Estamos completando 500 anos de jornada na História. Como todos os povos, tivemos as virtudes do trabalho e do altruísmo, e os pecados da opressão, do egoísmo e da violência contra os fracos. Mas prevaleceram, na construção do nosso povo, a solidariedade e o orgulho de pertencer a uma mesma Pátria.

A Nação foi edificada com o heroísmo, o martírio, o trabalho e o sacrifício anônimo de homens e mulheres do povo. Marchando contra o desconhecido, levantamos milhares de povoações e preservamos identidade comum que nenhuma outra nação contemporânea obteve em tão pouco tempo e em território tão extenso quanto o nosso.

Falamos a mesma língua, guardamos as mesmas tradições, acreditamos que o destino do homem seja construir sua felicidade e, de forma quase universal, acreditamos no Estado democrático de direito como instância suprema da sociedade.

Derrotamos o autoritarismo, restauramos, com o povo nas ruas, o sistema democrático e estávamos no limiar da construção de uma sociedade democrática e menos injusta, quando começamos a perder o ímpeto de grandeza e a força da esperança.

Nos últimos anos, com a adesão de parcela significativa das elites brasileiras ao engodo de um mundo sem fronteiras e sem Estados, iniciou-se a destruição da nacionalidade, e a expectativa de riqueza transformou-se no espectro do desemprego e da pobreza rondando os lares de milhões de brasileiros.

A Nação foi submetida a extraordinária campanha de desestímulo que, operada a partir da Presidência da República, visava a impor ao nosso povo a descrença em sua capacidade de edificar seu próprio destino. Tínhamos de esquecer a epopéia dos que construíram este país e nos integrar; com a renúncia à nossa soberania, na nova ordem do mundo: a ordem da pobreza, a ordem “globalizada” da guerra, da “competitividade” desigual, do desemprego, do endividamento das nações, da insegurança coletiva, da recessão, da violência.

Para isso era necessário renunciarmos ao direito de construir uma nação rica e justa para seu povo, porque o destino dos países pobres era mesmo assim permanecer.

Assim, foram-nos impostas a desestruturação do Estado e a privatização como condições de “modernidade”. Assim foi desorganizada e desnacionalizada a infra-estrutura de nosso País, concentrada em monopólios e oligopólios privados. A promessa de uma nova potência industrial transformou-se em maior empobrecimento.

Tudo com a complacência e a submissão de nossas elites.

Essas reformas, políticas e econômicas, foram impostas ao Brasil e ao continente pelo Fundo Monetário Internacional e delas resultou – reconhecem hoje até mesmo a ONU e o Banco Mundial – o aumento do desemprego e da desigualdade social. Nossos países estão mais pobres e mais dependentes, nossas sociedades mais injustas e desiguais e maior é a distância – econômica, científica, tecnológica – que nos separa dos países desenvolvidos.

Uma das últimas e mais graves ameaças à sobrevivência autônoma de nossos países é a
Área de Livre Comércio das Américas (Alca), imposta pelos Estados Unidos ao continente, e à qual o Brasil poderá aderir até 2005, se forem mantidos os compromissos assumidos pelo governo Fernando Henrique Cardoso. A Alca, uma vez efetivada, incorporará ao território dos Estados Unidos (88% do PIB da região) os territórios dos 33 países das Américas (12% do PIB), absorvendo, com os territórios, a economia, a política, a autonomia, a independência e a cultura de nossos países, que também terão renunciado ao direito à soberania e à história própria.

O dia-a-dia dos brasileiros assume ares de tragédia; as condições de vida da ampla maioria de nosso povo tornam-se degradantes, com o desemprego atingindo patamares insuportáveis.
A irresponsabilidade das elites, sua indiferença e passividade perante a miséria e a corrupção, geram o ceticismo, o desajuste social e alimentam a criminalidade e a violência. Sobre a tragédia do neoliberalismo sobrepõe-se a deterioração econômica, política e moral do País, traduzida na conduta do governo FHC.

