Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo. Estas palavras célebres, que ameaçam as classes dominantes do capitalismo e soam como promessa de superação definitiva dos males deste sistema para os trabalhadores, abrem o Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels, que comemora 150 anos de publicação neste mês de fevereiro. A revista Princípios número 47 dedicou sua capa a este tema. Nesta edição, contamos com dois artigos sobre a mesma questão: um de João Amazonas e outro de Luis Fernandes, abordando sob ângulos diferentes o texto de 1848.

Uma série de eventos vai marcar este aniversário. Isso é muito justo e correto. Mas, em muitos aspectos, são comemorações que tratam o Manifesto como um texto morto, importante mas superado, correto no passado mas cujas teses não se aplicam mais hoje. Outros pensam que, com as mudanças ocorridas neste final de século, é preciso reescrever aquele texto para atualizá-lo.
O Manifesto é o primeiro e principal programa estratégico da classe operária. Iluminou a luta pelo socialismo desde meados do século passado. Herdeiros da tradição de Marx e Engels, legatários das idéias e do espírito do Manifesto, os comunistas têm nele um documento vivo e atual. Não o tomam de modo dogmático – não como um evangelho leigo, anúncio pronto e acabado de um mundo novo, a ser tomado rigorosamente ao pé da letra. Não. A atualidade de suas teses decorre do exame da vida real, objetiva, e é ressaltada pelas mazelas que o capitalismo espalha.

Analisando o modo capitalista de produção, e prevendo os desdobramentos práticos e históricos de sua lógica de dominação, Marx e Engels produziram, há um século e meio, a mais vigorosa descrição do que viria a ser o capitalismo. E, de certa forma, o mundo globalizado deste final de século, é a realização real, objetiva, daquela genial antevisão teórica.

O capitalismo cria riquezas de forma inaudita, mas também gera a miséria mais profunda; concentra bens materiais nas mãos de poucos, e deixa enormes massas à míngua; leva o conhecimento às entranhas mais íntimas da matéria, mas mantém bilhões de pessoas na ignorância e na alienação; liberta o indivíduo e permite seu desenvolvimento, mas impede que todos os homens e mulheres possam desenvolver seu potencial humano – hoje, todos estes traços do capitalismo espalham-se pela Terra inteira, semeando catástrofes e deixando um rastro de destruição.

Os mitos capitalistas tombam um após outro – ontem, foi o México; hoje, como bem ilustra a capa desta edição, são os "tigres" asiáticos, ilustrando a crise global deste sistema que apregoa a liberdade mas levanta novos muros da vergonha para proibir a circulação dos trabalhadores, assunto de reportagem de Carlos Azevedo.

Os comunistas combatem pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária; mas, na luta presente, não deixam de representar os objetivos futuros desse movimento, escreveram Marx e Engels no Manifesto. Este é o ponto que garante a atualidade Desse programa político revolucionário, a despeito de todos aqueles para quem este documento ficou caduco. Ao contrário, documento extremamente plástico e flexível, capaz de adaptar-se às diferentes conjunturas da vida e da história dos trabalhadores, o Manifesto não permite que fique em segundo plano a luta, essencial, pelo fim do capitalismo e sua substituição por um sistema superior. Por isso os pregoeiros do capitalismo só podem considerá-la um documento ultrapassado; por isso, também, que ele continua sendo o programa fundamental dos que lutam contra a injustiça e a opressão de classe.

EDIÇÃO 48, FEV/MAR/ABR, 1998, PÁGINAS 3