentemente dos desejos das pessoas, assim também o estádio superior do desenvolvimento chega inevitavelmente, tal como acontece com a mudança das estações de um ano. Desta tese deduziu Fourier a inevitável substituição do regime burguês por uma sociedade na qual dominará o trabalho livre e coletivo. Na verdade, a teoria de Fourier do desenvolvimento da sociedade foi limitada pelo quadro das quatro fases, mas para aquela época ela representou grande passo para a frente.” (Ghe. F. Alexándrov, História da Filosofia da Europa Ocidental, págs. 353-354).

Aqui não há traço de análise marxista. Em comparação com que representou a teoria de Fourier um passo à frente? Se a sua limitação consistiu no fato de se referir a 4 fases no desenvolvimento da humanidade e que a quarta fase constitui a destruição descendente, no conjunto da qual a vida na terra chega ao fim, então como compreender se queixe o autor de Fourier, de que sua teoria do desenvolvimento da sociedade é limitada a quadro de apenas 4 fases? Uma quinta fase a humanidade a passaria no outro mundo…

Sobre quase todos os velhos filósofos o camarada Alexándrov encontra oportunidade para dizer palavras amáveis. Quanto maior é o filósofo burguês mais incenso lhe oferece. Tudo isso leva o camarada Alexándrov, possivelmente mesmo sem o suspeitar, a tornar-se cativo dos historiadores burgueses da filosofia, os quais partem do princípio de ver em cada filósofo, antes de tudo, um aliado de profissão, logo depois um adversário. Tais concepções, se se desenvolvessem entre nós, inevitavelmente nos conduziriam ao objetivismo; para o servilismo em face dos filósofos burgueses e exaltação de seus méritos; para a privação, em nossa filosofia, do seu espírito combativo e agressivo. Mas isto significaria o abandono do princípio fundamental do materialismo, isto é, de seu partidarismo. Entretanto, Lêninnos ensinou que:

“o materialismo encerra em si, por assim dizer; uma posição de partido que nos obriga, em qualquer apreciação de acontecimento, direta e abertamente tomar o ponto do vista de um determinado grupo (V. I. Lénin, Obr. Compl., T. I, pág. 276, em russo).
A exposição das concepções filosóficas no livro são feitas abstratamente, objetivamente, neutralmente. As escolas filosóficas são expostas no livro uma depois de outra ou uma ao lado de outra, mas não em luta uma contra outra. Isto é também “concessão à tendência” acadêmica e professoral. Não é por acaso, como vêem, que, nessa ligação, a tese do princípio de partidarismo em filosofia não foi absolutamente adotado pelo autor. Na qualidade de exemplo de partidarismo em filosofia o autor apresenta a filosofia de Hegel e a luta das filosofias inimigas ele descreve como sendo a luta dos princípios reacionários e progressistas . . . dentro da própria filosofia de Hegel. Tal método de demonstração é não somente ecletismo objetivista, mas também uma clara condescendência para com Hegel, porquanto por esse método pretende provar que sua filosofia contém tanto de progressismo quanto também de reacionarismo. Para acabar com esta questão, acrescento também que o método aconselhado pelo camarada Alexándrov, de apreciação dos diferentes sistemas filosóficos — “igualmente com méritos existem também defeitos” (vide pág. 7 do livro de Alexándrov) ou “importante significação tem do mesmo modo tal e tal teoria”, que esse método sofre de extrema falta de determinação, é metafísico e somente capaz de amaranhar o assunto. É incompreensível porque necessitou o camarada Alexándrov de fazer concessões às tradições científicas acadêmicas das velhas escolas burguesas e esquecer a tese fundamental do materialismo que exige a irreconciliabilidade na luta contra os seus adversários.

Saber Utilizar o Método Materialista Dialético

Ainda uma observação. A análise crítica dos sistemas filosóficos deve ter um objetivo. As opiniões e idéias filosóficas, há bastante tempo derrotadas e enterradas não merecem muita atenção. Pelo contrário, com particular rigor devem ser criticados os sistemas e idéias filosóficos que, apesar de seu reacionarismo, ainda têm curso e são utilizados pelos atuais inimigos do marxismo. Aqui, referimo-nos particularmente ao neo-kantismo, às teologias, às velhas e novas edições do agnosticismo, às tentativas de introduzir Deus, sub-repticiamente, de contrabando; nas ciências naturais contemporâneas, e também de qualquer outra moxinifada, que tenha por fim retocar e colorir a mofada mercadoria idealista, para consumo do mercado. Enfim, a quantas idéias desse conhecido stocks, que, na época contemporânea, os lacaios filosóficos do imperialismo põem em circulação para apoiar seus amos assustados.

Na introdução é tratada, igualmente, de forma incorreta a concepção sobre as idéias reacionárias e progressistas e dos sistemas filosóficos. Embora o autor também faça restrições em torno das questões sobre o reacionarismo ou o caráter progressista desta ou daquela idéia ou sistemas filosóficos, elas devem ser resolvidas de forma concreta e histórica. O autor, porém, persistentemente ignora a conhecida tese do marxismo de que uma mesma idéia, em diferentes condições históricas e concretas, pode ser reacionária ou progressista. Tergiversando nesta questão, o autor abre brecha para a introdução, de contrabando, da concepção idealista das idéias que são colocadas acima da história.

