Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    Beleza perfeita

    Quero escrever a alma desta hora, como quem prega na lapela de festa a borboleta última – creme, limão, canário – que acaba de pulsar entre meus olhos bêbados de formosura… A beleza perfeita destas águas amigas; a vida exuberante da floresta múltipla: o sarã rasteiro chapinhando, o alto louro moço, a imbaúba – figueira […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Quero escrever a alma desta hora,
    como quem prega na lapela de festa
    a borboleta última
    – creme, limão, canário –
    que acaba de pulsar entre meus olhos
    bêbados de formosura…
    A beleza perfeita destas águas amigas;
    a vida exuberante da floresta múltipla:
    o sarã rasteiro chapinhando,
    o alto louro moço,
    a imbaúba – figueira de lapela virada,
    o vermelhão estendido
    e a taboca fiandeira
    de filamentos amarelos e de lancetas verdes-claras.
    Revoa um papagaio, travesso de alegria.
    Cruzamos ilhas, lagos, enseadas.
    As nuvens lassas dão ao rio quieto
    um tom de transida madrepérola.
    E o sol do Mato Grosso faz-se tíbio
    para não calcinar tanta beleza.

    O barco pára. Falam os meninos
    do tão falado amor.
    E riem duas mocinhas morenas, na margem,
    descalças, despenteadas,
    pura beleza índia em bruto.
    Outra vez se adiou o casamento!

    Ronca o motor de novo. A menina
    de mil sangues cruzados
    – Ásia, África, Europa: Ó América! –
    me sorri, com dentes espaçados
    e umas tranças minúsculas,
    emoldurada na luz pela janela
    aberta à flor do rio.

    Depois, entre as páginas do livro
    – a palavra e a margem paralelas –
    uma inhuma de peitilho branco
    alça o vôo, inefável, desta areia
    eriçada de um verde calafrio.

     

    Antologia Retirante – poemas
    Dom Pedro Casaldáliga
    Editora Civilização Brasileira – edição 1978
     

    Notícias Relacionadas