– Tá qui.

      – Qué isso?

      – A ficha do homem!

      – Eita! E você conseguiu, foi?

      – Deu um trampinho. O cara é mesmo de Sergipe, lá da cidade do velho mesmo. Tá aqui uma pá de tempo; não tem passagem. Tá casado com a mesma dona tem também um tempo e tem filhos. É eletricista autônomo.

      – Só isso.

      – Péra. Não terminei. A mulher dele é prima de uma outra que teve o marido assassinado lá em Sergipe.

      – Ah, é? Como vocês sabem.

      – A gente pediu ajuda lá. Quem matou o sujeito foi um policial.

      – Quando foi isso?

      – Anos 60. Comecinho.

      Toninho matuta.

      – Quem era o policial.

      – Isso não souberam dizer.

      – Como não souberam?

      – Quando o lance envolve alguém da corporação, é comum nem rolar BO. Naquela época também era assim.

      Toninho coça o queixo. O germezinho de uma idéia se insinua em sua cabeça:

      – Será possível? – murmura.

      – O quê?

      – O que o quê?

      – O que será possível?

      – Falei isso, foi?

      – Falou. E vou dizer: pode ser. O velho veio pra Sampa quando?

      – Que velho?

      – Olha, Toninho, sou investigador tem uma cara. A coisa toda se encaixa: se o velho chegou aqui pelo 64, por exemplo, é bem capaz que ele seja o policial que matou o parente desse aí. O cara pode tá correndo perigo.

      – Quem?

      – O velho, Toninho! Porra! Pede ajuda e fica aí dando uma de mané; querendo me esconder o jogo!

      – Tá certo, tá certo… Pode mesmo ser tudo isso. Mas como é que vamos confirmar?

      – Tem dois jeitos: um é prensar o fulano aí. O outro é investigar também o velho.

      – Ou investigar o velho, sendo que a prensa é parte da investigação.

      – Olha que cê podia ser investigador, hein, cara.

      – Toninho sorri. Olha lá fora o movimento. Pela calçada defronte, é um sem parar de gente. Uma mendiga estaciona na porta da oficina. Mexe a boca, como a rezar um terço, mas nenhum som se ouve. O que teria sido quando moça?

      – Êta vida filha da puta, Hermano. Muito filha da puta.