A SEGUNDA guerra mundial interrompeu a crise econômica dos anos de 1937-38 nos Estadas Unidos, Inglaterra, França e nos outros países, fornecendo um grande mercado para o escoamento das armas, do equipamento e das munições.

Durante a segunda guerra mundial, os Estados Unidos se apossaram de certo número de novos mercados deslocando parcial ou totalmente outras potências. Assim é que a participação dos Estados Unidos nas importações da América Latina passou de 32% em 1935 para 57% em 1944, enquanto que a da Inglaterra caia de 15% para 3,5%, durante o mesmo período. As exportações dos Estados Unidos cresceram rapidamente, fato igualmente favorecido pela política de empréstimos e arrendamentos.

Os instigadores da guerra louvam em todos os tons a economia do tempo de guerra dos Estados Unidos, a “regulamentação” da economia pelo Estado em tempo de guerra, procurando utilizar esta regulamentação como prova do caráter pretensamente progressista do capitalismo americano. Entretanto, estas afirmações não têm nada de comum com a realidade. O crescimento da produção dos Estados Unidos no tempo da guerra se processou em bases parasitárias e por formas que mostram a decomposição do capitalismo americano.

O salto dado pela produção dos Estados Unidos foi provocado pelo aumento colossal dos meios de destruição e pelo aniquilamento em massa das forças produtivas dos países capitalistas da Europa e da Ásia. O crescimento da produção nos Estados Unidos deveu-se, em grande parte, à utilização das forças produtivas que, em tempo de paz, operam cronicamente abaixo de seu rendimento.

O enorme crescimento da produção destinada a satisfazer as necessidades militares era acompanhada pela redução da produção civil norte-americana.

A guerra trouxe enormes lucros aos monopólios e aumentou ainda mais a desigualdade social e as contradições de classe nos Estados Unidos, aprofundou o fosso existente entre a acrescida capacidade de produção e a estreiteza dos mercados, que se achavam limitados pelo nível de vida pouco elevado das massas trabalhadoras.

Com o fim da segunda guerra mundial, os Estados Unidos e os outros Estados imperialistas conservaram enormes forças armadas e uma poderosa indústria militar, e passaram à preparação de uma nova guerra. As despesas militares dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França durante estes últimos anos são muitas vezes mais elevadas do que antes da guerra.

Não obstante, a procura de armamentos, de equipamento e de munições baixou brutalmente depois do fim da guerra, o que provocou uma importante redução da produção industrial norte-americana durante os anos de 1945 e 1946. O volume global da produção industrial diminuiu, em 1946, de cerca de um terço, em relação a 1943. A redução da produção industrial nos Estados Unidos teve como conseqüência o crescimento em massa do número de desempregados e a baixa dos salários, intensificou as contradições entre a burguesia e o proletariado, provocando o desenvolvimento do movimento de greves no país.

Em meados de 1946, a produção reanimou-se um pouco nos Estados Unidos. Em 1948, certos ramos da indústria (petróleo, energia elétrica, caminhões, construções, etc.) atingiram e mesmo ultrapassaram o nível máximo do tempo de guerra. Mas a maioria dos ramos industriais ficaram longe de atingir o máximo do tempo de guerra, e a produção continuou a baixar em certos ramos industriais de primeira importância. Assim é que a produção das construções mecânicas, em 1946, só atingiu 54% do nível de 1943, que foi o máximo do tempo de guerra, e em 1948 só atingiu a 63% desse nível. A produção obtida com o auxílio de máquinas-operatrizes, cujo valor atingia 1.320 milhões de dólares em 1942, caiu para 326 milhões em 1946 e para 283 milhões em 1948. A construção de cargueiros, da tonelagem de duas mil toneladas brutas ou mais, passou a 12 milhões e 551 mil toneladas brutas em 1943, para 646 mil em 1946 e para 140 mil em 1948.

Segundo os dados das estatísticas americanas, o índice geral da produção industrial dos Estados Unidos em 1948 atingiu 170% do nível de 1937, mas somente 77% do máximo do tempo de guerra.

