O Sinal abriu. Os carros começaram a passar o cruzamento. Um carro vermelho veio por entre os demais e, agilmente, sem cortar ninguém, mas ultrapassando a todos, passou tranqüilamente o sinal. Alguns carros que vinham bem mais atrás tiveram dificuldades para passar o sinal. Um deles, um carro azul, forçou a ultrapassagem: seu motorista veio buzinando e gritando com todos os outros. Com os braços para fora, insistia na ultrapassagem, passou raspando em outro carro com placa do Ceará, brecou em cima de um garotinho que procurava atravessar a rua, xingou e, com o sinal amarelo, conseguiu passar o cruzamento.

      O motorista era mesmo um louco. Há algumas ruas atrás, atropelou uma mulher que passava à sua frente, depois saiu na surdina, como se não fosse com ele.

      Mais adiante, o veículo vermelho tentava trilhar um caminho mais tranqüilo, quando de repente, o azul, que vinha furioso, insistindo em se manter à frente dos que ficaram no sinal fechado, bate no carro vermelho.

      O motorista deste último desembarca tranqüilo, disposto a resolver tudo sem chateação. Já o do azul, sujeito irrequieto, olheiras profundas, salta do estofado em desespero, aos berros e xingando.
O senhor do carro vermelho pedia calma, tentava a todo o momento tranqüilizar o infortunado, propunha uma troca de telefones, tudo iria se resolver, ficasse em paz. Mas nada aquietava o desesperado do carro azul. Mal o dono do vermelho terminara de falar, ele já o culpava pelo acidente.

      A esta altura o sinal já havia aberto novamente. Os que sofreram com a grosseria do motorista do carro azul, pararam em solidariedade ao do carro vermelho. O garotinho que quase havia sido atropelado dá a língua ao velho careca. Até a mulher que ele praticamente passou por cima telefonou, do hospital, para o homem do carro vermelho em apoio.

      – Vem cá, seu barbudo duma figa! Não foge, não; volta aqui! Tá com medo de me enfrentar?

      Era o do carro azul chamando o do vermelho pro pau. Como este só ria de sua cara alucinada, o motorista do carro azul procura apoio no meio daqueles pedestres que sempre param para acompanhar o ocorrido, e falava:

      – Estão vendo? Ele bate no meu carro e nem quer conversar. Vocês viram o que ele fez?

      E foi um tal de "ele aquilo; ele aquiloutro" que não acabava mais.

      As pessoas não davam muita bola para o que ele dizia. Uns até balançavam a cabeça positivamente. Mas a grande maioria não ia muito com a cara dele. Até mesmo os amigos que vinham com ele no carro, sem mais, nem quê, foram embora e o deixaram falando sozinho. Teve deles – nunca fui mesmo com a cara desse sujeito – foram para o lado do motorista do carro vermelho.

      O sujeito foi entrando em pânico. Os carros que estavam por trás dele buzinavam, pressionavam, exigiam uma solução. E, no cume de seu desespero, o homem do carro azul, com olhos esbugalhados, calvo ao extremo, a boca mole, quase babando, grita para todos: "Tenho uma bomba, você está perdido, para trás, para trás".

      E insistia com a história da bomba. Todos ficaram na expectativa, meio perplexos. Que bomba é esta? Será destrutiva? Como ele pode fazer isto?

      O sujeito entrou no carro, pegou sua chave e, com um ar de suspense, foi até o porta-mala e quando baixo a tampa, trazia em suas mãos uma bomba, de tamanho grande, destas que realmente fazem um estrago de proporções homéricas.

      – Oh! – todos murmuraram.

      O silêncio tomou conta do ambiente.

      O homem mexeu em alguns botões, apertou outros e jogou no meio da avenida. Todos se afastaram e colocaram as mãos sobre os rostos. A expectativa aumentou e, depois de alguns segundos, "Puuufffff". Falhou!

      Depois de um tempo, todos em silêncio ele, saca uma arma, coloca na própria cabeça e grita: "Para trás, senão o careca morre! Para trás, já disse".