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    Comunicação

    Che Guevara

    E, por fim, me chamou também tua morte desde a seca luz de Vallegrande. Eu, Che, prossigo crendo na violência do Amor: tu próprio dizias que “é preciso endurecer-se sem perder nunca a ternura”. Mas tu me chamaste. Também tu. (Os temas compartilhados, dolorosos. Os múltiplos olhares moribundos. A inerte compaixão exasperante. As sábias soluções […]

    POR: Dom Pedro Casaldáliga

    2 min de leitura

    E, por fim, me chamou também tua morte
    desde a seca luz de Vallegrande.
    Eu, Che, prossigo crendo
    na violência do Amor: tu próprio
    dizias que “é preciso endurecer-se
    sem perder nunca a ternura”.

    Mas tu me chamaste. Também tu.
    (Os temas compartilhados, dolorosos.
    Os múltiplos olhares moribundos.
    A inerte compaixão exasperante.
    As sábias soluções à distância…
    América. Os pobres. Esse Terceiro Mundo,
    quando não há mais que um mundo,
    de Deus e dos homens!)

    Escuto, no transístor, como te canta
    a juventude rebelde,
    enquanto o Araguaia pulsa a meus pés, como uma artéria viva,
    transido pela lua quase cheia.
    Apaga-se toda luz. E é só noite.
    Rodeiam-me os amigos distantes, vindouros.
    (“Pelo menos tua ausência é bem real”,
    geme outra canção… Oh! a Presença
    em Quem eu creio, Che,
    a Quem eu vivo,
    em Quem espero apaixonadamente!
    … A estas horas tu sabes bastante
    de encontros e respostas.)

    Descansa em paz. E aguarda, já seguro,
    com o peito curado
    da asma do cansaço;
    limpo de ódio o olhar agonizante;
    sem mais armas, amigo,
    que a espada despida de tua morte.
    (Morrer sempre é vencer
    desde que um dia
    Alguém morreu por todos, como todos,
    matado, como muitos…)

    Nem os “bons” – de um lado –,
    nem os “maus” – do outro –,
    entenderão meu canto.
    Dirão que sou apenas um poeta.
    Pensarão que a moda me ganhou.
    Recordarão que sou um padre “novo”.
    Nada disso me importa!
    Somos amigos
    e falo contigo agora
    através da morte que nos une;
    estendendo-te um ramo de esperança,
    todo um bosque florido
    de ibero-americanos jacarandás perenes,
    querido Che Guevara!

     

    Antologia Retirante – poemas
    Dom Pedro Casaldáliga
    Editora Civilização Brasileira – edição 1978