Sob crise, Kirschner mantém maioria no Congresso
O ministro da Defesa da Argentina, Agustín Rossi, disse hoje (28) que o partido do governo – Frente para a Vitória (FPV) – é “a força mais importante que existe atualmente” no país. A legenda governista, apesar de ter sido derrotada nas eleições legislativas de ontem (27) em grandes distritos do país, como Buenos Aires, Córdoba e Santa Fé, manteve a maioria no Senado e na Câmara dos Deputados. Nacionalmente, o partido tem 37,7% dos senadores e 32,6% dos deputados. Até o momento, 97,3% dos votos foram apurados.
Na Câmara de Deputados, a legenda da presidente Cristina Kirchner manteve o mesmo número de bancas e, com 132 assentos, é a única força que supera os 129 deputados necessários para conformar quórum nas votações da casa. No Senado, a situação da FpV é parecida. Mesmo depois de perder duas bancas, seus 39 representantes superam em dois o mínimo de 37 presentes para conformar quórum.
“Vamos seguir honrando o mandato que nos deram os argentinos”, informou Rossi. De acordo com ele, depois do pleito no último final de semana, a FPV se consolidou como a força eleitoral de nível nacional que mais teve respaldo. De acordo com o ministro, o governo manterá o projeto político que foi votado majoritariamente pelos argentinos em 2011 – quando a presidenta Cristina Kirchner foi reeleita.
Agustín Rossi disse que a manutenção da maioria em ambas as Casas legislativas fortalece o partido e o governo de Cristina, que vai até 2015. “Essas eleições modificaram a composição dos corpos parlamentares e essa nova constituição não trouxe mudanças do ponto de vista do poder constitucional, pois, tanto em deputados quanto em senadores, temos as maiorias necessárias”, explicou o ministro da Defesa.
Rossi também falou do estado de saúde de Cristina Kirchner. Houve boatos de que ela não voltaria a assumir a chefia de Estado. “Ela está se recuperando e voltará a se reintegrar sem nenhum tipo de inconveniente à função de governo quanto terminar o período de recuperação”, disse.
A eleição legislativa de ontem foi marcada pelo uso de recursos de tecnológicos e pela alta porcentagem de votantes: 75% da população apta. Dos mais de 23,3 milhões de votos válidos, mais de 593 mil foram de jovens de 16 e 17 anos que puderam participar das eleições pela primeira vez, segundo dados da Câmara Nacional Eleitoral. De acordo com o ministro do Interior, Florencio Randazzo, o pleito foi o mais bem organizado dos últimos 30 anos.
Frente de Esquerda: resultado histórico
Com o terceiro lugar em Mendoza, a FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) conquistou também um lugar na Câmara de Deputados pela província. O resultado histórico da aliança trotskista conformada pelo PO (Partido Operário), PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas) e IS (Esquerda Socialista) se repetiu na província de Buenos Aires e em Salta. A FIT e seus aliados chegam dessa maneira ao parlamento argentino e terão três assentos na Câmara de Deputados.
Crise do kirchnerismo
A Argentina enfrenta um problema sério e inegável para reter divisas. No que vai do ano, as reservas, já enfraquecidas desde 2012, perderam mais nove bilhões de dólares. Com o câmbio oficial defasado em cerca de 20%, o país vive um fenômeno compreensível. Quem precisa importar corre, temendo uma forte desvalorização após as eleições. E quem exporta prefere não ingressar seus dólares, esperando pela suposta desvalorização. Faltando pouco para as eleições legislativas, havia uns seis bilhões de dólares de exportadores mantidos no exterior.
Com um profundo déficit energético, o país vive uma situação peculiar: de cada dólar que entra graças às exportações, especialmente de soja, a metade vai diretamente para importar petróleo. Como o governo federal mantém fortes subsídios para o consumo de energia elétrica e gás, especialmente na região da chamada Grande Buenos Aires, além de subsidiar o transporte público na capital, esse déficit não tem solução à vista. Suspender o subsídio seria uma ferramenta voraz para que a inflação pressione ainda mais.
Além dos reajustes salariais dos trabalhadores do segundo país mais sindicalizado da América Latina (perde apenas para Cuba), agora os bancos vêm oferecendo aos grandes clientes bonificações de pouco mais de 20% ao ano, numa tentativa de evitar a sangria de dólares que esvai o país.
A inflação real é o principal motivo de inquietação e insatisfação dos argentinos, seguido de perto pela questão da segurança urbana, amplificada ao máximo pelos exageros da manipulação dos grandes meios de comunicação, maior partido de oposição contra Kirchner.
*Com informações da Telam