A imprensa e os teóricos da burguesia, em comum acordo com os revisionistas, procuram apresentar os acontecimentos que hoje se sucedem naquele país como uma verdadeira “revolução” política, econômica e social, de sentido progressista e democrático. Atribuem a profunda e multilateral crise em que a União Soviética está mergulhada ao sistema socialista e ao mesmo tempo apregoam que as reformas de Gorbachev na direção de um capitalismo aberto e clássico é a única alternativa de solução. A grande burguesia cobre de elogios o atual líder revisionista.

Uma análise rigorosa da conjuntura e da história soviéticas, entretanto, evidencia que os argumentos utilizados pela burguesia e pela pequena burguesia para enaltecer e justificar a perestroika são falaciosos. Não correspondem aos fatos, em primeiro lugar porque a crise que hoje dilacera a URSS é, na verdade, o coroamento da obra de restauração capitalista iniciado pós-ascensão de Kruschev ao poder; e, em segundo, porque as reformas de Gorbachev acentuam ainda mais o caráter capitalista do regime, de onde inevitavelmente provém a crise.

Os artigos contidos nesta revista defendem e ajudam a comprovar esta tese, levantada já faz certo tempo pelos marxistas-leninistas – e contribuem para a compreensão do revisionismo soviético. Na abertura da publicação reproduzimos o prefácio da terceira edição do livro Socialismo, ideal da classe operária, aspiração de todos os povos, de João Amazonas, escrito pelo próprio autor.
João Amazonas

Neste livro, em terceira edição, o leitor encontrará uma série de artigos e conferências sobre o socialismo e o papel do partido comunista na edificação da nova sociedade. Exalta-se o socialismo científico e a importância da organização de vanguarda da classe operária. Não se trata de propaganda à maneira capitalista para vender produtos e idéias lançados ao mercado. Aqui a propaganda tem o sentido político-ideológico de demonstrar a justeza das concepções de Marx e Engels acerca da inevitabilidade da liquidação do sistema capitalista e da instauração em todo o mundo do regime socialista, “em transição para o comunismo.

Entre a segunda edição e a terceira ocorreram fatos gravíssimos na União Soviética e nos denominados países da democracia popular. Fatos que evidenciam o seu distanciamento sempre maior da revolução proletária. É sabido que no 20° Congresso do PCUS, realizado em 1956, adotaram-se decisões que mudavam o rumo revolucionário da URSS. Nikita Kruschev desencadeou esse processo malsão. Foi substituído em 1964 e teve o seu posto ocupado por Leonid Brejnev. Este seguiu o mesmo caminho do seu antecessor. Esforçou-se, porém, em camuflar as transformações capitalistas que se vinham operando. Alguns anos depois, a União Soviética entrava em crise. Brejnev morreu e o poder acabou caindo nas mãos de Mikhail Gorbachev. Com ele, as máscaras desceram de vez.

Apareceu no cenário político a perestroika, badalada pelo capital financeiro internacional. Daí por diante pôs-se em prática abertamente o sistema capitalista. As antigas formas de estruturação da sociedade, que vinham da época de Lênin e Stalin, já não podiam acomodar o novo conteúdo da orientação revisionista. Gorbachev encarregou-se de abrir o jogo. Passou a predominar a economia de mercado, o lucro voltou a ser o objetivo principal da produção, instalaram-se grandes indústrias do capital estrangeiro que exploram a mais-valia dos operários, o sistema de arrendamento de terras foi restaurado. Os sovietes, base da organização estatal criada pelos trabalhadores, converteram-se em parlamentos do tipo burguês. E o partido comunista, totalmente desfigurado, deixou de ser a força dirigente da sociedade.

Nada mais resta de socialismo proletário, científico, na União Soviética. É um país capitalista como outro qualquer, uma superpotência imperialista. A perestroika é o esforço feito para consolidar o capitalismo.

Através da renovação do parque industrial, visa a colocar a URSS em nível de competitividade capitalista com as outras potências da América, da Europa e da Ásia. Gorbachev fala na paz e prega a redução da corrida armamentista, por enquanto. Adiante, ingressará nos descaminhos da guerra, que é a lógica da concorrência imperialista. Utilizando o retrocesso verificado na União Soviética, a burguesia faz intensa campanha contra o socialismo, pretendendo confundir os explorados e oprimidos de todo o mundo. Com os meios de comunicação de massa em suas mãos, tenta denegrir as idéias avançadas do proletariado revolucionário e “convencer” o povo de que o comunismo fracassou. Tudo de grandioso erigido na URSS, no tempo da ditadura do proletariado, é amesquinhado, menoscabado. Os que se empenharam na construção heróica e vitoriosa da nova sociedade são apresentados como bárbaros, que teriam sufocado a liberdade e assassinado milhões de pessoas. A burguesia procura desmoralizar o poder da classe operária que, em sua opinião, só cometerá desatinos e atrocidades de toda espécie.

