A Tomada da Bastilha

O mundo inteiro celebrou a Tomada da Bastilha, o imortal 14 de julho da França de Voltaire, de Rousseau, de Diderot, dos Jacobinos e de Babeuf. A queda do símbolo do feudalismo indicava que outra classe poderosa e revolucionária ia assumir a direção da sociedade e dar um gigantesco impulso ao desenvolvimento da produção, à marcha das idéias, à luta pelos direitos do homem.

O povo francês festejou a gloriosa data com manifestações triunfais em que comunistas e socialistas unidos, como os maiores patriotas e democratas da França, desfilaram pelas ruas de Paris, evocando as imensas jornadas na luta pela República desde 89 até a Resistência. Agora, outra classe, que herdou todo o legado dos grandes feitos e das grandes idéias da França, a classe operária, luta contra a bastilha capitalista que já não pode ali sustentar-se de pé sendo-lhe necessário pedir socorro aos trustes e monopólios norte-americanos que pretendem assim escravizar a França. Com um governo fraco como o de Ramadier, que faz o jogo da direita e serve ao imperialismo ianque, o povo francês reafirmou diante da passagem do 14 de julho a sua determinação de lutar pelas conquistas republicanas e pela instituição de um governo à altura das tradições democráticas francesas. À frente do enorme e invencível movimento, encontra-se o Partido Comunista, o partido de Gabriel Peri, de Thorez e Duclos, o partido dos setenta mil fuzilados, que há de conduzir o proletariado francês ao cumprimento de sua missão histórica para a grandeza da França e da humanidade.

4 de Julho de 1776

A data da Independência Americana foi saudada por todos os povos livres da terra e lembrada ao mesmo tempo como uma advertência aos imperialistas ianques que pretendem dominar o mundo com o poder de seus trustes e monopólios. “As colônias unidas são, e por direito devem ser, Estados livres e independentes: que ficam absolvidas de toda lealdade à coroa britânica e que toda conexão política entre elas e a Grã-Bretanha fica e deve ficar totalmente dissolvida” — diz a Declaração de Independência. Nos E.E.U.U. a luta contra Truman e Marshall, contra os trustes e monopólios, é a continuação daqueles princípios revolucionários que orientaram a guerra da Independência e estabeleceram as bases para a democracia burguesa naquele país. O povo norte-americano não esquece que seu país, antes de 1776, era dezoito colônias da Inglaterra e sabe que, idêntica à sua luta, é a luta dos povos coloniais, semi-coloniais e dependentes contra a atual opressão imperialista. “Temos como verdades evidentes que todos os homens foram iguais; que são dotados, pelo seu Criador, de certos direitos inalienáveis e que ao número desses direitos pertencem a vida, a liberdade e a busca da felicidade”. Esse foi o espírito da Declaração da Independência inspirada por Locke e Rousseau, o que indica o caráter da Revolução Burguesa, imprimido aos acontecimentos de 1776. O próprio Jefferson, que escreveu a Declaração, confessou: “Eu não considerava absolutamente que minha missão fosse inventar idéias novas ou exprimir sentimentos que jamais houvessem existido”. Isto demonstra que as idéias são universais e não há país que possa deixar de receber a influência das idéias dominantes ou em ascensão no mundo inteiro. A lição da Independência Americana serve a todos os povos coloniais, semi-coloniais e dependentes na sua luta atual contra o imperialismo ianque, cuja política de Truman e Marshall é contrária à política que levou Washington e Jefferson a declararem a Independência, fez Lincoln vencer a guerra de sucessão, abolindo a escravatura e orientou Roosevelt a fazer a guerra contra o fascismo e bater-se pela cooperação entre os povos na luta pela paz e pelo progresso.

5 de Julho

O povo brasileiro comemorou, é claro, que sob as restrições e as violências impostas pelo atual governo, a data de 5 de julho que marca em nossa história dois acontecimentos: o feito heróico do Forte de Copacabana em 1922 e o início da revolta de 24 em S. Paulo, ambos dirigidos pelo chamado movimento tenentista contra as oligarquias, os vícios e a incapacidade da política dominante de então. Já o país sentia o influxo das idéias revolucionárias que ascendiam no mundo a partir da guerra de 1914. O proletariado começava a organizar-se, a promover greves contra aos salários de fome e por melhores condições de trabalho. Enquanto o governo declarava que a “questão social era um caso de polícia”, era fundado em 1922 o Partido Comunista do Brasil afirmando assim que daí em diante a classe operária e os camponeses passavam a ter o seu guia, a sua vanguarda na luta pela democracia e a independência do país.

O 5 de julho está ligado a todas as lutas do nosso povo pela conquista de seus direitos, pela adoção de leis democráticas, pela emancipação econômica e social do Brasil. Dessa corrente política que exprimia as idéias da classe média e o espírito democrático do nosso Exército, surgiu a Coluna Invicta que realizou a grande marcha pelo interior do Brasil sob o comando de Luiz Carlos Prestes, herói nacional, que, continuando a luta, ingressou no Partido Comunista em 1934, liderando hoje o povo brasileiro, à frente do glorioso partido do proletariado e dos camponeses.

O 1.° Aniversário da III Conferência Nacional do PCB

Registrou-se a 16 de julho o primeiro aniversário da realização da III Conferência Nacional do Partido Comunista. Ao instalar a histórica assembléia, disse Luiz Carlos Prestes:

“Nosso objetivo é fazer o balanço crítico e auto-crítico do trabalho realizado que nos separa da Conferência anterior, reexaminar objetivamente a situação mundial e nacional a fim de que possamos confirmar ou corrigir nossa linha política e decidir das tarefas imediatas a realizar”.

