Procissão para chover

Lembro cruzes, estranhamente fincadas
‘A beira das interioranas estradas
Lembrando a morte de um certo andarilho
-A vida é dura pra quem a leva nos trilhos

Sequidão na boca e no solo sedento
Ressequidas lavouras que frescor não têm
Lembro as procissões de chover, sol a pino
Lembro as rezas e hinos, lembro alguém

De joelhos em plena estrada de terra arenosa
Deixei um gemido de dor que o calor provoca
Lancei água sobre as cruzes das quais tinha medo

De joelhos na vida velhice que chega receosa
Lembro-me menino a dizer reza que invoca
Em São Pedro o poder de fazer chover mais cedo. 

   Antônio Carlos Affonso dos Santos -ACAS