O presidente da República, isolado num Olimpo que se desconstitui, governa de costas para os anseios da nação, indiferente aos reclamos da sociedade.
Reiteradas denúncias da oposição anunciaram a farsa da estabilidade da moeda, a necessidade de mudanças no câmbio, a deterioração da nossa base produtiva, o desemprego crescente e a submissão do país ao rentismo, à agiotagem e à especulação. De nada adiantou. O governo, ensimesmado, autoritário e arrogante, continuou na mesma rota antinacional e decidindo a liquidação do nosso futuro.

Até hoje não logramos construir uma Democracia como verdadeiro regime de presença e participação popular, voltado para representar e atender aos anseias e demandas da cidadania. Abalaram-se as esperanças democráticas que nutríamos com a Constituição de 1988. Ela tem sido quotidianamente ignorada, descumprida e ultrajada. Ao invés de presidentes da República submetidos ao império da Constituição, temos chefes de Estado presidindo a reforma permanente da Constituição, visando a adaptá-la aos seus interesses mais imediatos e mesquinhos, e aos interesses dos grupos nacionais e internacionais que dão a tônica de seu governo.

O regime democrático vem sendo alvo de restrições e ameaças.
O Executivo sobrepõe-se aos demais poderes, o direito de associação sindical e a liberdade partidária são colocados na alça de mira de um projeto que visa a reduzir a cidadania e os espaços da atividade política, para finalmente eliminar o pluralismo político, partidário e ideológico, sem o que não há democracia representativa digna de honesta consideração.

À Educação e à Cultura, institucionalizadas, é reservado papel estratégico no projeto neoliberal, qual seja, atrelá-las aos objetivos estreitos de preparação para o local de trabalho, fazendo com que as escolas formem seus alunos precipuamente para o mercado de trabalho formando o “cidadão-cliente”. Caberá ainda a esses dois instrumentos de produção e transmissão de conhecimento veicular, desde a infância, no ensino fundamental, as idéias e propostas que proclamam a excelência do livre mercado e do novo patamar da globalização neoliberal.

A saúde pública, sucateada, mostra-se incapaz de assegurar atendimento digno a milhões de cidadãos que vegetam pacientemente nas filas de espera. Os aposentados são tratados pelo governo como um lixo imprestável que só atrapalha o "ajuste". Milhões de crianças em todo o país passam fome, seja no vestibular da prostituição e da delinqüência, no abandono das ruas, seja na sobre-exploração do trabalho que lhes rouba qualquer possibilidade de futuro. Os jovens perderam a esperança, e à velhice são negadas assistência e seguridade eficazes.

A exclusão social, agravada no governo FHC, é, porém, uma característica do modelo de desenvolvimento implantado pelas elites brasileiras, desde sempre subalternas, desvinculadas dos interesses da nação ou dos direitos de seu povo, com o qual jamais se identificaram. Ele apenas a agravou. Pois a sociedade brasileira foi construída sob as marcas de um profundo apartheid social, de uma renovada dependência externa e de uma brutal devastação do patrimônio natural. Desse projeto FHC é fiel servidor.

O Brasil conseguiu, com o esforço e o sacrifício de seu povo, altos níveis de desenvolvimento e uma industrialização que, acelerada a partir de 1930, chega até 1980. Mas, apesar das conquistas representadas pela Revolução de 1930 – marco no desenvolvimento político-social brasileiro e base do crescimento moderno –, nossas elites jamais cogitaram sobre reformar nossa estrutura social, fundada na exclusão das massas e na acumulação capitalista pelas minorias. Assim, nosso crescimento, a rápida e desordenada urbanização do País, sua participação, ainda que passiva, na revolução tecnológica mundial, deram-se com o aprofundamento dessas desigualdades, o aumento do número de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza e a ampliação do fosso econômico e social entre as regiões, ameaçando a integridade federativa. Ou seja, os frutos da acumulação econômica foram apropriados numa proporção escandalosamente concentrada pelas elites brasileiras. Esse quadro de miséria foi agravado pelo regime militar em sua opção ideológica pelos interesses das classes dominantes. Nesse sentido, o golpe militar de 1964 representou a ruptura imposta pelo sistema a um regime que ensejava a emergência do movimento popular e se associava aos esforços da sociedade brasileira visando a reduzir a exclusão. Lamentavelmente, a luta contra a ditadura militar, afinal derrotada pelo povo nas ruas, e a conquista da normalidade institucional, não corresponderam a uma ruptura com os fatores da exclusão social, nem do domínio das classes dirigentes que serviram – e foram servidas – do período autoritário para aumentar seu poder e sua riqueza.