A partir do mês de novembro de 1948, a produção começou a se reduzir em todos os ramos industriais essenciais dos Estados Unidos. Como o demonstraram os dez meses decorridos, a nova crise econômica, quanto à profundidade e à rapidez de seu desenvolvimento, não deixa nada a dever à mais grave das crises de superprodução havidas nos Estados Unidos: a de 1929 a 1933.

                                                     Índices da Produção Industrial

                         

Assim, se no decurso dos primeiros nove meses da crise de 1929 a 1933, a queda da produção foi de 13,6%, vemos que no decurso dos primeiros nove meses da crise atual ela foi de 18,1%.

A crise se agrava nos Estados Unidos a despeito dos monopólios americanos recorrerem mais do que nunca às medidas que permitem frear-se artificialmente a crise. Entre estas medidas é preciso citar:

A corrida aos armamentos nos Estados Unidos e nos outros países capitalistas. As despesas oficiais para a manutenção das forças armadas cresceram brutalmente na maioria dos países capitalistas, em comparação com as despesas destinadas a esse objetivo, pelos mesmos países, antes da guerra. Assim é que nos Estados Unidos as despesas militares diretas (os créditos destinados ao exército, à marinha e à aviação) passaram de 1,4 bilhões de dólares em 1938/39 para 14,6 bilhões de dólares em 1949/50, isto é, estas despesas foram aumentadas de 10 vezes. Além disso, despesas são feitas pelo orçamento da comissão atômica dos Estados Unidos, igualmente, fazem-se despesas para a criação de reservas de matérias primas estratégicas, para a ocupação da Alemanha, da Áustria e do Japão, pelo “plano Marshall” e o pacto do Atlântico-Norte, etc. A soma global das despesas militares dos Estados Unidos é superior a 30 bilhões de dólares. Pelo menos metade das despesas militares diretas é formada pelas encomendas feitas à indústria de guerra, o que permite frear artificialmente a queda da produção. Além dessas despesas militares autorizadas pelo Estado, tanto nos Estados Unidos como nos outros países capitalistas realizam-se investimentos privados nas empresas militares.
Os enormes créditos outorgados pelo Estado para o financiamento das exportações, por meio dos créditos e da “ajuda” concedida aos outros países capitalistas. Estes créditos frearam e freiam ainda a diminuição do volume das exportações dos Estados Unidos.
Os grandes créditos outorgados pelo Estado para a construção de instalações militares, bem como para construir estradas, centrais hidráulicas e outras instalações, algumas das quais são construídas com o fito de diminuir o número sempre crescente de desempregados.
Tais despesas agravam o déficit do orçamento do Estado, aumentam o peso dos impostos sobre a população e favorecem o agravamento da inflação em todos os países capitalistas. A inflação eleva os lucros dos monopólios e freia o desenvolvimento das falências das empresas capitalistas.

Todas estas “medidas” têm por resultado o aumento dos impostos que pesam sobre os trabalhadores, a baixa dos salários reais, a diminuição do poder de compra das grandes massas da população e, por conseqüência, conduzem à redução do mercado de escoamento dos produtos de consumo privado.

A crise que se desenvolve atualmente nos Estados Unidos se caracteriza, antes de tudo, pela redução brutal da produção dos artigos de consumo. É assim que a indústria de transformação do algodão reduziu sua produção de 23% durante os primeiros sete meses de 1949, relativamente ao mesmo período de 1948. Em julho de 1949 o nível de produção da indústria têxtil baixou de 32% em relação ao ponto culminante atingido por ela durante o ano de 48, no mês de maio, enquanto que o nível de produção dos calçados diminuiu de 13% no decurso dos primeiros cinco meses de 1949, em relação ao nível mais elevado atingido em 1948.

