Não se sabe se é intencional. Mas quando aparece na tv, ele joga o rosto de um lado para outro, num movimento meio cômico, sempre se apresentando de perfil no vídeo. Nesse bailado cefálico, seu corpo também dá certos pulinhos. É como se ele estivesse permanentemente cabeceando uma bola para o lado.

      Esse jogo eufórico de cabeça, dizem seus desafetos, é próprio de sua personalidade: bifronte, jamais encara o mundo. Oferecendo ambas as faces, faz que segue os conselhos de Cristo, mas na verdade age – sempre segundo os que não o topam – como os eqüinos: preferem sempre apresentar os flancos – e os cascos.

      Ainda dentro desta linha psicanalítica, há quem diga em bom português que ele é mesmo um duas-caras, daí a necessidade de mostrá-las alternadamente. O que é contestado pela corrente que sustenta ser incoerente que um duas-caras mostre-as ambas a seu eleitorado. Para esses analistas, o que na verdade ocorre é que as caras são uma e a mesma e que ele as dá em desgracioso bailado porque sofre do mal de Narciso, assim como um certo ex-presidente defenestrado do Planalto pela tribo selvagem dos carapintadas.

      Outros, menos afeitos a análises de caráter, dizem que esse seu ziguezague capitular tem relação com o leque de alianças que o sustenta. De babalorixás malvados a ex-comunistas arrependidos, passando por sindicalistas mafiosos, seu staff de campanha não se entende: ser ou não ser oposição? – eis a questão. O que, então, explicaria a coreografia das caras e bocas seria justamente a necessidade de ganhar, tanto o eleitorado oposicionista, quanto o governista.

      Dona Isolete já não concorda com nenhuma destas opiniões. Cliente antiga de um turco que tudo resolve, a veneranda senhora tem setenta anos, sete gatinhos e algumas dúzias de passarinhos. Inquirida sobre a já exaustivamente referida dança da cabeça, ela arrisca:
– Vai ver o coitado tá sempre com pressa, e acostumou a falar assim olhando de lado, como se tivesse correndo.

      Já a namorada do bailarino diz que ele é assim mesmo. Quem chegar junto corre o risco de tomar uma cabeçada, é verdade, mas acaba gostando.

      …

      Mas, peraí: dele ou da cabeçada?