O autor, mais adiante, corretamente assinala que o desenvolvimento do pensamento filosófico, em última análise, é determinado pelas condições materiais de vida da sociedade e que o desenvolvimento do pensamento filosófico tem somente uma relativa independência, mas ao mesmo tempo, repetidamente, viola essa tese fundamental do materialismo científico, e frequentemente se esquece, na sua exposição dos diferentes sistemas filosóficos, da tese das condições históricas e concretas e das raízes sociais de classe; desta ou daquela filosofia. Tal é o caso, por exemplo, da exposição sobre os pontos de vista de Sócrates, Demócrito, Spinoza, Leibnitz, Feuerbach e outros, que, certamente, não é científica e dá motivo à suposição de que o autor, confundindo-se, passou a adotar o ponto de vista da independência do desenvolvimento das idéias filosóficas, que pairam acima da história, o que constitui, aliás a característica distintiva da filosofia idealista. A ausência de ligação orgânica entre este ou aquele sistema filosófico e as condições concretas; e históricas verifica-se, constantemente, ainda onde o autor tenta analisar essas condições. Como resultado disso temos uma ligação puramente mecânica, e não uma ligação orgânica e essencial. Divisões e capítulos, em que são interpretadas as concepções filosóficas de época correspondentes e divisões e capítulos dedicados à exposição das condições históricas, giram em torno de um mesmo ponto de vista, mas a própria exposição dos dados históricos, as ligações causais entre a base e a superestrutura, como cânone, é apresentada. de forma científica, mas desordenadamente, e não oferece material para análise, antes representa uma investigação má. Tais são, por exemplo, a introdução e o capítulo VI, sob o título “A França no XVIII Século”, que são um cúmulo de ininteligibilidade e de nenhuma força esclarecem a fonte das idéias da filosofia francesa do século XVIII e início do século XIX. Como conseqüência disso, as idéias dos filósofos franceses perdem suas ligações com a época e começam a figurar como um certo fenômeno independente. Que se me permita recordar esta passagem do livro:

“Começou a França, nos séculos XVI-XVII, depois da Inglaterra, gradualmente, a pôr-se no caminho do desenvolvimento burguês. As fundamentais transformações na economia, na política e na ideologia, levaram um século para se realizar. O país, embora ainda estivesse também completamente atrasado, já começava, porém, a libertar-Se de seu consolidado feudalismo. Da mesma forma que muitos outros Estados europeus daquele tempo, a França também entrava no período da acumulação capitalista primitiva.
Em todos os setores da vida social» rapidamente se formava a nova ordem social-burguesa, surgia nova ideologia, nova cultura. Por esse tempo, se inicia na França, o rápido crescimento das cidades como Paris e Lion, Marselha e Havre; constrói-se poderosa frota marítima. Uma depois da outra organizam-se as companhias comerciais, internacionais, que preparam) expedições armadas, com que conquistaram numerosas colônias. Rapidamente cresce o comércio. Nos anos de 1784-1788, o movimento do comércio externo atingiu a 1.011,6 milhões de libras, excedendo mais do que quatro vezes ó dos anos de 1716-1720. O desenvolvimento do comércio foi ajudado pelo pacto de Aacher (1748), e também pelo tratado de Paris (1763). Particularmente demonstrativo é o comércio de livros. Assim, por exemplo, no ano de 1774, o movimento do comércio de livros na França chegou a ser de 45 milhões de francos, enquanto na Inglaterra era somente 12-13 milhões de francos. Nas mãos da França, encontrava-se cerca da metade do stock de ouro que possuía a Europa. Entretanto, a França permaneceu ainda como país agrário. Imensa maioria de sua população se ocupava com a agricultura” (págs. 315-316).
Isto, certamente, não é uma análise, mas uma simples catalogação de alguns fatos, expostos não em ligações de uns com outros mas simplesmente uns ao lado de outros. Isto, por si mesmo, evidencia que estes dados sobre a “base” não continham, é verdade, e não podiam conter quaisquer características da filosofia francesa, cujo desenvolvimento se realiza como que separado das condições históricas daquele tempo na França.

Tomamos mais adiante, a título de exemplo, a descrição do aparecimento da filosofia idealista alemã, tal como é apresentada no livro de Alexándrov. Ele escreveu:

“No século XVIII e primeira metade do século XIX, a Alemanha era um país atrasado, com um regime político reacionário. Nela dominavam as relações da servidão feudal e corporações de ofícios. No fim do XVIII século, a população citadina não alcançava 25 por cento, e os ofícios ocupavam somente 4 por cento de toda a população. A corvéia, taxas, a servidão, os privilégios das corporações impediam o desenvolvimento das relações capitalistas, que começavam a surgir. Acrescente-se, ainda, que no país reinava uma excessiva divisão política.”
Encontra-se na citação de Alexándrov a porcentagem da população citadina da Alemanha, que deve, segundo sua opinião, ilustrar o atraso desse país e o reacionarismo de seu governo e de seu regime político-social. Já nesse tempo, porém, a população citadina da França se compunha de menos 10 por cento do que a da Alemanha, embora a França não fosse um atrasado país feudal, como era a Alemanha, e sim o centro do movimento revolucionário burguês na Europa. Por conseqüência, a percentagem da população citadina, por si mesma, ainda nada esclarece, mais do que isso, ela própria deve ser esclarecida pelas condições históricas e concretas. Isto, do mesmo modo, é exemplo do insucesso do autor, na utilização do material histórico para a elucidação do nascimento e desenvolvimento destas ou daquelas formas de ideologia.