Ao contrário, a exclusão persiste, e se agrava.
O resultado dessa política vem-se revelando particularmente perverso para os trabalhadores. O desemprego recorde atinge cerca de 20% da população economicamente ativa nas regiões metropolitanas. Desde 1995, o País perdeu milhões de empregos. Crescem a concentração de renda e a exclusão social, o subemprego, a precarização nas relações do trabalho e o número de pobres.

Depois de tantos anos de experimento neoliberal, o Brasil ostenta índices obscenos de desigualdade social. Dos nossos 160 milhões de brasileiros cerca de 44% sobrevivem com menos de dois dólares de renda diária. Nada menos de 17% dessa população acima de 17 anos é analfabeta. Nossa força trabalhadora tem apenas pouco mais de três anos de estudos escolares, contra 12 anos na Ásia. Segundo dados do Banco Mundial, em nenhum outro país os 10% mais ricos são tão ricos. Eles ficam com 48% de toda a renda nacional!

Em 15 anos de aparente reconstrução democrática, regredimos. Se não sofremos mais a violência política da ditadura militar, nossa população vive apavorada, seja nas cidades, seja nas zonas rurais, acuada pelas balas de uma guerra civil não declarada. Vivemos um cotidiano de mortes construindo a banalização da violência. Testemunhamos, indignados mas impotentes, a massacres como os do Carandiru, Corumbiara, Eldorado de Carajás, Vidigal e Candelária perpetrados por agentes do Estado, os quais, na sua grande maioria, ainda permanecem impunes.

Não lutamos pela redemocratização para voltarmos a ser um País exportador de produtos primários baratos e importador de bugigangas industrializadas.

Não lutamos para eleger diretamente nossos presidentes para eles prosseguirem nas velhas políticas de entregar a nossa poupança interna e o dinheiro do contribuinte, na forma de incentivos fiscais e financiamentos públicos, a multinacionais que aqui vêm ocupar o nosso mercado.

É preciso retomar a luta, defender o Brasil, construir a democracia e valorizar o trabalho, não apenas como elemento fundamental das relações de produção, mas, igualmente, como valor ético fundador da civilização. As reformas iniciadas no governo Collor e levadas a cabo por FHC buscaram golpear o patrimônio público, os direitos dos trabalhadores, dos servidores públicos, dos aposentados e dos pobres. A reeleição, imposta ao Congresso a preço conhecido, ao arrepio dos bons costumes políticos e da ética, violentando toda a experiência republicana, foi um golpe contra a democracia e caminho usado para assegurar o projeto conservador e neoliberal, que subordina os interesses nacionais aos ditames da nova ordem mundial liderada pelos Estados Unidos.

A serviço desse implacável sistema internacional de dominação, está em curso uma inaudita destruição de tudo o que, no Brasil, propiciar as mínimas bases para formação de um mercado nacional integrado; principalmente as científicas, tecnológicas e industriais edificadas em mais de sessenta anos, tão necessárias à superação das nossas desigualdades e ao progresso do Povo brasileiro no próximo milênio.

O governo federal agride o que resta do pacto federativo, subordina os estados através de mecanismos da dívida, impõe às administrações estaduais e municipais sua própria política econômica, controla suas receitas e quer submetê-las às determinações de agências financeiras internacionais, pressionando seus governos a não reagirem contra o modelo econômico imposto de fora para dentro, de cima para baixo.

