Custou para que os homens do governo admitissem a existência da crise no país. Quando já ninguém mais se iludia sobre a realidade gritante do desemprego e da brusca redução da atividade produtiva em ramos essenciais da economia, os tecnocratas do Planalto prognosticavam ligeiras dificuldades setoriais na indústria. Afinal reconheceram: havia recessão. Mesmo porque os dados não deixavam lugar a dúvidas. Os do IBGE, de maio deste ano, indicavam quase um milhão de desempregados nas seis maiores áreas metropolitanas. A Siderbrás registrava a ausência de boa parte das encomendas normais de aço. O presidente da Petroquímica da Bahia referia-se, preocupado, ao estoque em aumento de produtos químicos. O setor automobilístico, incluindo a fabricação de caminhões, continuava em descenso. E caíam as vendas a varejo em São Paulo e no Rio.

Face a esta situação, o governo começou a falar em relançar a economia, a partir do campo. Acontece que o Brasil anda perto da insolvência. O peso exorbitante dos juros e "amortizações" da dívida externa anula qualquer esforço para equilibrar o balanço de pagamentos. A cada ano maior é a necessidade de captação de recursos extraordinários no exterior a fim de cobrir déficits maciços. Em 1981, se prevê a captação mínima de 21 bilhões de dólares, que será obtida fundamentalmente através de novo endividamento a juros ainda mais altos. Além disso, os cálculos sobre o montante da exportação falharam. Dificilmente chegará aos 26 bilhões de dólares previstos.

Em conseqüência, põem-se em leilão as riquezas naturais. Carajás, a esta altura, vai passando às mãos do capital estrangeiro. A seu serviço já se encontra a hidroelétrica de Tucuruí que deve transformar a bauxita em alumina e alumínio para os trustes norte-americanos, japoneses, suíços e outros. Em seu benefício constrói-se uma estrada de ferro da Serra de Carajás ao litoral e um porto no Maranhão com a finalidade de transportar os minérios destinados ao exterior. O pouco que restar ao Brasil de semelhantes operações será reenviado aos banqueiros internacionais, fornecedores de crédito, objetivando saldar juros de dívidas em elevação.

E não é tudo. O governo pôs à venda 51 grandes empresas estatais. Empresas que, de direito e de fato, pertencem ao povo, do bolso de quem saiu, em última instância, o dinheiro para construí-las e fazê-las funcionar. Não exige muito esforço de imaginação localizar os prováveis compradores – os monopólios estrangeiros. São eles que dispõem de dólares para "fechar”; o negócio, dólares de que o governo precisa para atender compromissos internacionais impostergáveis. E o preço? Será o do vendedor que anda com a corda no pescoço.

Enfim, crise econômica grave, crise financeira ainda mais grave. O país se aproxima, dia a dia, dos limites perigosos da subjugação completa aos interesses alienígenas. A isto nos conduziu a política antinacional e antipopular dos detentores do poder desde 1964.

Contudo, os prognósticos oficiais, sem base real, continuam otimistas. Tudo depende da exportação… ou, como dão a entender os dirigentes da FIESP, de um milagre. Milagre da ascensão dos negócios no 2o semestre. Apoiados em que esperam melhorar a situação? Uma retomada no ritmo industrial demanda efetiva melhoria do mercado interno e este prossegue em baixa com a falta de emprego, a redução dos salários e vencimentos, a carestia de vida. Quanto à abertura do mercado externo, as dificuldades são intransponíveis. Ainda agora, em que pese o militarismo desvairado de Reagan, os Estados Unidos defrontam-se com a acentuação da crise. O que ocorre também na Inglaterra, na França, na Alemanha" na Polônia etc.

A solução dos problemas brasileiros atuais reclama providências enérgicas ao nível da gravidade do momento que o país atravessa. Ou seja, mudança de profundidade na orientação econômico-financeira e social do governo; medidas drásticas quanto às dívidas externas; defesa dos interesses nacionais e populares. Tal solução implica necessariamente na unidade do povo, na obtenção de um regime de verdadeira liberdade, na democracia substantiva. A saída é, assim, política, antes e acima de tudo.
Um prognóstico conforme a realidade.

EDIÇÃO 3, NOVEMBRO, 1981, PÁGINAS 3