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    Comunicação

    O morcego

    Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. “Vou mandar levantar outra parede…” – Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre a minha […]

    POR: Redação

    1 min de leitura

    Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
    Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
    Na bruta ardência orgânica da sede,
    Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

    “Vou mandar levantar outra parede…”
    – Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
    E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
    Circularmente sobre a minha rede!

    Pego de um pau. Esforços faço. Chego
    A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
    Que ventre produziu tão feio parto?!

    A Consciência Humana é este morcego!
    Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
    Imperceptivelmente em nosso quarto!

    Augusto dos Anjos
    Eu, 1912