O chamado "ajuste econômico" nada mais é do que a fórmula do Consenso de Washington, monitorada e colocada em prática pelo FMI na lógica do projeto neoliberal, de mais mercado e menos Estado.

Os acordos firmados com o FMI são os mais lesivos que o País já assinou. Estabelecem metas cujo objetivo é gerar recursos para pagar uma dívida privada espúria e uma dívida pública injusta e impagável. Para isso, o governo FHC mantém a política de altas taxas de juros, provoca a recessão econômica, promove a abertura irresponsável e sem contrapartida de nossa economia diante da concorrência desigual com as grandes nações industrializadas e agrava nossa dependência ao capital especulativo externo. O preço dessa política antinacional tem sido o desmonte do parque produtivo nacional, o desemprego em larga escala, a desnacionalização da economia (empresas, bancos e a própria moeda), o abandono da produção agrícola, a transferência do patrimônio público e dos fundos de seguridade dos trabalhadores para negociatas privadas de centenas de milhões de dólares.

O predomínio da especulação financeira resulta em lucros fabulosos e concentração de riqueza, enquanto nós, o povo, milhões de brasileiros honestos e trabalhadores, arcamos com o peso de uma dívida pública de 500 bilhões de reais e uma dívida externa de 240 bilhões de dólares. Os mesmos acordos impõem ao Brasil a proibição de adotar qualquer mecanismo de defesa de nossa economia contra a competição internacional.

Uma boa parcela dos industriais brasileiros, afinal, protesta! O que esses empresários querem é o que a oposição vem defendendo sem ser ouvida pelo governo: apoio ao capital produtivo e punição ao capital especulativo; mais e melhores empregos para todos; carga tributária não apenas justa mas posta a serviço do desenvolvimento social e humano do nosso País. Concordamos na visão de que o mercado interno é nosso maior recurso para fomentar a produção agrícola e o desenvolvimento da indústria brasileira. Mas a indústria há de concordar que o nosso mercado interno, através de uma ampla reforma agrária e uma melhor distribuição da renda, pode ser muito maior do que efetivamente o é. Sim, aceitamos a idéia de que o mercado interno deva servir de alavanca para a conquista do mercado externo, pela indústria brasileira. Mas a indústria há de concordar que os empregos gerados pelos investimentos internos deva pagar aqui dentro salários dignos, num projeto permanente de expansão quantitativa e qualitativa dos recursos humanos brasileiros.

No governo FHC o Brasil vem renunciando à sua soberania e à sua autonomia.
É o Pentágono quem tenta definir o papel das nossas Forças Armadas. Como não há mais o pretexto da "ameaça soviética", promove um novo "inimigo interno", agora na figura do narcotráfico, estimulado pelo consumo norte-americano, impune. Procuram liquidar o papel das Forças Armadas como guardiãs da soberania nacional, sob o falso argumento de que a globalização elimina as fronteiras nacionais. Mas nossas fronteiras amazônicas começam a ser cercadas por crescente número de bases militares norte-americanas, já instaladas na Colômbia e no Peru.

Os Estados Unidos lideram a OTAN em sua política intervencionista. É inaceitável a proposta norte-americana de criação de uma força permanente de intervenção nos países da América Latina, utilizando hoje a Colômbia como alvo privilegiado desta política. Ressurgem as velhas ambições de grandes potências mundiais quanto à soberania sobre a Amazônia.

Como é notório, mas ainda na discrição das conversas de caserna e nos limites permitidos à disciplina e à hierarquia, os militares se revelam insatisfeitos com o papel que lhes tentam impingir.
Salvo honrosas exceções, os meios de comunicação de massa se esquecem dos episódios em que contribuíram para o fortalecimento da democracia e se prestam, hoje, ao papel de defensores incondicionais desse modelo, abdicando da vocação informativa e crítica que compete à imprensa. Discriminam a oposição e adotam o discurso único, unilateral, de defesa do governo e do sistema. O diálogo, o debate, o contraditório foram suprimidos. Os diversos veículos de nossa grande imprensa transmitem uma só voz, reproduzem um só pensamento. A voz do governo e o discurso monocórdico do neoliberalismo.

