Como Osvaldo Orlando da Costa veio das Minas Gerais, de Além Paraíba, Zona da Mata, terra mineral onde nasceu o escritor Zuenir Ventura e um dos mais geniais humoristas brasileiros, o eterno corintiano Mazzaropi.
O negro Bráz, 61 anos, jamais colocou bota ou botina e vai percorrendo os caminhos da vida sempre de sandálias. Seus pés quarenta e cinco revelam a rudeza do mundo do trabalho no interior do país.
Acontece que nos deparamos com aquele negralhão porque precisávamos, para compor o documentário sobre a lendária figura guerrilheira de “Osvaldão”, de um toque de dramaticidade, de um vulto vencendo a tarde entre a mata fechada e o dia que virá.
O cenário é o mesmo da caçada final ao movimento insurgente, Brejo Grande do Araguaia. Ali, em fins de 1973, o exército brasileiro promoveu uma das notas mais terríveis de sua história de mais de 300 anos cuja data de nascimento nos remete a Batalha de Guararapes, em 1654, e da figura heróica de Filipe Camarão, figura marcante da Insurreição Pernambucana. O exército da quartelada de 1964 nada tem haver com o evento que o pariu e o projetou na história, lutando contra a invasão estrangeira.
Vandré Fernandes coça a cabeça e troca idéias com Andre Michiles, ambos estão preocupados com a luz do sol que parece se amiudar, como quem dá um tapinha nas costas e marca encontro para a próxima alvorada.
Bráz parece não estar satisfeito, nunca foi ator, nunca foi ao teatro, seu nome escrito é garrancho e só sabe das coisas da roça, de fazenda, sempre trabalhando para o patrão. Não possui terras, apenas a força de suas imensas mãos, braços e pernas.
Contornando o set está o Saranzal, igarapé dos guerrilheiros. Ao longe avistamos o Grotão dos Caboclos, encosta úmida onde tombou Maurício Grabois, principal dirigente político da iniciativa libertária no Sul do Pará.
Outro peão, Maresia, nos diz que há algumas léguas está a Grota da Lima, ribanceira onde tombou “Osvaldão”. Há um corolário das muitas mortes daquele herói negro brasileiro, professados em cordéis camponeses ou na imaginação de seus perseguidores. 
Mas o noviço ator revela-se talentoso enquanto a grua registra o mundo acima de nossas cabeças e no fulgor das quenturas amazônicas denuncia o esforço para que certas histórias jamais se apaguem da memória do povo.
Estamos, quase quarenta anos depois, na terral geografia da resistência.
Não acredito em quem escreve ou faz filmes apenas paginando livros ou revisitando imagens: é preciso ir até a região dos acontecimentos, sondar a claridão daquelas manhãs, sentir o arrebatamento das correntezas cortadas pelas pedras pretas, mais antigas que o próprio homem.
Os fotogramas e as retinas, ciência e arte, se unem na espiral inventada pelos Lumière.
Fica decretado que a literatura do cinema reconhecerá espingardas, o surto da liberdade e os pés do povo brasileiro.