Mais adiante, Alexándrov escreveu:

“Os mais conhecidos ideólogos da burguesia alemã daquele tempo — Kant, depois Fichte e Hegel, — nos sistemas filosóficos idealistas que criaram, exprimiram de forma abstrata, condicionada pela limitação da realidade alemã, a ideologia da burguesia alemã daquela época.”
Comparemos esta exposição dos fatos, fria, indiferente e objetivista, por meio da qual não se podem compreender as causas do nascimento do idealismo germânico, com a análise marxista das condições daquele tempo na Alemanha, exposta num estilo vivo, combativo que comove e convence o leitor. Eis, como Engels caracterizava essas condições na Alemanha:

“Esta era uma massa em estado de putrefação, e que se corrompia. Ninguém se sentia bem. Os ofícios, o comércio, a indústria e a agricultura estavam reduzidos ao mínimo. Os camponeses, os comerciantes e artesãos sofriam dupla opressão: governo sanguinário e más condições para o comércio. A nobreza e os príncipes achavam que seus lucros, apesar de que todos eles arrancados de seus súditos, não deveriam diminuir em face de suas despesas crescentes. Tudo era ruim e no país dominava um descontentamento geral. Não havia instrução, meios de influência sobre a inteligência das massas, liberdade de imprensa, opinião pública, nem havia qualquer comércio importante com outros países; em toda parte somente sujeira e egoísmo, por conseqüência todo o povo foi impregnado por um espírito mercantil baixo servil e odioso; corrompia-se, vacilava, pronto para ruir; e não se poderiam esperar mudanças benéficas, porque o povo já não possuía a força com que poderia varrer os cadáveres putrefatos das instituições mortas.” (K. Marx-F. Engels, Obras Compl, T. V, págs. 6-7, em russo).
Comparem esta caracterização de Engels, clara, penetrante, exata, profundamente científica, com a caracterização que dá Alexándrov, e vereis como o camarada Alexándrov se utiliza mal do material de inesgotável riqueza, que nos foi deixado pelos fundadores do marxismo.

Desse modo, o autor não resolveu o problema da utilização do método materialista para a exposição da história da filosofia, e isto tira do livro o seu caráter científico e transforma-o, em considerável medida, numa descrição biográfica dos filósofos e de seus sistemas filosóficos, considerados fora das condições históricas. Isso resultou de ter o autor infringido o princípio do materialismo histórico, que ensina:

“É preciso investigar em detalhe as condições de existência das diferentes formações sociais, antes de tentar extrair delas as correspondentes concepções políticas, de direito privado, estéticas, filosóficas, religiosas, etc.” (Da carta de F. Engels a Schmidt, de 5 de agosto de 1890; Carlos Marx e F. Engels, Cartas Escolhidas, 1847, pág. 421).
Obscura e insuficientemente o autor formula também os objetivos do estudo da história da filosofia. Em parte alguma do livro, o autor sublinha que um dos problemas fundamentais da filosofia e de sua história é o ulterior desenvolvimento da filosofia como ciência, o descobrimento de novas leis de desenvolvimento, a verificação de suas teses na prática, a substituição das teses que se tornam caducas por novas. O autor toma como ponto de partida, principalmente, a significação pedagogica-educativa da história da filosofia; baseia-se sobre os problemas instrutivo-culturais, para dar dessa forma a todo o estudo da história da filosofia um caráter passivamente contemplativo, acadêmico. Isto, certamente, não corresponde à definição marxista-leninista da ciência filosófica, que, tal como qualquer outra ciência, deve ininterruptamente desenvolver-se, aperfeiçoar-se e enriquecer-se com novas teses, rejeitando as caducas.

O autor, concentrando a sua atenção sobre o aspecto instrutivo do livro, com isso limita O desenvolvimento da ciência, como se o marxismo-leninismo já tivesse atingido o seu teto, donde o problema do, desenvolvimento de nossa doutrina já não constituir a principal tarefa. Tal raciocínio contradiz o espírito do marxismo-leninismo, visto que ele começa por apresentar o marxismo metafisicamente, como doutrina acabada e completa, e isso só pode conduzir para ao esgotamento dos vividos e perquiridores pensamentos filosóficos .

As Relações Entre a Filosofia e as Ciências Naturais

Assim, vai completamente mal o problema do esclarecimento das questões do desenvolvimento das ciências naturais. A história da filosofia, sem direta injúria ao espírito científico, não se pode expor fora das ligações com as conquistas das ciências naturais. O livro do camarada Alexándrov não dá possibilidade de esclarecer, por força disso, as condições de nascimento e desenvolvimento do materialismo científico, que cresceu sobra o fundamento granítico das conquistas contemporâneas das ciências naturais.

Expondo a história da filosofia, o camarada Alexándrov conseguiu desligá-la da história das ciências naturais. É característico que, na introdução, onde expõe as bases da orientação do livro, o autor, nem com uma palavra, se refere à interrelação da filosofia com as ciências naturais. Ele silencia sobre as ciências naturais mesmo quando isso pareceria completamente impossível. Assim, na pág. 9, o autor escreveu “Lénin, em seus trabalhos, e particularmente no Materialismo e Empirocriticismo, elaborou de forma completa e impulsionou bem para a frente essa doutrina marxista sobre a sociedade”. O camarada Alexándrov conseguiu, falando sobre o Materialismo e Empirocriticismo, passar por cima dos problemas das ciências naturais e de suas ligações com a filosofia.