O nível da produção da indústria pesada baixa rapidamente também. Assim ó que a fundição do aço diminuiu de 20% de março a agosto. A produção de caminhões passou de 713 mil viaturas durante o primeiro semestre de 48 para 632 mil no primeiro semestre de 49, vale dizer, diminuiu de 11%. O índice da produção dos metais não ferrosos e dos produtos fabricados na base desses metais caiu de 25% durante o mês de maio de 49, relativamente ao índice de maio de 48. O volume das extrações do carvão betuminoso, durante os primeiros oito meses de 49, diminuiu de 18,1% relativamente ao mesmo período de 1948.

Em 1947, as exportações dos Estados Unidos atingiram o ponto culminante do período de após-guerra. Em 1948, o nível dessas exportações foi 17,8% inferior ao de 1947 no concernente à sua expressão monetária, e de 22,9% quanto ao volume físico; durante os sete primeiros meses de 1949 ele foi inferior em 19% ao do mesmo período de 1947 quanto à expressão monetária , enquanto que relativamente ao volume físico, baixou de 20% durante os cinco primeiros meses de 1949, relativamente ao mesmo período de 1948.

A despeito dos esforços desesperados dos monopólios para manter os preços artificialmente aumentados, os preços no atacado começaram a cair rapidamente. Assim é que durante o ano de 1948, os preços sobre os produtos de algodão baixaram de 15 a 20%, enquanto que o de certas lãs baixava de 30 a 40%. No período decorrido do mês de janeiro ao fim do mês de agosto de 1949, os preços baixaram: de 25 % o do couro, de 43% o do zinco e de 30% o do chumbo. Durante o primeiro trimestre de 1949, os preços dos resíduos do aço baixaram de mais de 40% e em julho de 49 de mais de 50% relativamente aos preços médios de 1948.

O poder de compra da população diminui cada vez mais provocando a redução da massa de negócios do comércio varejista. Em fevereiro de 49, os grandes magazines venderam 5% menos que em fevereiro de 48 (em preços correntes), em março 12% menos que em março de 48, e em julho 7% a menos. Os estoques de mercadorias não vendidas se acumulam. Assim é que os estoques de seda artificial nas fábricas atingiram 29.1 mil toneladas em julho de 49, contra, 7,1 mil toneladas em dezembro de 48 e 6,1 mil toneladas em julho do mesmo ano.

Também o volume das construções diminui. Durante os cinco primeiros meses do 1949, as despesas com as construções industriais foram inferiores de 20% às feitas com o mesmo fito no mesmo período de 1948. O total dos contratos de construção concluídos durante o primeiro semestre de 49 foi inferior em 6% ao total do primeiro semestre de 48.

Observa-se uma queda na cotação das ações industriais na bolsa. O nível médio das ações da bolsa de Nova Iorque atingiu o mais baixo nível conhecido até aqui em comparação com o nível de 1945. O número de falências das firmas médias e pequenas nos Estados Unidos aumentou de mais de duas vezes.

O número de desempregados cresce rapidamente. Segundo os dados oficiais para o ano passado, de agosto de 48 a agosto de 49, o número de desempregados duplicou.

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A NOVA crise econômica engloba paulatinamente em sua órbita o conjunto do mundo capitalista. Entre os países que estão diretamente ameaçados pela crise de super-produção está a Inglaterra, cuja produção industrial de há muito marca passo, tendo atingido apenas o nível de 1937. Num grande número de ramos da indústria inglesa o retardamento é grande, mesmo em relação ao nível de 1937. Assim é que em 1948 produziu-se 48% menos tecidos de algodão que em 1937, 36% menos produtos de fios de algodão, 16% menos em produtos de lã e extraiu-se 16% menos carvão. No segundo trimestre de 1949 as exportações inglesas começaram a se reduzir. Em junho de 1949 elas eram em 10% inferiores ao nível atingido de janeiro a março do mesmo ano, enquanto que as exportações inglesas para os Estados Unidos diminuíram de cerca de duas vezes relativamente a 1948. Numa série de ramos a redução das exportações provocou imediatamente a da produção. Os jornais ingleses observam que as encomendas feitas às construções mecânicas leves se reduziram de mais de 50% relativamente a 1948. O ano de 1949 distinguiu-se pela redução da produção de turbinas hidráulicas, de aparelhos elétricos de uso doméstico, de aparelhos de rádio, pela redução das encomendas feitas às construções navais e às fábricas produtoras de máquinas agrícolas. Várias empresas têxteis de Lancashire fecharam as portas em agosto de 1949, devido à falta de encomendas. Observou-se no mês de junho uma redução da procura do aço.

