O livro Sem meias palavras é um repositório de informações e de idéias valiosas do notável deputado federal da Bahia, Haroldo Lima – nota 10 na sua atuação em prol de uma vida mais decente para o povo brasileiro e de todo o mundo. O subtítulo Bahia, Nordeste, Brasil e Mundo, no Parlamento, sinaliza como autor faz desfilar problemas dessas dimensões e a maneira como foram abordados no Congresso. Questões conjunturais, políticas e econômicas, lá estão. Mas não só.

Sintetizando 450 anos da cidade de Salvador, o autor considera a revolução dos Alfaiates, de 1798, como mais profunda, sob o ângulo social e político, que a Inconfidência Mineira; a Revolução dos Malês, de 1835, como o mais sério levante de escravos urbanos das Américas; e o 2 de Julho da Bahia, de 1823, como a luta que garantiu o 7 de Setembro. Arrola personalidades notáveis da história baiana, como Rui Barbosa, Anísio Teixeira, João Mangabeira, Carlos Marighela, Milton Santos, Gregório de Matos, Jorge Amado, Glauber Rocha, Dorival Cayme, Caetano Veloso, Irmã Dulce e vários outros. Atribui a Rômulo Almeida o crescimento da base produtiva da Bahia, com a programação do Estado e o fomento do desenvolvimento. Canudos é tratado como tentativa de vida comunitária liderada por Antônio Conselheiro, após a libertação dos escravos, onde a incompreensão e a perversidade de Prudente de Morais levou ao genocídio de 30 mil brasileiros pobres. Haroldo exalta o talento de Pageú, comandante das operações bélicas, homenageando-o, ao lado de mais dois grandes heróis negros, Zumbi dos Palmares, o maior de todos, e Osvaldão, comandante militar da Guerrilha do Araguaia.

Anísio Teixeira o “estadista da educação”, como o chamou Hermes Lima; Pedro Calmon, historiador e político; Barbosa Lima Sobrinho, o legendário nacionalista que se notabilizou como o anticandidato à vice-presidente nas batalhas contra a ditadura militar; Tancredo Neves, que foi ao Colégio Eleitoral e o liquidou; “Betinho”, Herbet José de Souza, companheiro de militância de Haroldo na antiga Ação Popular, que ambos, com outros, fundaram em 1962; todos são homenageados, inclusive com importantes revelações, como a do entendimento havido por João Amazonas com Tancredo Neves, considerado por este, em conversa com Miguel Arraes, importante para convencê-lo a ausentar-se do Governo de Minas e assumir a candidatura à Presidência da República.

O rio São Francisco é objeto de minuciosa apreciação, no contexto da enérgica defesa que o autor faz da não privatização da Chesf, que levaria, segundo Haroldo, à privatização do próprio rio. Grande projeto é defendido para o Nordeste: interligar a bacia do Tocantins com o São Francisco. O autor ressalta e assume posição bem critica em episódios baianos, como a entrega do banco estatal, o Baneb, e da Companhia de Eletricidade da Bahia. Faz uma análise da vinda da Ford para a Bahia e destaca a participação do movimento popular baiano na derrocada em curso de ACM no estado.

Chama a atenção em Sem meias palavras o vigoroso pronunciamento feito por Haroldo em defesa da Patrobras, denunciando com muitos dados as manobras para a queda do monopólio estatal contidas no Relatório capcioso do dep. Procópio Lima Neto. É lembrada a tramóia para a privatização da Telebras, envolvendo Mendonça de Barros, Lara Resende, Pérsio Arida e outros. Haroldo mostra como em determinado momento vinte e uma estatais que valiam 22 bilhões de dólares foram vendidas por seis bilhões, dos quais o governo só recebeu um bilhão.

Na parte internacional há um importante depoimento feito pelo autor na Escola Superior de Guerra. Nele, Haroldo apresenta um quadro da situação estratégica do mundo de hoje, examinando a situação que se seguiu após o fim da Guerra Fria e o cenário criado depois dos atentados terroristas aos EUA. É forte a crítica que Haroldo faz ao hegemonismo e à política de força dos EUA. O autor já tem um livro publicado sobre a China e sobre este país também disserta em Sem meias palavras. Mostra o florescimento da nação que hoje mais reduz a pobreza no mundo. E, exulta Haroldo, tudo sob a bandeira do socialismo.

Por último, Haroldo Lima homenageia a bancada de seu Partido cassada sob o reacionarismo de Dutra, realçando a figura de Maurício Grabois, Líder da bancada comunista cassada, no momento em que assumia ele próprio, Haroldo, 37 anos depois, as funções de Líder da nova bancada comunista. (Pedidos: 61 318-5456)

Aristeu Barreto de Almeida

EDIÇÃO 64, FEV/MAR/ABR, 2002, PÁGINAS 81