Romantismo de um Poema Proletário

 

Não fosse a alma romântica de nossa raça,
doentia evocação ou uma simples lembrança,
eu não estaria dando vida a estas líricas palavras,
para rever agora a tua imagem sucumbida.

À maneira dos Poetas tísicos e melancólicos,
das Marílias, que aos seus amores
ofereciam violetas e madeixas,
nós repetimos a velha e sempre nova comédia…

E é por isso, que do teu antigo retrato,
onde estás exuberante e sadia,
sorrindo com os teus lábios de polpa sumarosa,
(como se não dormisses à luz dos vagalumes)
se evola para mim o mesmo sândalo de tua carne,
que era rija e colorida como a dos frutos sazonados.

É por isso, que a mecha dos teus cabelos,
negros e capitosos como sabias trazê-los,
e que deixaste como prova de tua faceirice,
parece ainda agitar-se na tua cabeça de Lindóia,
e se encrespa, como um punhado de treva,
entre os meus dedos paralisados.

Talvez seja por isso…
Ou porque não foste a terra inteiramente conquistada,
que os homens espreitavam gulosos e alucinados…

Ou porque, a tua rústica mocidade,
cheirando ao mato e ao rio,
que te viram nua, na tua infância roceira
fizeram de ti uma força jovem;
e como os braços de tantas irmãs-proletárias,
afeitos a lidar com maquinismos e teares,
também terminaste nos necrológios sem leitores..

 

Bruno de Menezes: poeta da negritude amazônica

Do ficheiro do nosso Bruno para o Brasil e o mundo.

 

O poema de Bruno de Menezes foi enviado por :

José Varella, Belém-PA (1937), autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica”, “Amazônia Latina e a terra sem mal” e “Breve história da amazônia marajoara”.

autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica” e “Amazônia latina e a terra sem mal”, blog http://gentemarajoara.blogspot.com