Ao analisar a falência da II Internacional, Lênin observou que cada crise na história, cada virada na vida do homem, "desorienta e desanima alguns, mas, por outro lado, instrui e torna agressivos outros" (1).
A crise na URSS, com centro nos acontecimentos do último dia 19 de agosto, provocou, e continua provocando, uma redefinição nas mais diversas correntes de opinião, em plano internacional. Mesmo no movimento comunista os abalos se fizeram sentir.

Os partidos revisionistas desagregam-se como se fossem atingidos por uma bomba. Afinal, o revisionismo que durante três décadas eles apregoaram como "marxismo criador" desembocou na contra-revolução escancarada, e no anticomunismo.

Este reacomodamento de forças tem como pano-de-fundo a avaliação que cada um faz dos problemas internacionais. A capacidade de localizar para onde apontam os interesses fundamentais do proletariado e o caráter das transformações em curso, e a coragem de enfrentar a "tempestade no deserto" político-ideológica do imperialismo. A compreensão – ou não – do que significou a malograda tentativa de derrubar Gorbachev. A identificação – ou não – da linha de continuidade entre as transformações, há muito em pauta na URSS, particularmente depois de 1985, e a atual investida contra-revolucionária de Ieltsin e Gorbachev.

As fileiras revisionistas dividem-se em variadas correntes. Umas se entregam totalmente ao derrotismo. Consideram a ofensiva imperialista como definitiva e o fracasso do socialismo como assunto encerrado. Capitulam e marcham para a auto-dissolução de seus partidos e incorporação integral na política burguesa. O exemplo mais típico dessa primeira corrente é o do PCB de Roberto Freire. Seus seguidores consideram que a ditadura do proletariado é o passado. Que agora é a vez do pluralismo – no Estado e no partido. O "novo socialismo" que apregoam fundamenta-se em conceitos liberais, tem o mercado e a propriedade privada como partes integrantes, será construído pela "política de radicalidade democrática", e "não comporta a contraposição entre reforma e revolução" (2).

Muitos tratam de se afastar de Gorbachev e enfrentam imediata censura da direita
Setores centristas esforçam-se para sair da órbita revisionista, mesmo sem uma referência segura do rumo a seguir. No mínimo cuidam de livrar-se do fardo da submissão completa que mantinham até recentemente diante do PCUS. Alguns tentam uma resistência de caráter social-democrata – difícil de se manter de pé, uma vez que a própria social-democracia tradicional encontra-se num beco sem saída. Mas por mais tímidas que sejam suas atitudes, bastou não endossarem integralmente os termos fixados por Bush na interpretação dos fatos na URSS, para enfrentarem cerradas críticas, internamente dos grupos mais à direita, ou da mídia burguesa, visando a liquidar com sua "ousadia" no nascedouro.

Nesse segundo bloco a realidade é muitíssimo variada. E com particularidades que mereceriam um estudo mais detalhado, que não cabe aqui. Alguns exemplos servem para dar uma idéia do que acontece. De uma forma ou de outra, todos pretendem distanciar-se de Gorbachev. Mas nem sempre conseguem definir uma atitude clara sobre as mudanças em pauta. O PC de Portugal, dirigido por Álvaro Cunhal, logo ao tomar conhecimento do movimento para depor Gorbachev, divulgou nota observando que "as notícias levam a admitir que a iniciativa surge como uma tentativa de conter o desenvolvimento de um processo contra-revolucionário e de empreender soluções no sentido do socialismo"…

Imediatamente foi alvo de furioso ataque da burguesia, tachando-o de partidário do golpe e, inclusive, tratando de tirar consequências no plano eleitoral.

Na França o PCF debate-se em feroz luta interna. Pronunciamento do Birô Político, no dia 19, assim como editorial do L 'Humanité e uma entrevista de George Marchais criticam apenas o "método empregado para afastar Gorbachev". Foi o suficiente para que Charles Fitermann e Aniat Le Pors, dois membros da direção, ex-ministros do governo Mitterrand, promovessem uma gritaria exigindo a demissão do Comitê Central, pela não condenação explícita do golpe. A disputa encontra-se em andamento.

