Olivier de Schutter, relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, disse durante missão à Síria que os doadores não estão cumprindo a ajuda prometida, e que a reação popular em lugares como Moçambique já era previsível.

“A maioria dos países pobres ainda está altamente vulnerável”, disse De Schutter em nota. “Sua segurança alimentar é excessivamente dependente das importações de alimentos cujos preços estão cada vez mais altos e voláteis.”

Em Moçambique, 13 pessoas morreram e quase 150 foram presas na semana passada após distúrbios desencadeados por um aumento de 30 por cento no preço do pão – um resultado da elevação global no preço do trigo.

Na terça-feira, o governo moçambicano cancelou o aumento do pão, adotando subsídios para cobrir o aumento de preço.

Os egípcios também protestaram contra o preço dos alimentos, e especialistas alertam que outros distúrbios podem ocorrer na África e no Oriente Médio. De Schutter estimou que 2 a 3 milhões de sírios agora enfrentam dificuldades alimentares, após quatro anos de seca severa.

Pequenos agricultores na Síria tiveram uma queda de até 90% na sua renda por causa da seca, segundo o especialista independente. “Muitas famílias tiveram de optar por reduzir seu consumo alimentar: 80% dos afetados disseram viver à base de pão e chá açucarado”, disse ele.

Inundações no Paquistão e uma onda de calor na Rússia contribuem com a preocupação com o abastecimento mundial de alimentos. Mas De Schutter disse que a especulação de investidores e agentes do mercado contribui com o problema.

Embora a safra mundial de cereais em 2010 deva bater o terceiro recorde consecutivo, os temores com a oferta no futuro levaram o trigo a aumentar 70% no mercado internacional desde o ano passado, segundo a ONU.

A maior parte da alta recente se deve à seca e aos incêndios florestais na Rússia, terceiro maior exportador mundial de trigo, e a uma decisão do governo russo de prorrogar até o final de 2011 a proibição da exportação do produto.

As enchentes no Paquistão, terceiro maior produtor mundial de trigo, destruíram 500 a 600 mil t de sementes de trigo estocadas, e pelo menos 1,3 milhão de hectares de plantações de milho, arroz, cana de açúcar, algodão e hortifrútis, segundo estimativas parciais da FAO (agência da ONU para alimentação e agricultura).,/p>

De Schutter disse que os preços gerais dos alimentos nos mercados internacionais aumentaram 5 por cento desde julho. O índice de preços alimentícios da FAO atingiu seu maior nível desde setembro de 2008.

A FAO convocou uma reunião de emergência em 24 de setembro em Roma, e o especialista disse que será crucial que os países doadores ofereçam ajuda significativa.

“Em 2008, muitos governos foram apanhados de surpresa”, disse ele. “Temos hoje uma compreensão muito melhor sobre o que precisa ser feito para realizar o direito à alimentação.”

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Com agências