Salta aos olhos a imensa pobreza, miserabilidade e caráter abstrato que caracterizam o nível das ciências naturais deste ou daquele período, Sobre as ciências naturais deste ou daquele período. Sobre as ciências naturais dos antigos gregos, Alexándrov disse que, ao seu tempo, teve lugar “a germinação da ciência sobre a natureza” (pág. 26); sobre o último período da época da escolástica (XII-XIII’ séculos), diz que nele “apareceram muitas invenções e aperfeiçoamentos técnicos.” (Pág. 120).

No mesmo lugar, onde o autor tenta esclarecer as formulações vagas, apresenta pouco coerente lista de descobertas; junto com isso, no livro, admite erros berrantes, que nos surpreendem pelo que revelam de sua ignorância nas questões de ciências naturais. Que valor tem, por exemplo, a seguinte descrição do desenvolvimento da ciência na época da Renascença:

“O sábio Guéricke construiu sua famosa bomba pneumática e demonstrou a existência da pressão atmosférica, que substitui, por si mesma, a idéia sobre o vácuo. Isso foi provado praticamente, pela primeira vez, com as experiências das esferas de Magdeburgo. Pessoas houve, no transcurso dos séculos, que discutiram sobre onde encontrar-se o “centro do mundo” e se era possível considerar o nosso planeta como esse centro. Eis que, porém,, no domínio da ciência, surge Copérnico e depois Galiléu Galilei. Este prova a existência de manchas no sol e mudanças em suas posições. Ele vê nisso e em outras descobertas a confirmação da doutrina de Copérnico sobre a contextura heliocêntrica do nosso sistema solar. O barômetro ensinou às pessoas predizer o tempo. O microscópio substituiu o sistema de hipóteses sobre a vida dos organismos infinitamente pequenos e desempenhou um grande papel no desenvolvimento da biologia. A bússola ajudou a Colombo provar, experimentalmente, a esfericidade de nosso planeta.” (Pág. 135).
Aqui, quase que cada proposição é um absurdo. Como podia a pressão atmosférica substituir a idéia sobre o vácuo: será que a existência da atmosfera nega a existência do vácuo? De que maneira o movimento de mancha no sol confirmou a doutrina de Copérnico?

A idéia de que o barômetro prediz o tempo, é uma das noções mais anti-científica. Infelizmente, as pessoas, até agora, não sabem como conseguir prever o tempo, o que de todos vós é bem conhecido pela experiência prática de nosso serviço de meteorologia.

Mais adiante. Será que o microscópio pode substituir o sistema de hipóteses? E, afinal, o que significa a “esfericidade do nosso planeta”? Até aqui, parecia-me, que esférico podia ser forma.

Pérolas semelhantes encontram-se a granel no livro do camarada Alexándrov .

O autor, porém, admite também os mais essenciais erros de princípio. Assim, ele considera (pág. 357) que o método dialético teve as condições de seu surgimento criadas pelo progresso das ciências naturais “já na segunda metade do século XVIII”, Isto, radicalmente, contraria a conhecida tese de Engels sobre isso, que o método dialético teve as condições de seu surgimento criadas com a descoberta da constituição celular do organismo, doutrina sobre a conservação e transformação da energia e doutrina de Darwin. Todas estas descobertas ocorreram no XIX século. Partindo de sua falsa concepção, o autor abre espaço, em seu livro, para a enumeração das descobertas do século XVIII; fala muito sobre Galvani, Laplace, Layelle, mas com preferência às três grandes descobertas, indicadas por Engels, ele se limita ao seguinte:

“Assim, por exemplo, ainda durante a vida de Feuerbach, foi criada a doutrina sobre a célula, a doutrina sobre a transformação da energia e aparecia a teoria de Darwin sobre, a origem das. espécies por meio da seleção natural.” (Pág. 427).
Tais são as falhas fundamentais do livro. Eu me abstraio das falhas secundárias e particularidades, porque não quero também repetir as muito preciosas observações críticas, no sentido teórico e prático, que aqui foram feitas.

A conclusão é a seguinte: o livro é mau e necessita de uma revisão radical. Mas a revisão do livro significa antes de tudo, a superação dos incorretos e confusos pontos de vista, que, evidentemente, são correntes no meio dos nossos filósofos, entre os quais também se encontram os dirigentes. E aqui eu passo para a segunda questão, a questão sobre a situação da nossa frente filosófica.

II – Sobre a Situação da Nossa Frente Filosófica

O Livro do camarada Alexándrov recebeu a aprovação da maioria de nossos trabalhadores filosóficos dirigentes, foi indicado para o prêmio Stálin, recomendado como livro didático e mereceu numerosas apreciações elogiosas em revistas e jornais. Isto significa que também outros trabalhadores filosóficos, evidentemente, participam dos erros do camarada Alexándrov. Revela, pois, que nem tudo vai bem em nossa frente teórica.

A circunstância do livro não ter provocado quaisquer protestos significativos, exigiu a intervenção do Comitê Central e pessoalmente a do camarada Stálin, para revelar as falhas do livro. Isto traduz não haver na frente filosófica a desenvolvida crítica e autocrítica bolcheviques. A ausência de discussões criadoras da crítica e autocrítica, não puderam deixar de repercutir de maneira prejudicial na elaboração dos trabalhos filosóficos científicos. Todos sabem que a produção filosófica é inteiramente insuficiente em quantidade e fraca na qualidade. Monografias e artigos de filosofias são um fenômeno raro.

