Em 1949 a China mal produzia um milhão de toneladas de aço. Em 2007 sua produção ultrapassou a casa dos 500 milhões. Em 1978, o país contava com mais de 500 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza e hoje não passa dos 40 milhões. Há 30 anos atrás mal se percebia a presença deste país asiático no mercado internacional. Em 2009 passou a ocupar o posto de maior exportador mundial baseada numa economia que cresceu mais de 30 vezes desde 1978.

O mundo tem passado, nos últimos dois anos, pela maior crise econômico/financeira já registrada desde o crash de 1929. Como sempre, desde a crise financeira asiática de 1997, muitos apostavam numa débâcle do “modelo chinês”. Mas, o que poucos perceberam é que nas últimas décadas foram gestadas todas as condições para que o país, não somente enfrentasse, os óbices de uma quebra da economia internacional. O mais interessante é que a China fez-se avançar em meio à crise expondo ao mundo que uma nova potência econômica e financeira estava na arena e pronta para tomar dos EUA o posto de primeira economia do mundo nos próximos 30 anos. Da mesma forma que os EUA na segunda metade do século XIX esse avanço se dá pari passu com a formação de uma economia continental unificada e com um mercado de mais de um bilhão de habitantes totalmente conectado com conseqüências ao mundo que se farão sentir nos próximos séculos.

É com este espírito de análise de fundo da realidade que a Fundação Maurício Grabois inaugura esse “Especial China” em seu portal. Num primeiro momento, a nossa idéia é discutir pontos de vista que nos capacite a delinear os marcos gerais e específicos do “modelo chinês” ou, como preferirem, do “socialismo com características chinesas”. Com o tempo e a interação com os visitantes do portal partiremos para algo ainda em gestação no mundo em crise: o alargamento da presença chinesa no mundo e seu papel na superação desta problemática financeira internacional.

Em princípio estaremos expondo seis artigos. Apesar de ter sido publicado há cerca de seis anos á atual o profundo balanço encaminhado pelo Embaixador Amaury Porto de Oliveira em “Governando a China: A Quarta Geração Dirigente Assume o Controle da Modernização” da superestrutura de poder da China e uma retrospectiva do papel de Mao Tsétung, Deng Xiaoping e Jiang Zemin na conformação da China quem 2003 passou a ser dirigida pela chamada “Quarta Geração Dirigente” nucleada por Hu Jintao. O professor do Instituto de Economia da UFRJ, Carlos Aguiar de Medeiros, em “Notas Sobre o Desenvolvimento Econômico Recente da China” de forma interessante lança luz aos aspectos principais do chamado “modelo chinês” de desenvolvimento. Já o pesquisador de nossa Fundação e doutorando em Geografia Humana pela USP, Elias Jabbour, em “Conceito Científico’ e os Desafios do
Desenvolvimento na China de Hoje” trabalha os desdobramentos do modelo chinês sob os marcos da elaboração de um novo conceito de desenvolvimento capaz de dar cabo às contradições do próprio processo em andamento na China.

O professor do Departamento de Relações Internacional da PUC-SP, Henrique Altemani de Oliveira em “China: Perspectivas e Desafios” buscou reunir alguns
elementos sobre a estratégia de inserção regional/internacional da China que possam embasar uma reflexão sobre o atual processo de redefinição do sistema internacional do Pós-Guerra Fria. Por sua vez o pesquisador argentino, Sergio Cesarin em “El Factor China em nos Nuevos Equilibrios Regionales” nos coloca a reflexão acerca dos novos cenários e arrumações da cena internacional com a crescente influência exercida pela China. E o economistaTheotonio dos Santos em “O Marxismo Como Projeto e a Experiência Chinesa” nos remete a necessária relação entre o desenvolvimento da China e os desafios do pensamento marxista.

Enfim, iniciamos este projeto de discussão sobre o China neste portal com seis interessantes contribuições. Esperamos não parar por aqui. Logo, é de bom grado saber que novos textos e colaborações serão incluídas nas próximas semanas. Contamos, inclusive, com sua colaboração.