Quando não podem negar as êxitos, os detratores do socialismo argüem a falta de liberdade, que seria o supremo bem da vida (…) Mas a liberdade, como a democracia, é um conceito político de classe. Na época do feudalismo, apenas os senhores feudais se consideravam livres. No capitalismo, a verdadeira liberdade existe somente para os ricos, os donos do capital. Os operários e os camponeses, em matéria de liberdade, movem-se no estreito círculo de ferro das conveniências burguesas. É diferente no socialismo. Os explorados e oprimidos são emancipados, tornam-se libertos, conquistam o direito de defender seus interesses vitais que se confundem com os da humanidade progressista. Usam esse “supremo bem” para lutar contra os exploradores e construir uma sociedade sem classes e sem Estado na fase do comunismo.

A propaganda mentirosa dos capitalistas produz algum efeito. Pessoas ingênuas em política deixam-se envolver nas artimanhas da burguesia. Em especial a classe média, mas também setores do proletariado. Sem perspectiva, voltam-se para as soluções que pregam o socialismo integrado no capitalismo. Batem palmas à perestroika. Não querem ouvir falar de luta de classes, principalmente no plano político. Chegam mesmo a acreditar numa pretensa nova fase de desenvolvimento do capitalismo… moribundo. A vida, entretanto, tem demonstrado que esse socialismo pequeno-burguês não passa de variante da dominação burguesa. Enquanto perdurar o capitalismo os trabalhadores serão sempre explorados e privados de seus direitos fundamentais.

Os ricos se tornam mais ricos e perdulários, esbanjam fortunas, enquanto os pobres, em número crescente, amargam uma existência de miséria e sofrimentos.

Aí está a realidade indesmentida. A situação da classe operária e dos assalariados em geral, em todo o mundo, é angustiante. Milhões de pessoas vivem na extrema pobreza. O capitalismo de hoje assegura condições razoáveis de vida unicamente a uma parcela pequena da comunidade humana.
O socialismo, porém, não morreu, como apregoa a burguesia. Continua a ser sonho e esperança dos proletários de todos os países. Não é uma invenção de idealistas, nem um acidente na história da humanidade. É uma exigência da evolução contraditória da sociedade de classes em que vivemos. Triunfou na Rússia de 1917, e provou, em quase quarenta anos, ser o elo histórico da transição do capitalismo ao comunismo. De país atrasado, um dos mais atrasados da Europa, a União Soviética, com o socialismo, alcançou o mais avançado do mundo, os Estados Unidos. Chegou a ser a segunda economia mundial. O primeiro a acabar com a exploração do homem pelo homem, a irmanar operários e camponeses no esforço comum de construir o mundo novo. O pioneiro na exploração do espaço. O inimigo resoluto do fascismo e da guerra. O realizador da união fraternal de nações e povos existentes em seu território.

Lênin afirmava que o socialismo triunfaria inevitavelmente em todo o mundo. Dizia que “as relações de economia e de propriedade privada constituem envoltura que já não corresponde ao conteúdo da socialização elevada da produção”. É necessário superar essa contradição por meios revolucionários. “Se se adia de maneira artificial sua supressão (as relações de economia e propriedade privada) elas permanecerão em estado de decomposição durante um período relativamente largo (no pior dos casos, se a cura do tumor oportunista se prolongar demasiado). Sem dúvida, porém, serão inelutavelmente suprimidas” (V. I. Lênin O imperialismo, etapa superior do capitalismo).
Precisas, as palavras de Lênin. O tumor oportunista se manteve e adquiriu, com o revisionismo, caráter ainda mais putrefato. Por meios artificiais a solução radical vem sendo adiada. O resultado é a decomposição prolongada do capitalismo que atinge todos os setores de atividade humana. A chaga do desemprego, a fome que se expande em toda parte, o desamparo da infância, a corrupção, a marginalização de milhões de pessoas, a pornografia, a criminalidade em progressão, o fascismo, o armamentismo absurdo, a inflação continuada, o domínio esmagador de um punhado de parasitas do capital financeiro sobre a imensa maioria dos países e povos – tudo isso não é senão manifestação brutal da decomposição do capitalismo agonizante.

Vencer o oportunismo, em suas diferentes formas, é uma das grandes tarefas da época que vivemos, porque ligada à derrubada do sistema capitalista. Quem sustenta esse regime iníquo não é principalmente a máquina repressiva e violenta da burguesia. Esta, os trabalhadores e os povos, em estado de revolução, destruirão. O sustentáculo da ordem capitalista são os oportunistas que ajudam a burguesia a enganar os trabalhadores, a desviá-los da luta radical emancipadora. A ascensão do revisionismo, a forma mais descarada e perniciosa do oportunismo, envolvendo a União Soviética, a China e outros países, liquidou em muitos lugares o partido revolucionário da classe operária. Arrancou-lhe a alma, desfibrou-o. Anatematizou o marxismo-leninismo, a força espiritual que educa, organiza e mobiliza os trabalhadores para a revolução.

Mas o capitalismo está condenado. Os oportunistas não poderão mantê-lo indefinidamente. O movimento comunista revolucionário continua existindo e lutando a fim de transformar o mundo. Os autênticos partidos comunistas aumentam sua influência sobre as massas. Os trabalhadores se rebelam contra a ordem vigente. Chegará o momento do triunfo definitivo do socialismo proletário, científico.

EDIÇÃO 17, JUNHO, 1989, PÁGINAS 3, 4, 5, 6