Era menina, mas não era besta. Percebeu que aquele olhar dele não era olhar de irmão. Quase que sentiu-se apalpada. Não tinha também como negar que uma coisa lhe subiu lá dentro e veio lhe queimar o rosto. Não saberia dizer se era vergonha. Não parecia ser.

      Ele ali, parado na porta, abobado, olho preso nela. Não lembrava sua cara de antes.

      Mãe nunca lhe contara nada dele. Nem pai. Aí, aparece aquele homem, barba na cara; cara de bode. Camisa aberta no peito, nem forte, nem magro. Olho mais preto que o medo. Um cheiro que parecia vir de longe – nem ruim, nem bom: só cheiro.

      Mãe, quando deu com ele na porta, ficou como estátua. Não era espanto. Nem receio. Era como que uma espera; um vamo vê comé que fica. Pai tava fora. Dos meninos, só os dois miúdos.

     Ele grunhiu um salve. Diante de tanto silêncio, ela resolveu fazer as honras:

      – Boas tardes.

      Ele não respondeu. Ficou ali, mirando-a, com um ar assim meio parvo, mas atento.

      – Que cê veio fazer aqui?

       Era Mãe, seca.

       Parece que só aí ele deu conta da velha e dos meninos. Ergueu a matula do chão, pegou o rumo do quarto dos fundos e sorveu-se nas sombras de lá.

      Não sabia explicar, mas sabia quem ele era. Só perguntou a Mãe:

      – Ponho mais feijão pra cozinhar?

      – Ponha – respondeu a velha.