O PC dos EUA adotou uma forma cautelosa de concentrar críticas na orientação de Ieltsin-Gorbachev. Na declaração, divulgada em 28 de agosto, diz que enquanto muitas questões a respeito do movimento "inconstitucional" ainda não estão respondidas, "uma coisa é absolutamente clara: forças reacionárias, pró-capitalistas na URSS, com o apoio das corporações transnacionais, estão explorando a situação". Observa que "os acontecimentos, durante os últimos seis anos, levantam muitas novas questões que os comunistas terão de examinar". Alerta que os EUA sempre usaram o anticomunismo para atacar a democracia.

Os segmentos revolucionários, que ainda mantinham-se nestas organizações, com esperanças numa recuperação a partir da luta interna, tendem a uma aproximação com os autênticos comunistas.
É o que fizeram os quadros e militantes do PCB, no Rio de Janeiro, que abandonaram este agrupamento e ingressaram no PCdoB, em setembro (3).

Na URSS, também, vão surgindo grupos que se declaram pela retomada do caminho revolucionário. Nina Andreieva, integrante do Comitê da Plataforma Bolchevique, em entrevista pelo telefone ao jornal Hora do Povo, de 21 de agosto, manifestou "apoio ao Comitê Estatal para o Estado de Emergência" e a esperança de que fosse "restabelecida a ordem socialista em nosso país para que possamos sair da crise gravíssima a que nos levou Mikhail Gorbachev". Declarou-se "pelo leninismo e pelos ideais comunistas". Convocou uma "luta implacável contra os predadores do partido e os fascistas, como Ieltsin, que querem ser os coveiros do socialismo em nosso país".

Anatoly Kryuchov que encabeça outro movimento, em declarações reproduzidas pelo Jornal do Brasil, mostrou que "chegará o momento em que o povo será forçado a ver a realidade. Quando as pessoas virem o que os chamados democratas fizeram a elas, e não puderem culpar as forças sombrias do comunismo, então vão começar a se perguntar onde está o brilhante futuro capitalista que lhes foi prometido".

Avaliações distintas sobre a essência do processo desencadeado na União Soviética
Vale assinalar dois casos particulares, que não se enquadram propriamente nas correntes citadas acima. O PC de Cuba e o Partido Popular Socialista do México.

Cuba nunca arriou a bandeira da luta antiimperialista. Mas, em boa parte devido às condições concretas em que realizou sua revolução, sofreu as consequências de um alinhamento excessivo com a URSS. O próprio embaixador deste país no Brasil, Jorge Bollaños, em entrevista ao jornal A Classe Operária (n. 68 – de 3 de outubro), indicou que: "Desde 1986, antes mesmo da perestroika, nós percebemos que havia uma grande fraqueza ideológica nos países do Leste, então iniciamos uma política de retificação dos nossos rumos, procurando pouco a pouco nos libertar dessa dependência e consolidar o caminho cubano do socialismo, sem abdicar dos princípios revolucionários".

No dia 20 de agosto, o governo cubano, diplomaticamente, comentou que o chamamento do presidente interino da URSS, Guenadi Ianayev "qualifica de temporárias as medidas de caráter extraordinário adotadas e sublinha que elas não afetam os compromissos internacionais assumidos pela URSS". Já anteriormente, Fidel Castro assinalara que, independente do que pudesse acontecer na URSS, a antiga palavra-de-ordem Pátria ou Morte passava a ser Socialismo ou Morte. A resistência estava definida.

O PPS declarou-se pelo marxismo recentemente. Modesto Cardenas do seu comitê central, analisou, em 2 de setembro, no semanário Combatiente, órgão oficial do PPS, que na URSS, no curso da reestruturação, manifestaram-se e adquiriram força os inimigos do socialismo. Que, "nestas condições, e desesperados com a marcha rumo à desintegração devido às debilidades e concessões de Gorbachov para obter ajuda financeira dos países capitalistas, e por tensões internas e interétnicas, um grupo de dirigentes do Exército Vermelho, do partido e do governo, intentou o golpe de Estado fracassado".

A direção do PPS qualificou a ofensiva desencadeada por Ieltsin-Gorbachev como "febre anticomunista" que nos recorda "as piores situações em países capitalistas como a República do Chile na época do general Pinochet".

No movimento comunista mundial, porém, surgiram também avaliações diferentes sobre o processo em curso na URSS e sobre a tática revolucionária mais acertada.

O PCdoB concentrou fogo em Gorbachev e em sua política anti-socialista, e tratou de desmascarar a tentativa do imperialismo de apresentá-lo como campeão da democracia (4).