Na Itália, o índice da produção industrial, durante os quatro primeiros meses de 1949, manteve-se mais ou menos no mesmo nível que no período correspondente de 1948, e foi consideravelmente mais baixo do que o nível de 1947. A produção da indústria de energia, bem como da metalurgia dos metais ferrosos baixou consideravelmente durante o primeiro trimestre de 1949, relativamente ao primeiro trimestre de 48. Diminuiu igualmente a produção das construções, e das indústrias química, têxtil e da madeira.

A produção industrial da França voltou em 1948 ao nível de 1937, e foi inferior em 28% ao nível de 1929. A partir da segunda metade de 1948, a preparação da guerra influiu sobre a indústria francesa: o número de encomendas militares dos Estados Unidos aumentou. Ao mesmo tempo, a produção baixou em ramos tais como as fábricas de aviação, as construções navais, a indústria cinematográfica, etc. Os estoques de mercadorias não vendidas se acumulam nos ramos que produzem objetos de consumo corrente. Dificuldades particulares se alçam no domínio do escoamento dos calçados e dos produtos têxteis.

Na Bélgica, as reservas de carvão crescem de dia para dia, malgrado as extrações de carvão continuarem em 12% inferiores ao nível de antes da guerra. O carvão belga foi quase totalmente deslocado do mercado francês, de um lado pelas importações de carvão americano, e de outro lado pelas importações do carvão do Rhur. O carvão belga não consegue, tão pouco, encontrar compradores nos mercados da Itália e da África do Norte.

A produção de fios de algodão e de lã belgas baixou em 1948 relativamente a 1947, as exportações têxteis no quarto trimestre de 1948 foram consideravelmente inferiores às do primeiro trimestre do mesmo ano. Grandes dificuldades de escoamento são experimentadas pelas indústrias do vidro, dos perfumes e por um certo número de outros ramos da indústria belga. O número de desempregados na Bélgica aumentou de 132% em abril de 49, relativamente a abril de 1948.

A crise econômica de super-produção é também uma ameaça direta para a agricultura dos países capitalistas. Isto diz respeito em primeiro lugar aos Estados Unidos e aos outros países que exportam uma parte importante de sua produção agrícola.

O desenvolvimento da crise agrária é favorecido pela:

diminuição do poder de compra das massas trabalhadoras nos países capitalistas;
extensão da produção agrícola dos Estados Unidos e de um certo número de outros países do outro lado do Atlântico durante o período que medeia entre 1940 e 1948. Assim é que as superfícies de semeadura reservadas aos cereais foram superiores nos Estados Unidos de 7,6% em 1948 e de 8,5% em 1949 à média dos anos de 1934 a 1938 e, particularmente, para o trigo; elas foram superiores em 29,7% em 1948 e em 36,1% em 1949;
a recuperação parcial da agricultura dos países capitalistas da Europa e a boa colheita obtida em grande número destes países em 1948. As colheitas de trigo e de centeio em 17 países capitalistas da Europa, atingiram 31,3 milhões de toneladas em 1948, contra 21 milhões em 1947 e 35,5 milhões de toneladas, em média, no período decorrido entre 1934 e 1938. Segundo os dados atuais, as colheitas de trigo na Europa em 1949 foram inferiores de 5% às de 1948;
o aumento dos preços dos gêneros alimentícios resultante da política aplicada pelos monopólios americanos durante a guerra e nos anos que se seguiram à guerra, monopólios que procuraram engordar o mais possível à custa da fome que reinava nos países capitalistas da Europa e da Ásia. O preço por tonelada de trigo americano foi assim aumentando de 31,9 dólares em 1938, para 103,2 dólares em 1947.
Uma série de índices comprova o desenvolvimento da crise agrária.