Aqui, muitos falaram sobre a necessidade de uma revista filosófica. Há, no entanto, uma certa dúvida sobre a necessidade da criação de tal revista. Ainda não se apagou de nossa memória a lamentável experiência da revista “Sob a bandeira do marxismo”. Parece-me que, no presente momento, não são utilizadas, de forma completamente satisfatória, as possibilidades de publicação de artigos e monografias originais.

O camarada Svietlóv disse aqui, que os leitores de “Bolchevik” absolutamente não estão capacitados para ler trabalhos teóricos especializados. Penso que isso é completamente inexato e decorre de uma clara subestimação do alto nível dos nossos leitores e de suas exigências. Tais opiniões, parece-me, são resultantes da incompreensão do fato de absolutamente não ser a nossa filosofia propriedade de pequenos grupos de filósofos profissionais, mas sim propriedade de toda a cultura soviética. Nos tempos pré-revolucionários, não havia mal algum, de acordo, aliás, com as tradições, que as maçudas revistas russas progressistas, ao lado dos artigos artístico-literários, publicassem também trabalhos científicos, entre os quais, os de filosofia. Nossa revista “Bolchevik”, por todos motivos, possui muito mais público do que qualquer revista filosófica e enclausurar o trabalho criador dos nossos filósofos nas revistas especializadas em filosofia, parece-me, representaria uma ameaça de estreitamento da base de nosso trabalho filosófico. Peço que não me julguem como adversário da revista, porém, parece-me que a escassez de trabalhos filosóficos, em nossas volumosas revistas e no “Bolchevik”, revela a necessidade de se iniciar, antes de mais nada, a superação dessa falha, utilizando-nos, a princípio, das nossas volumosas revistas e do “Bolchevik”, onde (especialmente, nas volumosas revistas), de tempos em tempos, ainda agora, aparecem artigos de caráter filosófico, que apresentam, sem dúvida, interesse científico e social.

Também é anêmica a temática da nossa instituição filosófica dirigente, isto é, do Instituto de Filosofia da Academia de Ciências e do professorado, etc.

O Instituto de Filosofia, na minha opinião, apresenta um quadro bastante desolador: não une os trabalhadores da periferia, não está ligado a eles, e por isso não é uma instituição de caráter nacional. Os filósofos da província são abandonados a si mesmos, embora eles representem, como sabeis, grande força não utilizada, para pesar nosso. A temática dos trabalhos filosóficos, entre os quais se incluem também trabalhos de concurso para a obtenção de graus científicos, está voltada para o passado, para assuntos históricos inexpressivos e de nenhuma responsabilidade, como, por exemplo: “A heresia de Copérnico no passado e no presente”. Isto conduz a um certo renascimento da escolástica. Deste ponto de vista, parece-nos estranho tenha havido aqui discussão sobre Hegel. Os participantes dessa discussão quiseram forçar a porta aberta. . . A questão sobre Hegel há muito já foi resolvida. Para revivê-la não existe qualquer fundamento, nenhum novo material, além dos que já foram apresentados e apreciados. A própria discussão seria desapontadoramente escolástica e dela resultaria tão pouca cousa como a seu tempo a escolástica não esclareceu as questões sobre o direito de se persignar com dois ou três dedos… ou sobre se Deus pode criar uma pedra, que não possa levantar. . . e também a de se a mãe de Deus foi ou não virgem. . . Os problemas contemporâneos, de atualidade, quase não foram analisados. Tudo isto, em conjunto, é cheio de grandes perigos, muito maiores do que imaginais. E o maior perigo consiste em que algum de vós já se acostumaram com essas falhas.

Conduzir Nossa Ciência Para a Frente

No trabalho filosófico não se percebe espírito de luta e tampouco o espírito peculiar aos “tempos bolcheviques”. A respeito, algumas teses errôneas do livro são um eco do atraso em toda a frente filosófica e por isso não podemos considerá-las como um fato casual, isolado, mas sim como reflexo de um fenômeno geral. Aqui, frequentemente, se usa a expressão “frente filosófica”. Mas onde se encontra, propriamente falando, essa frente? A frente filosófica absolutamente não é semelhante à idéia que fazemos de uma frente. Quando se fala sobre uma frente filosófica, imediatamente, por associação, surge a idéia de um organizado destacamento de filósofos militantes, perfeitamente armados com a teoria marxista, que dirige uma decisiva ofensiva contra a ideologia inimiga no estrangeiro, contra as sobrevivências da ideologia burguesa na consciência da unidade soviética, no interior de nosso país; que impulsiona incansavelmente para a frente a nossa ciência; que arma os trabalhadores da sociedade socialista com a consciência da justeza do rumo do desenvolvimento da nossa sociedade e da certeza, cientificamente fundamentada, da final vitória de nossa causa. Será que a nossa frente filosófica se parece com uma verdadeira frente? Ela mais depressa nos lembra uma tranqüila represa ou bivaque situado em algum lugar, longe do campo da luta. O campo de batalha ainda não foi ocupado, tampouco foi tomado contacto com os adversários, e o reconhecimento não foi realizado; as armas se enferrujam, os combatentes lutam por sua própria conta e risco, e os comandos ou se embriagam com as vitórias passadas, ou discutem se possuirão bastante forças para a ofensiva ou se não precisarão pedir auxílio de fora; também discutem sobre tema de quanto pode a consciência atrasar-se da realidade da vida, e com isso pretendem provar que não estão demais atrasados. . .