Na França, o PCOF centrou sua política em "condenar resolutamente o golpe não somente na forma, mas no seu conteúdo e seus objetivos". O jornal La Forge, deste partido, comenta, em 15 de setembro, que "os dirigentes do golpe fracassado, como Gorbachev e Ieltsin, são sobretudo representantes típicos da burguesia burocrática" que dominaram o partido e o Estado.

Deformações no rumo socialista acarretam negação de interesses até dos trabalhadores
Na Espanha, o PCE(ML) criticou a tentativa de voltar ao revisionismo de Brejnev, ao mesmo tempo em que repudiou Gorbachev e a alternativa Ieltsin – "o primeiro dirigente revisionista russo importante a apostar numa força política burguesa totalmente desligada do PCUS", comenta o Vanguardia Obrera, em 4 de setembro.

Neste ponto, para interpretar a origem de tantas redefinições, é preciso recapitular um pouco o processo que culminou com a elevação de Gorbachev à posição de "grande teórico" do mundo moderno.

Em 1956, muitos partidos comunistas, sem visão crítica da essência das mudanças, aceitaram a forma de "marxismo criador" apresentada por Nikita Kruschev, a partir do XX Congresso do PCUS, que agora caiu no abismo do anticomunismo explícito.

A base desta guinada foi, essencialmente, por debilidades ideológicas e teóricas. O partido e o Estado não desenvolveram adequadamente a teoria marxista, e não identificaram as alterações no processo da luta de classes a da construção da nova sociedade. Criaram-se condições para o ressurgimento de concepções pequeno-burguesas do socialismo.

O fim da Segunda Guerra levou a uma polarização entre os EUA, hegemônicos no terreno capitalista, e o campo socialista encabeçado pela URSS. A guerra fria entrou em cena. A ameaça nuclear pesava sobre o mundo.

A reconstrução da Europa permitiu um acelerado desenvolvimento do capitalismo, com oferta abundante de empregos e melhores salários para os trabalhadores. Como decorrência, condições propícias à ampliação da aristocracia operária e ao crescimento do reformismo.

Na URSS, a recuperação da economia se deu também rapidamente. Mas as novas condições da competição internacional, a elevação extraordinária do nível cultural do povo soviético, sua inabalável decisão de defender o socialismo, revelada no combate às hordas nazistas, as necessidades materiais dos cidadãos, o progresso alcançado pelo socialismo em todos os terrenos, e seu prestígio mundial, reclamavam transformações revolucionárias nos processos de construção do socialismo, nas relações políticas no partido e na sociedade, um novo patamar da democracia proletária. É uma política internacional revolucionária capaz de enfrentar a agressividade do imperialismo e suas ameaças de utilização de armas atômicas.

Sem explicar teoricamente as novas condições, era difícil formular as tarefas que a revolução exigia.
O partido e o governo repetiam, em boa parte, soluções que funcionaram anteriormente, mas que tinham sido superadas pela vida. Permitiram, com isto, deformações na construção do novo regime e a negação de direitos e interesses dos próprios trabalhadores.

Foi explorando esta situação que Nikita Kruschev apresentou-se como "renovador" dos ideais revolucionários em todos os terrenos. Particularmente como o portador da nova "democracia". Em nome da renovação atacava os alicerces fundamentais do socialismo. Tinha base social principalmente na pequena-burguesia, em setores burocratizados encastelados no aparato estatal, e no campesinato, porém, fez-se igualmente porta-voz do descontentamento que tomou corpo entre os trabalhadores.

Lênin advertia, em 1908, exatamente num período de maré contra-revolucionária, que "a política revisionista consiste em determinar seu comportamento em função das circunstâncias, em adaptar-se aos acontecimentos do dia, às viragens dos pequenos fatos políticos, em esquecer os interesses fundamentais do proletariado e os traços essenciais de todo o regime capitalista".

Kruschev tratava de problemas reais, que exigiam respostas. Quem, entretanto, se contentou com a simples aparência da palavra democracia, e se acomodou com migalhas do dia-a-dia, comeu gato por lebre, tolerou que as concepções da democracia burguesa, e pequeno-burguesa, minassem, gradativamente, o regime instaurado em 1917.

Em 1964, as inovações kruschevistas tornaram-se demasiadamente desavergonhadas e geraram descontentamentos. Leonid Brejnev encenou o segundo ato da farsa, criticando o revisionismo e promovendo, por outras vias, o mesmo processo de liquidação do socialismo.

