Um vento forte subiu pelas escadarias e me arremessou ao teto da catedral, onde permaneci grudado como se um gigante me segurasse pelas costas. Pude ver quando uma mulher coberta por um manto negro apareceu pronunciando palavras indecifráveis. Acordei assustado prometendo não dormir mais de estômago cheio.

      “Janela do lado do motorista!” Era assim que ele pedia o bilhete no guichê da rodoviária de Curitiba. Sem dúvida era o companheiro com quem compartilhei uma sela na policia federal em São Paulo durante quatro dias em 85. Mesmo passado tanto tempo, não poderia deixar de reconhecê-lo, talvez, pela situação inusitada vivida por nós em decorrência de uma greve geral pela suspensão do pagamento da dívida externa (como eu acreditava) ou o não pagamento (como ele acreditava). Na ocasião, nos pusemos a discutir num grupo de aproximadamente oito pessoas, a redação de uma nota que supostamente seria enviada para publicação. Foram tantas as divergências em torno das proposições de “suspensão” e “não pagamento” que não saiu coisa alguma, criando um episódio que se presta bem como piada no Brasil atual.

      “Janela do lado do motorista é mais seguro”, explicou. Depois, um pouco tímido, justificou a atitude por mera superstição. Ora, pra mim tudo bem, cada um com suas crenças. Eu mesmo lembro-me agora que uma amiga me disse que sonhar com dama de negro significa morte. É, morte! Que pode não ser propriamente a morte do sonhador, mas a morte de algum ciclo ou processo, numa relação parecida com a carta do tarô.

      Bem, já que é assim, se tendo acordado na madrugada lembrei-me de todo esse acontecido, com disposição suficiente para escrever: – tomara que seja a morte da dívida externa, ou pelo menos, da Política econômica de favorecimento do capital financeiro.