No discurso pronunciado por ocasião do 60° aniversário de seu ingresso no curso de Direito, em 17 de novembro de 2005, na Aula Magna da Universidade de La Habana, Fidel Castro, melhor do que ninguém resumiu o fechamento do ciclo de sua existência, árdua etapa para uns mais, para outros menos, mas que um dia recai sobre todos os afortunados que se acercam da longevidade.  Rodrigo Díaz de Vivar, mais conhecido como El Cid Campeador, amarrado a seu cavalo, colocou em fuga os apavorados inimigos, mesmo depois de morto. Nesse homem, o líder da revolução cubana buscou a imagem perfeita para definir a própria trajetória de lutas, seu exemplo de resistência, determinação e garra, típicos dos vencedores.

Num período histórico bastante complexo na vida do povo cubano, quando muitos aguardavam a queda eminente de todos os dominós, o sistema que como em um furacão seria supostamente varrido pela avalanche dos fins sobreviveu às adversidades que se apresentaram em meados da década de 90. Quando foram arriadas as bandeiras da URSS, pondo um ponto final à história do chamado Campo Socialista, surgiu a “teoria” das circunstâncias. Segundo esta, a diligência soviética havia atuado como num tabuleiro; tocou-se a primeira peça e, em cadeia, todas as demais iriam caindo. Nessa lógica, Cuba também deveria cair. Em meio ao alarido, Fidel advertiu: “não se esqueçam de que essa ficha, da qual vocês falam, está demasiado distante no geográfico e no histórico”.

Mas quem é Fidel Castro, aos 86 anos de idade? Com certeza, a história de Cuba e do mundo teria evoluído de forma distinta, se esse campeador tivesse sido menos determinado. O papel de Fidel na orientação do movimento revolucionário é definitivo, porque nenhum líder correu tantos riscos pessoais e nem se entregou, de forma tão direta, à luta. Nas trilhas tortuosas de Sierra Maestra, muitas vezes sem víveres e armamentos, se forjou o homem que faz questão de ver todas as crianças cubanas limpas, bem alimentadas e educadas.

Falando aos estudantes chilenos em 1971, Fidel nos deixou uma importante lição, que merece ser lembrada no dia de hoje: “O ideal na política é a unidade de critérios, a unidade de doutrina, a unidade de forças, a unidade de mando, como em uma guerra. Porque uma revolução é isso. É como uma guerra. É difícil conceber a batalha com dez comandantes diferentes, dez critérios diferentes, dez doutrinas militares diferentes e dez táticas. O ideal é a unidade. Outra coisa é o real. Creio que cada país deve se acostumar a travar suas batalhas nas condições em que se encontre”.

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Professora de Física, mestre em educação e membro da direção do PC do B de Santos.