O PC da China, que vinha desempenhando importante papel no combate ao revisionismo, deixou-se enganar, naquele momento, por este pequeno fato político.

Em 1985, Gorbachev ainda se denominava continuador, e até "restaurador", do verdadeiro leninismo, enquanto promovia a sabotagem completa das teses de Lênin – em especial sobre a questão da guerra e da paz. Ampliara sua base de sustentação com uma extensa camada de "gerentes" e diretores de empresas, favorecidos por sucessivas "modernizações". Mas a crise em que a URSS mergulhara sob o comando revisionista já não permitia manter a máscara. Tenta uma flexão de conteúdo social-democrata, tanto na organização estatal como nas "reformas" da vida partidária. Chegou a se dizer social-democrata tipo sueco. Mas não teve como evitar o desmascaramento como raivoso anticomunista, impelido pelo abraço-de-urso de Ieltsin.

Movimento de Ieltsin é fruto da árvore adubada pela glasnost e pela perestroika
A verdade é que a "liberalização" empreendida desde 1956, e que tomou força multiplicada com Gorbachev, liberou o que havia de mais anti-socialista e contra-revolucionário na sociedade soviética. O movimento de características fascistas encabeçado por Ieltsin – e que consegue, por ora, empolgar grande contingentes do povo soviético – é o desdobramento natural do processo político instaurado com a glasnost. Assim como a ruína econômica foi o resultado principal dos esforços da perestroika para completar a liquidação da estrutura de produção socialista.

Só se ilude com o caráter democrático da transparência e modernização gorbachevistas quem se esquece de pesquisar o conteúdo de classe que elas representam.

A marcha do fascismo e os fracassos econômicos não poderiam deixar de provocar cisões no próprio movimento revisionista. E, evidentemente, descontentamento na população. A tentativa de golpe em 19 de agosto, pelos dados até aqui revelados pela própria imprensa, foi a expressão do inconformismo de setores do partido revisionista, do exército e do próprio governo a essa situação calamitosa. Gente que esteve envolvida com todas as mudanças que vêm sendo realizadas desde o XX Congresso do PCUS, mas que se alarmou com o caos criado, e tentou colocar um freio na guinada de Gorbachev rumo à direita escancarada de Ieltsin. E que imaginou (ainda!) forjar uma alternativa nos marcos social-democratas e revisionistas para evitar o colapso.

A vida colocou na ordem-do-dia essa contradição entre social-democratas e revisionistas com a onda ultra-reacionária que arrasta Gorbachev para os braços de Ieltsin. Contradição que se acirrou rapidamente e na qual os grupos comunistas em formação não tinham condições de intervir com peso.
A derrota de Gorbachev não podia, evidentemente, restaurar o rumo socialista na combalida URSS. Mas o resultado da luta não era indiferente para os revolucionários. Colocar-se à margem numa situação destas, simplesmente invocar questões de princípios para dar o mesmo peso aos dois contendores significava recusar-se a atuar de acordo com a realidade. Pensar que, nessa situação de impetuosa investida reacionária, um apelo heróico à revolução pudesse ser ouvido, era abusar do direito de sonhar. Em 1914, numa situação de ascenso do movimento revolucionário de massas, Lênin identificou que a contradição era entre a guerra imperialista e a revolução. E lançou a palavra-de-ordem de transformar a guerra imperialista em guerra civil. Querer transplantar esta realidade para nossos dias e imitar as tarefas então colocadas pelos bolcheviques, seria condenar-se ao imobilismo.

Por outro lado, a pretexto de salvaguardar a democracia, tomar como questão central a condenação do golpe, inevitavelmente resultaria em ser arrastado no leito da campanha imperialista em defesa de Gorbachev. E com os acontecimentos posteriores, não restam dúvidas sobre os frutos da vitória de Gorbachev-leltsin.

Independente da vontade de cada um, os campos se dividiram radicalmente: de um lado o imperialismo, comandado por George Bush, com a social-democracia a tiracolo, exigindo de todos um pronunciamento "contra o golpe e a favor da democracia" e a "democracia" significava manter Gorbachev no trono. De outro, os revolucionários, contra Gorbachev e sua política antiproletária.
Não se poderia, por fim, alimentar esperanças no levante de Ianayev. Nem caberia fazer nenhuma concessão de princípios a seus seguidores. Os revolucionários, no entanto, para aterem-se ao real e não aos desejos, tinham de encontrar formas concretas de atuar nas condições criadas e de explorar inclusive as fraquezas dos golpistas e sua incapacidade de empolgar as massas. Talvez isso explique, inclusive, as declarações de Nina Andreieva, manifestando uma confiança nas possibilidades do Comitê de Emergência que a realidade não confirmou.