E, entretanto, nosso Partido precisa extremamente da elevação dos trabalhos filosóficos. As rápidas mudanças que todo dia se verificam na nossa vida socialista, não são generalizadas pelos nossos filósofos, não são estudadas e justificadas do ponto de vista da dialética marxista. E por isso mesmo dificultam as condições para o futuro desenvolvimento da nossa ciência filosófica. A situação se apresenta de tal modo que o desenvolvimento do pensamento filosófico se realiza, em considerável medida, apesar dos nossos filósofos profissionais. Isto é completamente inadmissível.

Certamente, a causa do atraso na frente filosófica, não está ligada a qualquer condição objetiva. As condições objetivas são favoráveis como nunca; o material, que aguarda uma análise e generalização científicas, é ilimitado. As causas do atraso na frente filosófica, precisamos procurá-las nos domínios do subjetivo. Essas causas fundamentais são justamente aquelas que indicou o CC, ao analisar o atraso em outros setores da frente ideológica.

Como vos lembrais, as conhecidas decisões do CC sobre as questões ideológicas foram dirigidas contra a falta de ideologia e o apoliticismo na literatura e nas artes; contra os que se afastam da temática contemporânea e se volvem para o passado; contra a admiração em face de todo que é estrangeiro; e a favor do partidarismo bolchevique combativo na literatura e na arte. É sabido que muitos destacamentos de trabalhadores de nossa frente ideológica já chegaram a conclusões apropriadas, apoiados nas decisões do CC, por esse caminho já alcançaram sucessos consideráveis.

Não obstante isso, os nossos filósofos profissionais se atrasaram. Evidentemente, não prestam atenção à falta de princípios e de ideologia no trabalho filosófico, ao desprezo pela temática contemporânea, ao servilismo e à bajulação em face da filosofia burguesa. Eles, evidentemente, imaginam que a viragem na frente ideológica não os atinge. Agora, todos vêem que essa viragem é necessária e dela precisam participar.

Sobre o fato da frente filosófica não se encontrar nas primeiras linhas do trabalho ideológico, também cabe considerável parte de culpa ao camarada Alexándrov. Ele não possui, para pesar nosso, uma capacidade crítica e penetrante para revelar as falhas do trabalho. Ele claramente superestima suas próprias forças, não se apoiando na experiência e conhecimento dos grandes conjuntos de filósofos. Mais que isso, ele apóia demais o seu trabalho no estreito círculo dos mais íntimos colaboradores, também admiradores de seu talento. A atividade filosófica acabou sendo monopolizada nas mãos de pequeno grupo de filósofos, mas a maior parte dos filósofos, especialmente os da província, não foi atraída para o trabalho dirigente.

Dessa forma, foi prejudicada a justa inter-relação entre os filósofos.

Agora, todos vêem, que a elaboração de trabalhos como um livro de história da filosofia não é tarefa para um só homem, e que o camarada Alexándrov deveria inicialmente atrair para o trabalho largo conjunto de autores, isto é, especialistas em materialismo dialético, especialistas em materialismo histórico, historiadores, naturalistas e economistas. O camarada Alexándrov escolheu um caminho errado para a elaboração do livro, não se apoiando sobre largo círculo de pessoas capacitadas. É indispensável corrigir esse erro. Os conhecimentos filosóficos são, certamente, entre nós, propriedade de grandes círculos de filósofos soviéticos. O método de atração do maior número de autores para a elaboração do livro de filosofia, agora, aplica-se plenamente para a redação de um livro de economia política, que deve ficar pronto no mais curto espaço de tempo e para o trabalho de sua redação devem ser atraídos largos círculos não somente de economistas, mas também de historiadores e filósofos. Tal método de elaboração é o mais promissor. Ele implica também uma outra idéia, a de I reunir os esforços dos vários destacamentos de trabalhadores ideológicos, no| presente insatisfatoriamente ligados entre si, para a solução dos grandes problemas, que têm uma significação científica geral. Cumprir-se-á também o objetivo de por esse meio organizar a interação entre os trabalhadores dos diversos ramos ideológicos, a fim de impulsionar para a frente a ciência em geral, não cada um por sua própria conta, ineficientemente, mas por meio de um conjunto de trabalhadores, de um modo organizado e firme, e, por conseqüência, com as maiores garantias de êxito.

A Crítica e Auto-Crítica, Forma Particular de Luta Entre o Velho e o Novo

Onde, então, se encontram as raízes dos erros subjetivos de numerosos dirigentes dos trabalhos da frente filosófica? Por que aqui, na discussão, representantes da velha geração de filósofos lançaram justa reprovação a alguns moços, a propósito de sua prematura senilidade e de sua falta de combatividade, agressividade. A resposta a esta questão impõe-se, e só pode ser uma: o insatisfatório conhecimento das bases do marxismo-leninismo e a presença de remanescentes influências da ideologia burguesa. Isto revela também que muitos dos nossos trabalhadores ainda não compreenderam que o marxismo-leninismo é doutrina viva e criadora, que ininterruptamente se desenvolve, que ininterruptamente se enriquece à base da experiência da construção socialista e das conquistas das ciências naturais contemporâneas. Tal subestimação desse vívido e revolucionário lado de nossa doutrina não pode levar-nos senão ao rebaixamento da filosofia e de seu papel. Justamente nas falhas do espírito combativo e agressivo se devem procurar as causas do medo de alguns dos nossos filósofos experimentarem a sua capacidade em novas questões — nas questões contemporâneas, na solução dos problemas que diariamente a prática põe diante dos filósofos e para as quais a filosofia está obrigada a dar resposta. Já é tempo de mais audaciosamente impulsionar para a frente a teoria da sociedade soviética, a teoria do Estado soviético, a teoria das ciências naturais contemporâneas, da ética e da estética. É preciso acabar com a covardia não bolchevique . Admitir a estagnação no desenvolvimento da teoria — isto significa secar a nossa filosofia, privá-la da sua característica mais preciosa — que é a sua capacidade para o desenvolvimento, transformando-a em morto e seco dogma.

