A campanha eleitoral pela sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso se desenvolve a pleno vapor. O Planalto e o PSDB tudo fizeram – e fazem – para limpar o caminho para José Serra como candidato oficial na eleição deste ano. Mas Serra ainda não conseguiu unificar o campo governista para dar continuidade ao projeto neoliberal de FHC. Ao contrário, o que se viu foi a divisão entre os partidos que sustentam o governo.

Abre-se um quadro marcado por chances consistentes de o candidato oposicionista, Luiz Inácio Lula da Silva, chegar ao Palácio do Planalto à frente de um programa de mudanças e apoio político capazes de colocar o país em um novo rumo de desenvolvimento.

A dificuldade para as classes dominantes encontrarem um “anti-Lula” provoca agitação no campo conservador, que passou à retórica da chantagem e da intimidação, segundo a qual a vitória de Lula poderia trazer o caos e o afastamento de investimentos estrangeiros.

É preciso desmascarar essas alegações. Em primeiro lugar, as bases, da proclamada “estabilidade” que o governo de FHC diz ter alcançado, são desastres econômicos e sociais que afetam enormes setores da sociedade brasileira, jogam o povo no desemprego e na miséria. É a "estabilidade" dos grandes financistas, dos donos do capital.

Os dois mandatos de FHC representaram a defesa desses interesses e a rendição às imposições do grande capital e das agências internacionais, como o FMI e o Banco Mundial. Promoveu-se, para isso, uma profunda reorganização da economia, e a Constituição de 1988 foi desfigurada para acobertar os ataques contra a soberania do país e os direitos sociais e democráticos do povo brasileiro.

Balanços desse período, publicados recentemente, mostram a extensão dos danos que o governo de FHC causou ao país. No começo da década de 1990, as empresas do governo tinham 45% do capital total, as privadas nacionais tinham 40%, e as estrangeiras, 15%. Ao final do período FHC, as privadas nacionais continuam com 40%, enquanto as estrangeiras mais que dobraram, alcançando 36%; e as empresas estatais recuaram para 24%. No começo da década de 1990, antes da privatização, as empresas de energia elétrica e de telecomunicações enviavam ao exterior, a título de remessa de lucros e pagamento de dividendos, perto de um bilhão de dólares ao ano.

Em 2001, depois de privatizadas, essas empresas mandaram 4,9 bilhões de dólares.

Chama a atenção que o lucro recorde dos bancos destoa da realidade da economia nacional e do povo. Os 31 bancos que divulgaram balanço de 2001 lucraram 110,8% a mais que em 2000 (quando tiveram ótimos resultados). A defesa desta situação de privilégio move os setores conservadores e o grande capital no esforço continuísta.

Grandes bancos e corretoras de investimento recomendaram a seus clientes cautela ao investir no Brasil. Essas instituições deixaram claro que os interesses do grande capital, principalmente do grande capital estrangeiro, estarão ameaçados pelos partidos – entre eles o PCdoB – e forças sociais que vão compondo o amplo leque necessário para apoiar Lula e alcançar um novo governo. Tal embate poderá crescer à medida que aumentarem as chances eleitorais de Lula, e acena com os desafios que esse governo poderá enfrentar no Brasil.

Entretanto a candidatura de Lula vai se revelando uma alternativa que tem a confiança de parcelas crescentes da população e vai inspirando um novo sentido de estabilidade – a que permita a construção de um Brasil para os brasileiros.

Comissão Editorial

EDIÇÃO 65, MAI/JUN/JUL, 2002, PÁGINAS 3