A revista alemã Der Spiegel oferece visão abrangente do que chama de “dilema líbio” que o ocidente enfrenta. Os europeus contam com que Barack Obama os comande “mas Obama aparentemente padece de escrúpulos ainda maiores”. Bem posto.

A última linha do artigo diz: nada do “unilateralismo” da era George W. Bush. Qualquer intervenção militar “depende de aprovação da ONU, Liga Árabe e União Africana”. (Acho particularmente engraçada a referência à União Africana, porque nada jamais convencerá a União Africana a aprovar intervenção ocidental no norte da África.) “China e Rússia mostram pequena inclinação a aprovar tal missão”. O que significa “é muito pouco provável que apareça de fato alguma resolução da ONU”.

Além do mais, o Pentágono está sobrecarregado no Iraque e no Afeganistão e “mostra-se reticente nos comentários” sobre intervenção na Líbia.

Os europeus, enquanto isso, estremecem de angústia ante o risco de entrar na Líbia “sem estratégia concreta para sair de lá”. Temem um replay da arapuca mortal afegã. A União Europeia também não tem posição assumida sobre a Líbia. Muitos lamentam o açodamento da França, que formalmente reconheceu os rebeldes líbios. A Alemanha declaradamente se opõe a qualquer reconhecimento dos rebeldes. “Sabe-se muito pouco sobre os rebeldes e seus objetivos”. Estão “inapelavelmente divididos (…) Ninguém sabe que tipo de estado aqueles homens querem construir, nem que liberdades garantirá”.

Spiegel conclui em tom devastador: “Não há qualquer visão de futuro promissor para a Líbia sem Gaddafi –, mas o futuro com Gaddafi também será desastroso.” O artigo de Spiegel está em http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,druck-750852,00.html

O primeiro-ministro turco Recep Erdogan parece já ter compreendido essa verdade simples muito antes dos europeus e norte-americanos. É o que se vê em entrevista à rede Al-Arabiya, ontem, em que Erdogan diz que, nos últimos dias já falou três vezes por telefone com Gaddafi (e com o filho de Gaddafi). Sugeriu que Gaddafi “nomeie imediatamente alguém que o povo líbio apóie”. A fórmula é interessante.

Em resumo, trata-se de Gaddafi nomear um presidente [hoje, Gaddafi é comandante do conselho revolucionário; não há presidente na Líbia.]

Ontem, aconteceu na Turquia uma grande conferência internacional, em Istanbul, à qual compareceram Kofi Annan, Al Gore etc. Erdogan pronunciou magnífico discurso sobre a revolta árabe.

Pontos principais: a) Todo e qualquer tipo de intervenção na Líbia será “infeliz, contraproducente e arriscada”. b) O próprio povo líbio é competente para resolver o problema líbio. c) A comunidade internacional deve “manifestar solidariedade” e “agir unida” para conter a guerra civil e facilitar uma via de transição política pacífica na Líbia. d) O Oriente Médio enfrenta hoje “demanda de mudança” (o povo é o demandante). e) O exemplo da Turquia mostra que Islã e democracia não são excludentes, que podem conviver. f) Os governos ocidentais erram gravemente por se manter indiferentes aos levantes árabes ou por usar diferentes padrões de avaliação, caso a caso, conforme o país. g) Os regimes árabes têm de saber que não podem “resistir às mudanças”; é simples questão de tempo, e todos os que resistirem serão varridos do mapa político. h) Nenhuma exigência de mudança que venha do povo será jamais suprimida pela força, pela violência. i) A Turquia não intervirá na Líbia, mas tampouco hesitará ao oferecer “crítica sincera e construtiva”.

Erdogan Bey, meu respeito e minha admiração por essas palavras não têm limites!

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Fonte: Indian Punchline,

http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar

Tradução: Vila Vudu