A questão sobre a crítica e autocrítica bolchevique é para os nossos filósofos não somente uma questão prática, mas também profundamente teórica.

Se o conteúdo interno do processo de desenvolvimento, como nos ensina a dialética, é a luta dos contrários, luta entre o velho e o novo, entre o que está fenecendo e o que está nascendo, entre o que morre e o que se desenvolve, então a nossa filosofia soviética precisa mostrar como age esta lei dialética nas condições da sociedade socialista e em que consiste a originalidade de sua aplicação. Sabemos que na sociedade dividida em classe esta lei age diferentemente da forma por que age em nossa sociedade soviética. Eis onde se encontra o mais largo campo para a investigação científica, e este campo nenhum dos nossos filósofos palmilhou. Entretanto, o nosso partido já há muito achou e colocou a serviço do socialismo a forma particular de descobrimento e superação das contradições da sociedade socialista (e essas contradições existem, e sobre elas os nossos filósofos não querem escrever por covardia, e essa forma particular da luta entre e velho e o novo, entre o que morre e o que nasce, entre nós, na sociedade soviética, é o que se chama de crítica e auto-crítica.

Marx disse que os filósofos antecessores somente interpretaram o mundo, mas que no presente trata-se é de transformá-lo. Substituímos o velho mundo e construímos o novo, mas os nossos filósofos, para pesar nosso, insatisfatoriamente interpretam este novo mundo, e ainda insatisfatoriamente participam de sua transformação. Aqui, vimos algumas tentativas, por assim dizer, de “teoricamente” interpretar as causas deste atraso. Falou-se aqui, por exemplo, sobre isso, que os filósofos demasiadamente se detiveram na fase de comentários, por força do que, no tempo próprio, não passaram para o período de realizações.

Esta interpretação certamente tem um aspecto elevado mas pouco convincente. Por certo, o trabalho criador dos filósofos precisa ser no presente a pedra angular de todo trabalho, mas isto não significa que precise ser um trabalho de especial erudição, para um círculo fechado, mas sim de vulgarização. Dele também precisa participar o nosso povo.

Contra a Ideologia Podre da Burguesia

É preciso apressar-se em compensar o tempo perdido. Os problemas não esperam. Conquistando brilhante vitória na grande guerra patriótica, que também é brilhante vitória do marxismo, o socialismo ficou como um osso na garganta dos imperialistas. O Centro da luta contra o marxismo transportou-se na atualidade para a América e Inglaterra. Todas as forças do obscurantismo e da reação estão postas agora a serviço da luta contra o marxismo. De novo já trouxeram à luz e foram aceitas como armas da filosofia burguesa estes instrumentos da democracia atômica e do dólar, as armaduras já gastas do obscurantismo e clericalismo: o Vaticano e as teorias racistas; o nacionalismo selvagem e a caduca filosofia idealista; a corrupta imprensa amarela e a podre arte burguesa. Mas a força, evidentemente, é insuficiente. Sob a bandeira de luta “ideológica”, luta contra o marxismo, recrutam agora também as suas últimas reservas. São atraídos os gangsters, caftens, espiões e criminosos. Tomarei, ao acaso, um exemplo recente. Como informou há poucos dias “Izvestia”, na revista “Tempos Modernos”, que está sob a direção do existencialista Sartre, é exaltado como uma revelação o novo livro do escritor Jean Genêt, “Diário de um ladrão”, que começa com estas palavras:

“A traição, a roubalheira e o homo-sexualismo — tais serão os meus temas fundamentais. Existe uma ligação orgânica entre a minha atração pela traição, para a ocupação com roubalheiras e minhas aventuras amorosas”.
O autor, evidentemente, conhece o seu assunto. As peças de teatro deste Jean Genêt, largamente anunciadas, permanecem na cena parisiense e o próprio Jean Genêt foi chamado insistentemente à América. Tal a “última palavra”, da filosofia burguesa.

Já é conhecido, pela experiência da nossa vitória sobre o fascismo, a que impasse foram levados povos inteiros pela filosofia idealista. Agora, ela apareceu com sua nova natureza, abominavelmente suja, que reflete toda a profunda indignidade e baixeza do desmoronamento da burguesia. Caftens e criminosos elevados à categoria de filósofos são realmente a expressão extrema da ruína e corrupção da burguesia. Essas forças, contudo, ainda “estão vivas e são capazes de envenenar a consciência das massas.

