Mais recentemente, as manchetes do noticiário sobre negócios giram em torno da disputa pelo controle da operadora de telefonia Vivo. A espanhola Telefónica vinha há meses fazendo gestões para comprar da Portugal Telecom sua parcela na Vivo. O governo português entrou na disputa, para impedir que uma empresa de seu país ficasse de fora do prodigioso mercado brasileiro.

Na última semana, os entendimentos se fizeram. A Telefónica fica com a Vivo e a Portugal Telecom segue no Brasil, agora a bordo da Oi.

Leitores curiosos

Na edição de sexta-feira (30/7) da Folha de S.Paulo, a manchete do caderno “Mercado” anuncia: “Teles devem investir R$ 200 bilhões até 2018″. Em três páginas, o jornal informa que o Brasil será o principal destino de investimentos estrangeiros em telecomunicações na próxima década e que o setor ainda está longe da consolidação.

O Estado de S.Paulo noticia, no mesmo dia, que o lucro da Vale subiu 344% no segundo trimestre deste ano e que a gigante dos minérios segue com fome de novos negócios e faz oferta para aquisição da Paranapanema, líder na fabricação de cobre refinado no Brasil.

Apesar de a febre das fusões e aquisições ter arrefecido um pouco após um ano de grandes negócios, os escritórios de advocacia especializada seguem trabalhando em ritmo alucinado. Por esse motivo, alguns leitores se dizem curiosos com a manchete do jornal Valor Econômico, publicada no dia 26 deste mês. “Estagnação da economia faz BC rever alta de juros”, dizia o título na primeira página.

Entusiasmo contido

Relendo os jornais de algumas semanas para cá, pode-se compreender a estranheza dos leitores. Como, na maioria dos casos, o noticiário dos negócios é motivado pelas próprias empresas, através de suas assessorias de imprensa, a média das reportagens é quase sempre positiva, porque é do interesse das empresas anunciar seus êxitos, seus investimentos e seus planos de futuro.

Existem, evidentemente, os muitos casos em que as informações sobre negócios são colhidas pelos repórteres por meio de suas fontes e a partir de sua própria argúcia na observação do mercado; mas, no geral, o noticiário tem sido positivo, mesmo porque a economia está crescendo em ritmo acelerado e os resultados das empresas tendem a ser favoráveis.

Já o noticiário sobre a economia em geral, que deve refletir a complexidade maior e envolver a política econômica do governo e o estado do mundo, exige maior atenção do leitor.

Quando reproduzem reportagens e análises das principais publicações estrangeiras, como a revista britânica The Economist e o diário americano The Wall Street Journal, sobre a economia do Brasil, os jornais brasileiros costumam dar repercussão ao entusiasmo geral com a situação econômica nacional, principalmente quando comparada à situação de alguns países europeus. Mas quando o noticiário é produzido aqui, o entusiasmo é menor.

O leitor no divã

No caso da manchete que provocou estranheza em alguns observadores, que não concordam com a expressão “estagnação da economia”, o noticiário se refere à controvérsia em torno da decisão do Banco Central de suspender a esperada elevação da taxa básica de juros.

Tudo começou com uma série de especulações na imprensa, que em alguns momentos chegou a um estado de alarme, sobre os riscos da volta da inflação.

O noticiário que se seguiu convenceu muita gente de que o Banco Central iria mudar o viés dos juros durante um período mais longo, como medida preventiva contra a inflação, que poderia ser provocada por um excessivo aquecimento da economia.

Mas o mercado não explodiu, a inflação continuou comportada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central revisou as previsões de alta dos juros e os analistas do apocalipse saíram assobiando.

E o leitor? Ora, o leitor que vá procurar um psiquiatra.

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Fonte Observatório da Imprensa