As reservas de cereais aumentam. Assim é que as reservas de trigo nos Estados Unidos, no Canadá, na Argentina e na Austrália, segundo os dados previamente fornecidos, formaram a 1.º de julho de 1949 17,4 milhões de toneladas contra 10,5 milhões na mesma data de 1946 e em 1947. As reservas de cereais crescem com particular rapidez nos Estados Unidos. As reservas de trigo americanas foram calculadas, pelo ministério da Agricultura dos Estados Unidos, em 7,97 milhões de toneladas em 1.° de julho de 1949, contra 5,3 milhões em 1.° de julho de 1.948 e 2,3 milhões em 1.” de julho de 1947.

Começou a queda dos preços dos produtos agrícolas. Em julho de 1949, os preços nos Estados Unidos foram mais baixos do que em julho de 48: de 6,2% para o trigo, de 30,5% para o milho, de 5,5% para o algodão. Nos meses de agosto e setembro os preços do trigo aumentaram um pouco, mas ainda assim continuaram inferiores aos dos mesmos meses de 1948. O preço do milho e do algodão baixa igualmente. Esta queda dos preços é tanto mais reveladora por se produzir a despeito da resistência, malgrado as diferentes medidas tomadas pelo governo para manter os preços num nível elevado.

Os preços da terra estão em baixa. Em 1947, o índice do preço de um acre de terreno construído atingiu o nível de 1920 nos Estados Unidos, que foi o nível máximo de antes da guerra. A baixa dos preços dos produtos agrícolas condicionou a queda dos preços da terra, queda que foi de 10% durante o primeiro semestre de 1949. A procura de terras diminui em consequência do desenvolvimento da crise agrária.

A instabilidade da economia dos países capitalistas é claramente caracterizada pelo estado do comércio mundial. O volume físico das exportações mundiais (URSS e países de democracia popular não compreendidos) em 1948 foi inferior em 12% ao de 1929 e de 9% ao de 1937. Em 1949 o volume do comércio mundial diminuiu. A importância proporcional dos diferentes países no comércio mundial modifica-se constantemente. A natureza irregular do desenvolvimento dos diferentes países se manifesta com evidência sempre maior enquanto se intensifica a luta pelos mercados.

A redução do comércio mundial dos países capitalistas durante estes últimos tempos é provocada pela saída dos países de democracia popular da esfera capitalista, países para com os quais os países capitalistas aplicam uma política de discriminação. O mercado de escoamento dos países capitalistas restringiu-se igualmente devido ao desenvolvimento do movimento de libertação nacional nos países coloniais e semi-coloniais e pela instituição do regime de democracia popular em alguns destes países, como China, Coréia do Norte, Vietnam.

Uma das razões mais importantes que explicam a instabilidade do mercado mundial é a política de agressão aplicada pelo imperialismo americano. Sob a capa de “ajuda” aos países da Europa Ocidental, o imperialismo americano se apossa dos seus mercados internos e externos, procurando aumentar a sua influência econômica e política. Procurando aumentar o mais possível as exportações de suas mercadorias, os monopólios americanos restringem as importações de mercadorias estrangeiras para seu pais. Disso decorre um enorme ativo na balança comercial dos Estados Unidos e uma fome mundial de dólares. Durante os anos de 1946 a 1948, o ativo da balança comercial dos Estados Unidos foi, segundo os dados das estatísticas americanas, de 24,7 bilhões de dólares contra 1,2 bilhões de dólares no período de 1936 a 1938. O ativo da balança de pagamentos dos Estados Unidos aumentou ainda mais. A fome de dólares é utilizada pelos Estados Unidos para ditar “auxílios” e acordos prejudiciais aos outros países capitalistas. Em virtude do plano Marshall, os capitalistas americanos abarrotam os mercados dos países da Europa Ocidental com uma enorme quantidade de mercadorias, obtendo assim lucros imensos e, o que ainda é mais vantajoso para eles é que em virtude do plano Marshall eles podem exportar para os países da Europa Ocidental não máquinas e equipamento, mas produtos de consumo. Simultaneamente, os Estados Unidos utilizam o plano Marshall para minar grande número de ramos industriais dos países da Europa Ocidental.