A ciência burguesa contemporânea fornece ao clericalismo, ao fideísmo, nova argumentação, que precisa ser implacavelmente desmascarada. Tomemos, por exemplo, a doutrina do astrônomo inglês Eddington sobre as constantes físicas do mundo, que diretamente o conduz à mística pitagórica dos números e, das suas fórmulas matemáticas, conclui tais “constantes essenciais” do mundo, como o apocalíptico número 666, etc. Não compreendendo a marcha dialética do conhecimento, a inter-relação das verdades absoluta e relativa, muitos continuadores de Einstein, transferindo certamente os resultados das investigações das leis do movimento de uma parte limitada e finita do universo para todo o universo infinito, chegam até à idéia de que o mundo é finito, até à sua limitação no tempo e no espaço. O astrônomo Milne até “calculou” que o mundo foi criado já há 2 bilhões de anos. Para esse sábio inglês são aplicáveis, quiçá, as palavras de seu grande compatriota, o filósofo Bacon, sobre aqueles que transformam a impotência de sua ciência em calúnia contra a natureza.

Igualmente, as manobras kanteanas dos físicos atômicos da burguesia contemporânea, conduzem-os à conclusão lógica sobre o “livre arbítrio” no eletrônico, às tentativas de interpretar a matéria tão somente como um conjunto de ondas, com o diabo a quatro. . .

Aí há um campo colossal para a atividade dos nossos filósofos, que devem analisar e generalizar as conquistas das ciências naturais contemporâneas, lembrando-se da indicação de Engels, de que o materialismo “deve se modificar segundo toda nova grande descoberta, que marque época nas ciências naturais.” (F. Engels — Ludwig Feuerbach, K. Marx e F. Engels, Obr. Compl., T. XIV, pág. 647).

A quem, então, cabe essa tarefa, senão a nós, do país em que venceram o marxismo e seus filósofos, de estar à frente na luta contra a putrefata e nojenta ideologia burguesa; a quem cabe essa tarefa, senão a nós, de desfechar golpes destruidores!

A Vitória do Marxismo

Das cinzas da guerra nasceram novos estados democráticos e o movimento de libertação nacional dos povos coloniais. O socialismo se impôs na ordem do dia da, vida dos povos. A quem cabe a tarefa, senão a nós, do país em que venceram o socialismo e seus filósofos, de ajudar os nossos amigos e irmãos do estrangeiro e esclarecê-los na sua luta pela nova sociedade à luz do conhecimento do socialismo científico; a quem, senão a nós, cabe a tarefa de esclarecê-los e equipá-los com as armas ideológicas do marxismo!

No nosso país, realiza-se um poderoso florescimento da cultura e economia socialistas. O seguro crescimento da consciência socialista das massas apresenta sempre mais e mais exigências para o nosso trabalho ideológico.

Realiza-se um desenvolvido ataque contra as sobrevivências do capitalismo na consciência dos homens. A quem, senão aos nossos filósofos, cabe ia tarefa de estar à frente das fileiras de trabalhadores da frente ideológica, de aplicar totalmente a teoria marxista do conhecimento na generalização da imensa experiência da construção socialista e nas decisivas e .novas tarefas do socialismo!

Em face desses magnos problemas, poder-se-ia perguntar: são os nossos filósofos capazes de assumir a responsabilidade de novas tarefas; existirá ainda bastante energia entre os nossos filósofos; não se enfraqueceram ainda As forças filosóficas, Serão ainda capazes os nossos quadros filosóficos científico, por meio de suas forças internas, de superar as falhas de seu desenvolvimento e reconstruir de novo o seu trabalho? Nesta questão não podem haver duas opiniões. A discussão filosófica mostrou que essas são importantes, que essas forças são capazes de revelar as suas falhas para superá-las. É preciso apenas mais fé em suas própria forças, mais emprego dessas forcas nos ativos combates, no levantamento e soluções dos empolgantes problemas contemporâneos. É preciso acabar com a falta de espírito de luta, ter mais dinamismo no trabalho; expulsar de si o caduco Adão e começar a trabalhar como trabalhavam Marx, Engels, Lénin, como trabalha Stálin.

Camaradas, vós vos lembrais como Engels, em seu tempo, rejubilava-se e assinalava como importante acontecimento político, de imensa significação, a venda dos livros marxistas, cujas tiragens eram de 2 a 3.000 exemplares. Disto se conclui que para o nosso estalão, já é insignificante tal venda, da qual Engels deduzira que a filosofia marxista se havia enraizado profundamente na classe operária. E que dizer sobre a penetração da filosofia marxista nas largas camadas do nosso povo e que diriam Marx e Engels se eles soubessem que os trabalhos filosóficos, entre nós, se propagam pelo povo em dezenas de milhões de exemplares? Esta a verdadeira vitória do marxismo e isto é testemunha de que a magna doutrina de Marx—Engels—Lénin—Stálin tornou-se, entre nós, a doutrina de todo o povo e sobre essa base fundamental, de que não há igual no inundo, deve florescer a nossa filosofia. Sede dignos de nossa época — época de Lénin—Stálin, época do nosso povo, povo vitorioso!

As Tarefas dos Partidos Comunistas

“O perigo principal para a classe operária consiste, atualmente, na subestimação das próprias forças e na superestimação das forças do adversário. Como no passado, a política de Munich encorajou a agressão hitlerista, também hoje as concessões à nova política dos EE. UU. da América e do campo imperialista podem tornar os seus inspiradores ainda mais insolentes e agressivos. Por isso, os Partidos Comunistas devem pôr-se à frente da resistência aos planos imperialistas de expansão e de agressão em todos os campos: governativo, político, econômico e ideológico. Eles devem cerrar fileiras, unir os seus esforços na base de uma plataforma anti-imperialista e democrática comum e reunir em torno de si as forças democráticas patrióticas do povo.”

A. Zhdanov
Do informe à Conferência dos Nove Partidos Comunistas em Varsóvia.