Coordenado pelo diretor da Fundação Maurício Grabois, Fábio Palácio de Azevedo, o evento foi realizado no auditório do Instituto de Ciências Biológicas II da Universidade Federal de Goiás. “É necessário que as capacidades nacionais de geração de conhecimentos se debrucem sobre os dilemas, as potencialidades e os desafios colocados ao desenvolvimento de ambos os biomas: a Amazônia e o Cerrado”, afirma o convite da atividade.

O primeiro debatedor a falar foi o Professor Dr. Romualdo Pessoa, do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA-UFG), que também é secretário regional da SBPC. Ele cobrou investimentos em novas tecnologias de exploração dos recursos naturais dos biomas. “Existe no Cerrado um potencial riquíssimo. Nosso Estado tem crescido em função dessa capacidade de produzir alimentos. No entanto, é preciso que se achem soluções para garantir o equilíbrio entre a necessidade de produzir e a de preservar” disse. Referindo-se ao novo Código Florestal, Romualdo afirmou que não pode haver uma discussão “maniqueísta”. Para ele, é necessário garantir que nem a produção agrida o meio ambiente, nem a preservação entrave o desenvolvimento.


Exposição de Romualdo Pessoa, professor do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais
(IESA-UFG)

Em seguida, fez uso da palavra o engenheiro agrônomo e secretário de Estado da Produção Rural do Amazonas Eron Bezerra. Ele iniciou sua fala afirmando haver, na discussão sobre o meio ambiente, basicamente três correntes ideológicas. “O primeiro grupo é o dos produtivistas, que acreditam que os recursos naturais são infinitos, e por isso não faria sentido regrar seu uso; o segundo é o dos santuaristas, que recorrem à ameaça de uma tragédia ambiental global para sustentar que se devem criar leis cada vez mais rigorosas, mesmo que impraticáveis, para tornar as florestas intocáveis; por fim, há os sustentabilistas, que entendem que nós dependemos da terra para sobreviver, mas que é necessário explorá-la racionalmente”, afirmou.


Eron Bezerra, secretário de Estado da Produção Rural do Amazonas, em sua fala 

O painel ficou completo com a exposição do físico e presidente de honra da SBPC Ennio Candotti, que centrou sua intervenção na necessidade de políticas científico-tecnológicas e de formação de recursos humanos para dar conta dos grandes desafios da Amazônia. Para Candotti a região precisa formar e fixar mais mestres e doutores, e multiplicar a formação de técnicos e especialistas, tanto para favorecer o estudo da complexa realidade natural e social da região quanto para alimentar a indústria e o sistema produtivo.

Ennio Candotti
Segundo o ex-presidente da SBPC, a melhor maneira de promover a conservação é garantir o bom uso, a ocupação inteligente e o aproveitamento das riquezas. A questão da legislação de conservação do meio ambiente é, para Candotti, abordada muitas vezes sob uma ótica equivocada: “Ficamos discutindo o que NÃO podemos fazer, quando na verdade deveríamos estimular o que deve ser feito”. O cientista citou o caso da biopirataria: “Não adianta ficar só proibindo, temos é que conhecer nossa riquezas naturais. Biopirataria só se combate com cientistas, com laboratórios de pesquisa. Temos de explorar nosso patrimônio antes que outros explorem. Em uma única folha de árvore há centenas de micro-organismos, e não há a menor chance de criar um paredão que cerque nossas florestas e impeça a retirada de uma folha ou de uma porção de terra, onde pode haver informações genéticas de enorme valor”.

Durante o debate foram lançados os livros "Cerrado, perspectivas e olhares", de Márcia Pelá e Denis Castilho (Orgs) e "Meio ambiente e desenvolvimento — Em busca de um compromisso", de Aldo Arantes (Org).