Esse quadro, por si grave para a nacionalidade, poderá ainda aprofundar-se se for aprovada uma Emenda Constitucional, atualmente tramitando no Congresso Nacional, com o apoio da grande imprensa, e que visa a permitir a participação do capital estrangeiro na propriedade, na organização e na gerência de meios de comunicação de massa.

A corrupção, fator de expropriação dos recursos gerados pelo trabalho dos brasileiros, é um elemento congênito da política de direita no Brasil, está presente em todos os níveis da administração pública e percorre todos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. A corrupção que se evidencia em alguns processos de privatização – em escala de bilhões – é seguida de velhas e tradicionais práticas do superfaturamento, vendas fictícias, pagamentos por certificados, remuneração por aprovação de projetos de lei em quase todos os governos de estado, Prefeituras Municipais, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores de todo o país. Nada justifica a presença de grandes e pequenos corruptos no debate democrático. Até porque o vício ético toma ilegítimos o mandato eletivo e a representação popular. A prova de que retornamos à época de pilhagem e corrupção dos tempos coloniais está na história, afinal revelada, de como se operou a privatização da Telebrás. O presidente mentiu à Nação quando afirmou não estar interferindo no processo licitatório. Todos os homens do presidente mentem quando dizem que estavam estimulando a concorrência nos leilões. Mentem porque ficou claro estarem, de fato, favorecendo um grupo de interesses em detrimento de outro.

A corrupção é agravada pela impunidade e por um sistema judiciário lerdo e injusto, ao qual o pobre não tem acesso e o homem do povo não tem seus direitos protegidos.
O Brasil vem sendo governado por uma elite que desde sempre traiu o seu povo, e se colocou a serviço dos grandes grupos econômicos, nacionais, internacionais e nacionais associados aos interesses internacionais, dos quais nossas classes dirigentes foram sempre servidoras.
Nunca o presente e o futuro do Brasil estiveram tão ameaçados. Jamais sofreu a nossa soberania as humilhações que ora suportamos. Vivemos um momento crucial em nossa história. Ou os brasileiros dão um basta nesse processo de desconstituição da Nação, ou o próprio futuro de nosso país estará comprometido.

Decididamente, está na hora de reverter tudo isto!
Precisamos reconstruir nossa nacionalidade! Cumpre retomar os caminhos abertos pelos que lutaram – quase sempre com o risco da liberdade e muitas vezes com o risco da própria vida – por democracia e justiça social. Contra poderosos interesses de banqueiros, megacorporações transnacionais, oligarquias políticas, contra sobretudo os interesses do capital financeiro que controla a economia global, nós, o Povo Brasileiro, dizemos BASTA!

Pela luta democrática nos locais de trabalho e nos sindicatos, nas escolas e nas igrejas, pelo protesto nas ruas, pelos abaixo-assinados, pela pressão dos movimentos sociais sobre os poderes públicos e os meios de comunicação.

Será esse o primeiro passo para construirmos uma grande frente nacional, popular e democrática, que levantará o País em um clamor cívico em Defesa do Brasil, da Democracia e do Trabalho, para construir a democracia, acabar com a injustiça social e a dependência, unificando a maioria do País através de uma plataforma mínima, que se torne o ponto de partida para a aglutinação de todos os brasileiros comprometidos com o projeto de reconstrução nacional.
Por isso e para cumprir com tal compromisso, oferecemos ao debate o seguinte Programa Mínimo:

PROGRAMA-MÍNIMO
Defesa do Brasil

Denúncia dos acordos com o FMI para possibilitar a elaboração de um projeto nacional de desenvolvimento. Renegociação soberana das dívidas interna e externa para assegurar recursos ao novo modelo do País e a inserção soberana do Brasil na economia mundial.