Tudo isto causa enorme dano à economia dos países da Europa Ocidental, conduz à redução da produção, ao agravamento do desemprego e da miséria das massas trabalhadoras. Esta política aguça as contradições entre os países capitalistas da Europa Ocidental e o imperialismo dos Estados Unidos, reforça as contradições internas dos países capitalistas da Europa. Diminuindo o poder de compra dos trabalhadores, esta política conduz ao desenvolvimento da crise nos Estados Unidos.

A nova crise econômica desencadeou-se em condições de extrema instabilidade da circulação monetária no conjunto dos países capitalistas. A inflação que se apossou dos países capitalistas durante a guerra não diminuiu absolutamente no período de após-guerra e mesmo se reforçou na maioria dos países capitalistas, ganhando proporções gigantescas em alguns. Para julgar do desenvolvimento da inflação basta referir à alta dos preços nos países capitalistas, alta que exprime igualmente a política de elevação dos preços aplicada pelos monopólios.

Mesmo segundo os dados falsificados indicados na tabela dos índices de preços de atacado nos países capitalistas, índices oficiais, o poder de compra do dólar caiu de cerca de duas vezes em comparação com o período de antes da guerra, o da libra tendo caído de mais de duas vezes, o do franco francês de 20 vezes, o da lira italiana de 57 vezes, do iene japonês de 180 vezes. Em todos os países capitalistas, o poder de compra das divisas em 1949 foi muito mais baixo do que no momento do fim da guerra. A queda do valor das divisas exprime-se ainda mais consideravelmente nos preços de varejo. Em certo número de países essa queda era mascarada pela manutenção artificial do nível de câmbio oficial das divisas, nível consideravelmente mais elevado que o câmbio não oficial no mercado negro.

Depois do término da segunda guerra mundial, realizaram-se desvalorizações numa série de países capitalistas. Em certos países houve mesmo diversas desvalorizações: 5 na França, 5 na Grécia depois de 1944, etc.

Em setembro de 1949 os países capitalistas entraram numa nova fase de depreciação das moedas. A desvalorização da libra esterlina, aplicada a 18 de setembro de 1949, foi seguida pela desvalorização das moedas de 24 outros países capitalistas, aí compreendidos todos os países do Império Britânico (exceto o Paquistão), bem como as moedas do Egito, do Eire, da Birmânia e da quase totalidade dos países marshalizados. A depreciação até 30% das moedas dos países capitalistas, aplicada sob a pressão dos Estados Unidos com o objetivo de reforçar sua expansão econômica, constitui um novo golpe para a economia destes países e para o nível de vida das massas trabalhadoras. A desvalorização aguça extremamente as contradições entre os países capitalistas.

Em todos os países capitalistas a inflação é largamente empregada como meio de reforçar a exploração da classe operária, de baixar seu salário real, de expropriar a pequena burguesia e de concentrar capitais. Os monopólios recorrem igualmente à inflação e à alta dos preços para pilhar os outros povos a quem são impostas mercadorias americanas e inglesas a preços inflacionários.

A inflação e as medidas monetárias aplicadas pelos Estados burgueses, assim como a fome de dólares provocada pela política dos Estados Unidos que procura aumentar as exportações americanas sem dilatar as importações, desorganizam ainda mais as relações econômicas internacionais e têm por resultado intensificar as contradições entre os imperialistas.

