Você, por mim
Venha bem devagarzinho e sente aqui, com a cabeça bem virada pra mim, que é para eu saber dos teus olhos em mim. Que é para eu saber de ti. Porque quando tuas jabuticabas rolam para longe nem me venha falar de amores, que nós sabemos ser tudo disfarce. É tristeza e desilusão.
E eu, na condição de cicerone nesse mundo assim tão em falsete, tenho o dever de te dizer, não desvie, menino. Não é feio não saber que dor é essa. Errado é querer falar de amores, quando o dia não está para perfumes. Então me diga logo por onde devemos começar. Posso beijar-lhe as pestanas, ou fazer apertinhos na orelha.
Desde que eu já tenha verificado: elas não estão arroxeadas, as tuas jabuticabas, direi. E tu já terás morrido de rir e aí eu saberei, sim, está tudo bem. Porque as tuas córneas são tão sinceras que é capaz de qualquer dia elas se separarem de ti. É que nunca vimos uma pessoa assim, tão fantasiada de outra.
Não que isso seja pejorativo, é mais um instinto de preservação. Mas, eu te digo, não precisamos de joguetes, eu, você e as jabuticabas, elas sabem. Porque, da minha parte, estarei sempre aqui, bem devagarzinho, querendo te acolher. Que tenho ainda muito para te mostrar, principalmente daqui, dos meus olhos de sei-lá-o-quê.
Então venha, sente aqui e deixe eu te dizer como a gente não sabe mesmo se enxergar. Os espelhos não servem para dias sem perfumes. Mas eu te mostro meu jeitinho de te ver, que é o mais certo de todos. E então poderemos falar de amores, ou apenas não falar mais nada.