Retomada do crescimento econômico a taxas compatíveis com as nossas possibilidades de investimento, nossas disponibilidades e limites de recursos naturais, bem como com as nossas necessidades de emprego; redução drástica das taxas de juros e recuperação do controle nacional sobre a moeda, o crédito e o balanço de pagamentos, tudo como parte de um Projeto Nacional de Desenvolvimento Sustentável definido soberanamente pelas forças do trabalho e da produção. Esse novo modelo de desenvolvimento econômico compreenderá políticas nacionais de reestruturação agrícola, industrial, de comércio exterior e dos serviços públicos essenciais à nossa população, priorizando a defesa do meio-ambiente.

O País soberano não admitirá a dolarização de sua economia.

Política Externa soberana. Defesa dos princípios já consagrados de não-intervenção e não-ingerência nos assuntos internos de outros países; afirmação de nossa solidariedade para com a luta pela autodeterminação dos povos e nações; contra as guerras de agressão e conquista e em defesa da ação política e da negociação como instrumentos de solução dos impasses entre nações.

Pelo desenvolvimento integrado da América Latina e seu fortalecimento para proporcionar políticas soberanas de nossos países; contra qualquer sorte de intervenção no Continente ou presença de bases militares estrangeiras; fortalecimento do Mercosul como um dos instrumentos de resistência à Alca e à hegemonia norte-americana.

Denúncia da Alca como instrumento inibidor do desenvolvimento da América Latina.
Defesa da comunidade de países de língua portuguesa. Auditoria dos processos de privatização e, a partir dos seus resultados, a adoção das medidas cabíveis que assegurem a soberania nacional e os interesses do povo brasileiro.

Reforma Tributária que amplie a base de incidência de tributos e sua progressividade sobre os mais ricos, reduzindo a pressão sobre o setor produtivo gerador de empregos e, de outra parte, onerando a especulação, os monopólios, os oligopólios e as grandes fortunas, rendas, heranças e patrimônios líquidos não declarados, combatendo a evasão e desestimulando a guerra fiscal entre as unidades federativas.

Defesa da democracia

Restabelecimento do pacto federativo e renegociação das dívidas dos Estados e municípios.
Democratização dos meios de comunicação como princípio para a democratização da sociedade e legitimação do processo político representativo; instituição de mecanismos públicos não-estatais que assegurem a livre circulação de idéias e opiniões dos vários setores da sociedade. Reforma democrática do Judiciário assegurando sua modernização, a rápida solução dos pleitos, a redução das instâncias recursais, o acesso do pobre e do cidadão comum à proteção jurisdicional que é dever do Estado. Controle externo. Veto à súmula vinculante.

Regulamentação das Medidas Provisórias visando a limitar sua edição a questões especiais, urgentes e relevantes que comprovadamente digam respeito à soberania econômica do país e à estabilidade social.

Reforma política democrática que assegure o financiamento público das campanhas eleitorais, democratize o acesso dos partidos aos meios de comunicação, assegure a ampla liberdade de organização partidária e o pluralismo ideológico.
Controle público e direto, pela sociedade civil, dos serviços de empresas concessionárias, para que cumpram com sua destinação pública.

Defesa do Trabalho e dos direitos sociais

Política de emprego e combate ao desemprego. Programas emergenciais descentralizados de combate à fome e às calamidades sociais, particularmente à seca do Nordeste, alimentados, de um lado pela ampliação dos investimentos públicos, de outro pelos resultados do combate à sonegação e à corrupção, com a redução drástica dos subsídios a grandes empresas. Reforma administrativa que elimine vantagens e privilégios nas estruturas mais elevadas da administração pública nos três poderes, e aumente a eficiência do aparelho público.

Aumento emergencial e substantivo do Salário Mínimo.

