Em bandos, aprontadinhas
em modelitos ousados,
elas chegam dos subúrbios:
são as meninas do povo
com  sua alma brejeira
e o desejo sem esperança
de serem sempre modernas.

Tudo elas vendem
com gentileza,
mesmo não sendo alegres
nem tristes por inteiro.

Sem alarido, elas chegam
levando nas mãos
a bóia fria, e a muda de roupa:
têm que ter massa de sustento
para agüentar a jornada
de não saberem o que é assento
até que chegue o instante
de desabarem, na cama,
vencidas pelo cansaço.

Assim é a saga
das abelhas operárias
dos palácios do consumo:
benza Deus que tenham emprego,
mesmo sendo mofino
o momento monetário
de seu ganhame magro.

Tarde da noite,
quando a vertigem termina,
lá vão as meninas
aos lugares onde
se escondem e sonham

Tudo elas vendem com alegria
e são de eterna gentileza

Seu sonho é suburbano:
não serem apenas insumo
nos palácios do consumo.

Dia virá, em que
serão clientes
das lojas em que
têm de estar
sempre às ordens
com um sorriso
profissional
nos lábios da
necessidade!

 Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.