E diz adiante:

“Aqui estamos reunidos para examinar o caminho andado e consolidar o trabalho realizado. Onde estamos? Para onde vamos? Qual o rumo a seguir? Quais as tarefas mais imediatas a realizar?”

Prestes acentua que o PCB deve dar a essas perguntas respostas claras e justas para assim conduzir o nosso povo na sua “luta titânica contra o atraso, a miséria, a ignorância e as sobrevivências do fascismo”.

A III Conferência foi um acontecimento de incalculável importância histórica não apenas para o Partido Comunista como para o Brasil e para o Continente. Suas teses e resoluções amplamente divulgadas são documentos de viva atualidade e de vigorosas diretivas para a luta pela independência, pela democracia e o progresso de nossa Pátria. Foram oito dias de amplos debates em que se fortaleceu o espírito crítico e autocrítico do Partido, em que foi confirmada a justeza da linha política e abertas novas perspectivas para a organização do povo e para a defesa das conquistas democráticas obtidas em 45. Prestes ao encerrar a Conferência declarou:

“Como comunista, sinto-me orgulhoso de nosso trabalho durante estes dias de ininterrupta atividade. Esta é a primeira conferência do Partido em sua vida legal, e esta é a primeira vez que participo de uma conferência do nosso Partido”.

Um ano após a III Conferência, o PCB encontra-se novamente atirado à ilegalidade, em virtude da pressão do imperialismo americano.

Mas não há negar que a aplicação de sua justa linha política veio demonstrar o valor da teoria marxista como guia de ação para conduzir o povo brasileiro pelo caminho de sua completa emancipação econômica e política do domínio do imperialismo e do monopólio da terra, fonte da reação e do nosso atraso.

O XI Congresso do PC Francês

A 25 de junho do ano corrente, realizou-se em Strasbourg o XI Congresso do Partido Comunista da França. Mil e duzentos delegados participaram do grande conclave de tão alta significação para a França e para o mundo. Durante cinco dias, o PC francês examinou a situação do país, os acontecimentos mundiais e traçou as novas diretivas para a continuação da luta pela democracia e o progresso da nação francesa. O bureau político do Partido ficou assim constituído: Membros efetivos: Maurice Thorez, Jacques Duclos, André Marty, Marcel Cachin, François Billoux, Arthur Ramette, Charles Tillon, Raymond Guyot, Etienne Fajon. Suplentes: Léon Mauvais, Waldeck Rochet, Laurent Casanova, Victor Michaut. Secretariado: Maurice Thorez, secretário geral, Jacques Duclos, André Marty, Leon Mauvais.

No encerramento do Congresso, Maurice Thorez declarou que a “situação exige a união de todos os socialistas e comunistas com todos os verdadeiros republicanos para derrotar os planos monstruosos da reação”. No seu manifesto, o PC francês apresenta ao julgamento do povo da França as diretrizes de uma política democrática “inspirada no espírito e no programa da Resistência francesa”. Adiante acentua que “a união das forças do proletariado e do povo é a garantia mais sólida para o retorno a uma política democrática e francesa”.

As intervenções feitas durante o Congresso publicadas em “L’Humanité” mostram o calor, a penetração política, a força do grande partido de Thorez e Marty, herdeiro de todas as tradições de liberdade, de inteligência, de cultura da França de Descartes, de Diderot, de Marat, de Babeuf e dos fuzilados de de 71.

O 80° Aniversário de “O Capital” de Marx

A 25 de julho último completaram-se oitenta anos do lançamento do primeiro volume de “O Capital”, de Karl Marx, obra fundamental da teoria marxista e que iria revolucionar toda a ciência contemporânea. Quando surgiu “O Capital” verificou-se o que Engels denominou de “conjura de silêncio” dos cientistas e da imprensa da época. Foi o próprio Engels quem se encarregou de divulgar as teorias revolucionárias levantadas por Marx em “O Capital”, proporcionando meios para a edição original em alemão e para as traduções subseqüentes em inglês e francês. Através da imprensa, Engels tratou de popularizar ao máximo “O Capital”, resumindo-o. E apesar de toda a trama de silêncio, as teorias dos fundadores do socialismo científico iam ganhando as grandes massas populares e se transformando em força, em ação, em movimento.

Então, as classes dominantes não podiam mais ignorar “O Capital”. Reconheciam a sua influência entre os operários e nas massas do povo. Passaram a combatê-lo. Mais tarde, ante a comprovação na prática das teorias de Marx, o combate sistemático era insuficiente. Surgiram então os “reformistas” de Marx; os falsos socialistas, os que em palavras aceitavam o marxismo, mas no fundo o rejeitavam e se propunham “corrigi-lo”.

“O Capital” porém resistiu a todas as investidas dos inimigos da classe operária e, depois de 80 anos da publicação do primeiro volume, permanece como a base mestra, do socialismo. Meio século depois de publicado, verificava-se na prática uma das mais geniais previsões de Marx: numa sexta parte do mundo, a substituição da burguesia decadente, na Rússia, pela classe revolucionária dos nossos dias, o proletariado. A Revolução socialista na União Soviética é uma afirmação do valor do significado da teoria marxista para a libertação dos povos.