Reforma Agrária imediata e massiva; política agrícola de estímulo ao pequeno e médio produtor.
Reforma urbana que assegure moradia decente a todos os trabalhadores.
Reestruturação da saúde e da educação, baseada nos princípios da universalidade e da eqüidade.
Defesa do ensino público gratuito, universal e de alta qualidade; retomada da pesquisa e do desenvolvimento tecnológicos como prioridades. Fortalecimento da Universidade pública. Universalização do ensino médio e fundamental.

Nova orientação para o modelo de financiamento da previdência social, tendo como base a solidariedade entre gerações. Recuperação dos fundos de poupança dos trabalhadores para aplicações de interesse social.

Luta contra a corrupção

Política nacional de combate à corrupção e à impunidade, levando as investigações até as últimas conseqüências. A corrupção é elemento constitutivo da desigualdade social e seu combate não pode ser confundido com o falso moralismo da direita. Será tarefa primordial das forças democráticas brasileiras.

O Brasil precisa de um governo que seja capaz de liderar o país na direção destes objetivos programáticos, para construir uma nação justa.

O MOVIMENTO CÍVICO EM DEFESA DO BRASIL, DA DEMOCRACIA E DO TRABALHO

O governo FHC e sua política conservadora estão em conflito com a vontade da Nação. Daí deriva grave crise política cujos desdobramentos podem ameaçar o processo democrático e a vida institucional. Uma vez mais, a direita, responsável pela crise, prepara-se para impor ao país sua própria alternativa, com seus métodos e seus personagens. Só a organização de todo o povo brasileiro, só sua presença nas ruas, sua mobilização permanente podem impedir um novo golpe contra os interesses nacionais e populares.

A situação é emergencial.

Ou o povo brasileiro toma em suas mãos o destino do País e promove uma mudança de rumo, ou a nossa Pátria estará condenada à violação ainda mais brutal de sua soberania e à deterioração ainda maior da vida de seu povo.

Por isso e para assegurar a democracia, os que assinam este Manifesto, e o fazem por uma opção ética em defesa do povo e do futuro do País, propõem a criação de um Movimento Cívico em Defesa do Brasil, da Democracia e do Trabalho para a construção de um governo de feição democrática e popular; capaz de assegurar um rumo progressista ao País e recuperar a confiança do povo em seu destino.
Por isso, em momento tão grave da vida nacional, dirigimos-nos a todos os democratas, àqueles que amam verdadeiramente o Brasil e anseiam por progresso e por justiça social. Convocamos todas as forças políticas progressistas, as lideranças intelectuais, científicas e acadêmicas, sociais e políticas, as entidades representativas dos diferentes segmentos da população, a todos os profissionais, aos empresários, a todos os trabalhadores das cidades e do campo, aos líderes sindicais e estudantis, e aos jovens em geral, às donas de casa, aos brasileiros de todas as crenças e religiões, a se unirem conosco neste verdadeiro esforço de salvação nacional.

Este Movimento Cívico em Defesa do Brasil, que hoje se constitui em plano nacional, é entregue à vontade e ao engenho dos brasileiros, que saberão organizá-lo em todos os estados da Federação, em todos os municípios, no campo e nas cidades, nas fábricas e nas escolas, nas vilas e nos bairros, onde quer que pulse a alma nacional, onde quer que se encontre um patriota.
A Nação não será destruída. O destino do povo não será trapaceado.
Nossa juventude tem o direito de poder acreditar no seu futuro e no futuro do Brasil, no futuro de um mundo melhor; que saberá construir.
Nós nos levantaremos.
Vamos nos reunir, todos os não-acomodamos. Vamos somar nossas forças e vamos vencer.
Viva o Povo Brasileiro.

João Amazonas, Luís Inácio Lula da Silva, Miguel Arraes, Leonel Brizola, José Dirceu, Itamar Franco, Oscar Niemeyer, Olívio Dutra, Aziz Ab Saber, Celso Antônio Bandeira de Melo, Eros Grau…

EDIÇÃO 55, NOV/DEZ/JAN, 1999-2000, PÁGINAS 9, 10, 11, 12, 13