Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    A justiça pela mão

    Aqueles com fama de honrados na vila roubaram-me a veste com que me cobria, jogaram-me estrume nas galas de um dia, a roupa que usava rasgaram-me em tiras. Nem pedra deixaram aonde eu vivia sem lar, sem abrigo, nas terras baldias, no chão como as lebres dormi nas campinas, meus filhos, meus anjos que tanto […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Aqueles com fama de honrados na vila
    roubaram-me a veste com que me cobria,
    jogaram-me estrume nas galas de um dia,
    a roupa que usava rasgaram-me em tiras.

    Nem pedra deixaram aonde eu vivia
    sem lar, sem abrigo, nas terras baldias,
    no chão como as lebres dormi nas campinas,
    meus filhos, meus anjos que tanto eu queria,
    morreram, morreram da fome que tinham!

    Fiquei desonrada, murcharam-me a vida,
    fizeram-me um leito de silvas e espinhos
    e no entanto os raposos de raça maldita
    tranqüilos num leito de rosas dormiam.

    “Salvai-me, ó juizes!” – gritei… e eles riram,
    Zombaram de mim, e vendeu-me a justiça,
    “Bom Deus, ajudai-me” – gritei afligida,
    tão alto que estava, bom Deus não me ouvira.

    Então como loba doente ou ferida,
    de um salto com raiva tomei a foicinha,
    rondei de mansinho… nem folha me ouvia!
    E a lua escondia-se, e a fera dormia
    com seus companheiros em colcha macia.

    Olhei-os com calma, e as mãos estendidas
    de um golpe, de um só, eu deixei-os sem vida.
    E ao lado, contente, sentei-me das vítimas,
    tranqüila esperando pela alva do dia.

    E então… e então se cumpriu a justiça,
    eu neles; e as leis, nesta mão que os ferira.*

     

     

    Poesia
    Rosalía de Castro
    Seleção e versão do galego e do espanhol: Ecléa Bosi
    Editora Brasiliense – 2 edição, 1987