Com o auxílio da inflação, os monopólios capitalistas conseguem no momento manter os lucros num nível bastante elevado, malgrado o desenvolvimento da crise. Os lucros dos monopólios dos Estados Unidos, depois de pagos todos os impostos, subiram a 21,2 bilhões de dólares em 1948, contra 19,1 bilhões em 1947 e 8,6 bilhões no período de 1939 a 1945, sendo que esta cifra representa o lucro anual médio durante este período, e contra 2,9 bilhões de 1934 a 1938, sendo que esta cifra representa o lucro anual médio dos cinco anos que precederam a guerra. Durante o primeiro trimestre de 1949, os lucros realizados pelos monopólios ultrapassaram de 10% os do primeiro trimestre de 1948.

Os lucros das corporações inglesas atingiram 1.684 milhões de libras esterlinas em 1947 e 1.945 milhões de libras esterlinas em 1948, contra 763 milhões em 1938. Segundo os dados falsificados da estatística inglesa, a importância proporcional dos lucros realizados pelos monopólios ingleses relativamente à renda nacional chegou a 17% em 1948, enquanto que não ultrapassava 11,7% cm 1938. Os lucros realizados pelas companhias industriais durante o segundo trimestre de 1949 aumentaram de 15% relativamente ao mesmo período de 1948.

Ao mesmo tempo, a situação da classe operária continua a piorar nos países capitalistas. O salário real dos operários dos Estados Unidos (salários médios semanais), em abril de 1949, eram inferiores de 16% aos de 1943, é o total dos salários pagos pelas empresas industriais de transformação reduziu-se de 28% no mesmo período. De fato, o salário real diminuiu muito mais nos Estados Unidos, considerando-se que as contribuições diretas impostas aos operários e empregados foram eleva das consideravelmente.

Segundo os dados do Partido Comunista, o salário real dos operários ingleses durante 1948 foi nitidamente inferior ao salário real de 1938 que foi um ano de crise.

O nível de vida dos operários da Alemanha Ocidental é inferior em 44% ao do ano de antes da guerra, 1938. Existem 1,3 milhões de desempregados na trizona, isto é, quase um décimo do total de operários e empregados. Em certos “laender”, como no Schlezwig-Holstein, os desempregados representam 21% do total de trabalhadores e empregados.

No Japão, o salário real, em 1948, foi inferior em 55% ao dos anos de 1934 a 1936. Segundo os dados da estatística oficial japonesa que não leva em conta os desempregados que recebem indenizações do Estado, o número de desempregados no país é de 310 mil Na realidade, estas cifras estão longe de exprimir as verdadeiras proporções do desemprego. Segundo os dados do suplemento ao jornal “Nippon Times” de 15/10/1948, o número de desempregados totais e parciais no Japão era de 4 a 5 milhões no fim do ano de 1948. Além disso, o desemprego cresce no Japão entre os proletários e semi-proletários rurais, os “coolies”, os “rukches”.

O desenvolvimento da crise econômica, a corrida armamentista, a desvalorização das moedas, aplicada numa série de países capitalistas europeus, trazem consigo a maior pauperização das massas trabalhadoras dos países capitalistas.

A crise econômica que se desenvolve lança bem para trás os países capitalistas e, em primeiro lugar, a cidadela do imperialismo, os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, na URSS e nos países de democracia popular a produção industrial e agrícola não cessa de crescer, e se eleva o bem estar dos trabalhadores.

Como resultante do desenvolvimento intensivo da economia da URSS e dos países de democracia popular, a correlação de forças entre o campo da democracia e o campo do imperialismo modificou-se de há muito em favor do campo anti-imperialista. Atualmente, as posições econômicas do campo imperialista e anti-democrático são ainda, mais abaladas pela nova crise que, iniciando-se nos Estados Unidos, ameaça estender-se ao conjunto do mundo capitalista.

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“Nessa luta contra a guerra devemos nos unir todos, independentemente de diferenças políticas, religiosas ou filosóficas. A luta pela paz é superior a quaisquer diferenças e pode e deve unir a todos os patriotas que não estejam dispostos a aceitar de braços cruzados a infâmia e a desgraça de uma nova hecatombe”.
Luiz Carlos Prestes