A Chapada é tão alta
Que as nuvens são pintadas à mão.

A nudez explícita das serras
Açula a libido dos olhos que ganham asas.
E dão vôos rasantes na floresta de bonzais.
Mata-se a sede com água dos buritizais.

Morros colonizados a fogo.
Índias possuídas à força, a facão.

Não há cordilheiras, só a sobra delas — as serras,
De rostos, dorsos e corpos belos.
Serras, museu ao aberto,
Fósseis de répteis colossais.

Folhagens. Mestiçagens várias.
Vermelho, verde, marrom e amarelo muito.
As próprias folhas são flores.

A estética em delírio.
O belo vem do feio.
As cores, o perfume, brotam

Do miolo das pedras.
Serras e morros. Grotões, cavernas, desfiladeiros.
Antigos abrigos de países livres, os quilombos.

Quanto ao povo, a maioria é negra.
São serenos, são bravos, são calmos.
A miséria é farta, mas também não falta
Quem não queira bani-la para nunca mais.

Em São Domingos se vê
A Serra Geral e o Pico do Moleque.
Do outro lado já é a Bahia, aqui ainda é Goiás.

 

As Delícias do Amargo & Uma Homenagem poemas – Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi, 2006

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).