O lançamento, em Curitiba, do livro Os desafios do socialismo no século XXI, do presidente nacional do PCdoB, João Amazonas, reuniu, no dia 24 de novembro de1999, no salão de eventos do Hotel Araucária, políticos, lideranças sindicais e estudantis, personalidades do mundo cultural e acadêmico do Paraná, como o reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Carlos Roberto Tavares.

O histórico dirigente comunista, então com 87 anos de idade – completou 88 em 10 de janeiro último – reafirmou sua opção política – "sou socialista, comunista não por razões de fé, mas por convicção científica" – e proferiu ampla e firme defesa do ordenamento social, econômico e político que mudou a face das sociedades em que vigeu e vige. Mas destacou que não se trata de retomar o socialismo do ponto em sofreu derrotas e, em alguns lugares, foi desarticulado. "Temos pela frente o desafio de compreender e desenvolver um socialismo renovado, depurado das imperfeições e equívocos verificados ao longo das primeiras experiências a partir da revolução de 1917" – garantiu.

Esta visão dialética do socialismo tem sido um traço importante nas intervenções de Amazonas a respeito do tema que, afinal, vem polarizando sua militância que já conta com quase três quartos de século. A visão do socialismo à margem da imposição de modelos, que se desenvolve fiel aos princípios fundamentais, mas segundo processos configurados historicamente, ajustados às especificidades de onde ocorre, foi ponto essencial da palestra proferida por Amazonas antes de iniciar a sessão de autógrafos. O tema é caro aos socialistas que não se venderam à hegemonia neoliberal da última década. E demonstra que, percebido assim dialeticamente, o socialismo readquire, como escrevi num artigo recente sobre Cuba para um jornal do Paraná, "o viço que lhe é próprio, recompõe-se dos erros que redundaram em seu fracasso na União Soviética e no Leste europeu e, ainda que lentamente, vai se requalificando diante da Humanidade como a única alternativa civilizatória viável à cada vez mais assustadora barbárie capitalista".

No entanto, como aplicado militante da transformação social, Amazonas discorreu sobre a estratégia, mas não esqueceu da tática. E destacou que o principal entrave para o desenvolvimento justo, democrático e soberano do Brasil é () governo FHC e seu receituário neoliberaI. Defendeu novos rumos para o país e reafirmou que para derrotar FHC "é necessária uma ampla aliança social que não se resuma aos partidos de esquerda, mas abarque amplos setores representativos da sociedade civil brasileira, do mundo cultural e acadêmico, do movimento social". E convocou os paranaenses a organizarem no estado movimentos cívicos em defesa do Brasil, da democracia e do trabalho.. "Estas palavras de ordem exprimem hoje os anseios populares e a superação dos entraves que se opõe à ampliação da democracia entre nós, à justiça social para todos e ao fortalecimento da soberania nacional", Assim, o legendário e infatigável dirigente comunista emprestou à sua estada em Curitiba um conteúdo de luta e esperança. E isso não é pouco nesses tempos bicudos.

EDIÇÃO 56, FEV/MAR/ABR, 2000, PÁGINAS 82