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Aqui, nestas ruas extensas
Onde nasce todos os dias a vida, ansiosa e trêfega,
Além, pelas ruas do mundo, onde os homens falam estranhamente
Mas também sorriem e cantam;
Aqui, onde há crianças deslumbradas que esperam com uma certeza nos olhos
[claros;
Aqui, alem, onde dos escombros floresce a música,
Paz, sê benvinda!
Sê para sempre a bandeira, o pão, o santelmo e a hóstia luminosa!
Mãos calosas que te servem,
Rostos suarentos que te contemplam por entre campos semeados,
Corações simples que te amam cada dia e cada noite,
E te pressentem no milagre da primavera,
Paz, acontece como o sol, inexorável e límpida,
Acontece para eles que trabalham cantando.
Nos jardins, nos ônibus, no redemoinho das grandes metrópoles,
nos trens que conquistam a distância, mas escolas,
nos aviões que cruzam o infinito, nas fábricas, nos suaves
lares tranqüilos, e principalmente nos corações das crianças,
nos ternos, plácidos corações.
Paz, penetra como o bom dia,
como a palavra amiga de todas as manhãs heróicas!
Pás, tua carícia é ressurreição!
Foi contigo que as mães brasileiras estiveram no cais,
Aflitas e angustiadas, medrosas e tristes para abraçar o filho,
O filho trazias de volta, finalmente de volta,
Mutilado ou perfeito, mas trazias de volta.
Foi contigo que as mães brasileiras choraram a ausência irreparável
Do filho que ficou num mundo longínquo, num mundo de névoa e ódio,
Para sempre morto, saudade para sempre.
Paz, foi contigo que as crianças famintas soluçaram nas longas noites geladas,
Caminhando entre cadáveres, remexendo destroços, os olhos espantados
Procurando uma face conhecida;
Foi contigo que as crianças famintas caminharam e até hoje caminham
[chamando um nome impossível;
Paz, fica conosco, não te vás!
Da tua onipresença depende o mundo de amanhã,
Do teu aconchego depende o amor que continua na própria Vida;
E o sossego das alamedas, e o sonho dos meninos que são libélulas,
E que advinham pensativos a beleza simples das rosas,
E a inteligência dos homens voltados impávidos para o futuro,
E a imaginação comovida dos artistas que como estrela de esperança devassa
[o mistério dos séculos,
Paz, é de ti que depende a vitória do Espírito!
Em silêncio velamos a fim de que germines,
E te daremos a nossa ternura, o nosso carinho inquieto,
Te regaremos de suor, e de esplêndidas lágrimas de alegria,
Mas não serás regada de sangue!
Para que sejas bendita, para que sejas cântico e madrugada,
Não serás regada de sangue!
Para que todos te compreendam e aclamem,
Não serás regada de sangue!
Para que perdures,
Não serás regada de sangue!
Fica conosco que te amamos
Agora e sempre.

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