Lançar-se ao meticuloso estudo de obra do cubano José Martí, um dos mais importantes intelectuais hispano-americanos do século XIX, definitivamente não é tarefa fácil. A magnitude de tal empresa se revela especialmente pelas dificuldades verificadas na tentativa de se penetrar no complexo emaranhado de figuras literárias e de metáforas presentes em sua narrativa.

Martí foi um magnífico escritor que logrou transcender os rígidos regulamentos da escrita da língua espanhola peninsular, ao introduzir neologismos, estilos, palavras e expressões procedentes da híbrida realidade hispano-americana. Tornou-se um dos precursores do movimento modernista, precisamente por mostrar a originalidade e a autoctonia da língua hispano-americana, potencializando-a na busca da compreensão da realidade social, política e cultural da nossa América.

Nossa América: a utopia de um novo mundo é o primeiro livro publicado no Brasil sobre José Martí. Com um caráter essencial de divulgação, esta publicação visa a suprir, ainda que tardiamente, a injustificada ausência da obra desse autor em língua portuguesa.

O autor, Eugênio Rezende de Carvalho, historiador latino-americanista com vários anos dedicados ao estudo da obra martiana, decidiu correr todos os riscos e dificuldades. E com notável êxito conseguiu oferecer ao leitor brasileiro uma obra original, que constitui uma rica síntese das imagens americanas de Martí e, sobretudo, de seu projeto visando a uma sociedade alternativa: a utopia de um Novo Mundo.

Olga Cabrera

EDIÇÃO 62, AGO/SET/OUT, 2001, PÁGINAS 81