Os golpistas fracassaram sobretudo por sua orientação revisionista e social-democrata. O próprio Gorbachev tentou, em certo momento, se manter nesta posição e não conseguiu. As dificuldades do capitalismo em plano mundial – e a derrota de 40 anos de social-democracia na Suécia é uma demonstração disto – inviabilizam as saídas nessa direção.

Uma política que facilite o surgimento de novas forças revolucionárias
Sem exagerar as semelhanças, vale lembrar que no período da Primeira Guerra, o movimento comunista viveu uma crise que levou ao esfacelamento de quase todos os partidos operários.
Com a bancarrota da II Internacional, numa fase contra-revolucionária, de 1908 a 1914, organizou-se uma reunião em Zimmerwald, em setembro de 1915, com o objetivo de reerguer a organização. Apesar do predomínio dos oportunistas no movimento, Lênin incentivou a formação de uma corrente de esquerda, e advogou a participação dos próprios bolcheviques (como observadores) – no que chamou de Internacional dois e meio – como tática para, no mínimo, neutralizar a onda social-chauvinista, de colaboração do proletariado com "suas" burguesias, na guerra.

A atitude para com os elementos hesitantes dizia Lênin, "tem uma importância considerável (…) uma aproximação com eles, contra o social-chauvinismo, é indispensável". Ao mesmo tempo, advertia: "Nas deliberações internacionais não se pode limitar o programa ao que é aceitável por esses elementos. Se não nós mesmos seremos prisioneiros do pacifismo hesitante" (5). Ou seja, fazer política, sem incorrer em concessões de princípios, compreendendo que de tal movimento poderiam surgir melhores condições para a retomada da corrente revolucionária. Estas indicações merecem atenção diante do quadro de esfacelamento dos agrupamentos revisionistas hoje.

Valem ainda dois comentários rápidos sobre as repercussões no Brasil. O PT, seguindo a onda, revelou-se como fervoroso adepto de Gorbachev. Lula, declarou à Folha de S.Paulo: "Só posso estar feliz com a volta de Gorbachev". Genoino foi mais longe: "A democracia volta com força". E Paulo Delgado destilou seu anticomunismo: "A lição histórica é nunca mais fazer coligação com o PCdoB, que apoiou o golpe".

Quanto ao PCdoB, que neste período foi colocado na berlinda por ter coragem de enfrentar os mísseis ideológicos da burguesia, colocou-se como pólo das forças revolucionárias em nosso país.
Em 1962, na sua reorganização, já havia se caracterizado por esta ousadia. Quando Kruschev e Prestes gozavam de fama incontestável, um pequeno grupo de comunistas teve o topete de apontar a falsidade de suas teses revisionistas – coisa que a vida se encarregou de demonstrar.

Por isto, seu Congresso, em janeiro de 1992, assume importância superior. E, também por isto, já no processo de sua preparação, recebe importantes adesões e é capaz de absorver o potencial progressista que esta tumultuada conjuntura deve gerar.

* Editor da revista Princípios.

NOTAS
(1) LÊNIN, V. I. A Bancarrota da II Internacional.
(2) VOZ DA UNIDADE, n. 514 – Propostas para o 9° Congresso do PCB.
(3) No dia 12 de setembro, numa solenidade com cerca de 700 pessoas, no auditório da ASI, no Rio de Janeiro, 70 ex-dirigentes e militantes do PCB, entre eles Juliano Siqueira, que integrava o comitê central deste partido, ingressaram no PCdoB.
(4) O secretariado do comitê central do PCdoB pronunciou-se, logo no dia 20, através de um artigo na Folha de S. Paulo, assinado por João Amazonas. Uma semana depois, a executiva nacional divulgou uma nota no jornal A Classe Operária, n. 66. No dia 15 de setembro, a reunião plenária do comitê central aprovou um documento mais analítico sobre a situação.
(5) LÊNIN, V. I. Socialismo e a Guerra.

EDIÇÃO 23, NOV/DEZ/JAN, 1991-1992, PÁGINAS 17, 18, 19, 20, 21