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    Queria ter vivido melhor. Porém a mediocridade sempre me foi farta e generosa Nos caminhos que escolhi para viver. Queria ter sido mais alegre, Porém a tristeza sempre foi companheira fiel Nos dias intermináveis de abandono. Queria ter amado mais as pessoas que conheci Ou que fingi conhecer, Porém na maioria das vezes, eu também […]

    POR: Redação

    3 min de leitura

    Queria ter vivido melhor.
    Porém a mediocridade sempre me foi farta e generosa
    Nos caminhos que escolhi para viver.
    Queria ter sido mais alegre,
    Porém a tristeza sempre foi companheira fiel
    Nos dias intermináveis de abandono.
    Queria ter amado mais as pessoas que conheci
    Ou que fingi conhecer,
    Porém na maioria das vezes, eu também não me conhecia.
    Queria ter andado mais livre,
    Porém, algemado à ignorância, perdi muito tempo
    Tentando voar sem sequer saber andar.
    Queria ter lido mais livros,
    Porém, analfabeto de ousadia, passei muitos anos
    Enxergando pelos olhos adormecido de outras pessoas.
    Também queria ter escritos mais poemas
    Do que bilhetes pedindo desculpas,
    Porém, as palavras sempre me vieram como culpa
    E não como estrelas.
    Queria ter roubado mais beijos e abraços
    Das meninas que andavam desprotegidas,
    Protegidas pela magia da infância,
    Porém, cresci muito cedo, e a timidez sempre me foi
    Uma lei muito severa a ser cumprida.
    Queria ter pensado menos no futuro,
    Porém, o passado simples nunca foi o melhor presente
    E a eternidade sempre me pareceu coisa de gente que tem preguiça de viver.
    Queria ter sido um homem mais humilde
    Porém, a vaidade e a ganância sempre me cercaram
    De mimos e coisas que até hoje não sei para que serviram.
    Queria ter pregado mais a paz,
    Porém, como um covarde, gastei muita munição tentando atingir amigos e
    desconhecidos que não usavam coletes à prova de balas nem blindados no
    coração.
    Queria ter sido mais forte,
    Porém rir dos vencidos e bajular os mais ricos
    Sempre me pareceu o caminho mais curto
    Para o esconderijo secreto das minhas fraquezas.
    Queria ter dito mais a verdade,
    Porém a mentira sempre foi moeda de troca
    Para comprar o respeito e a admiração das pessoas fúteis
    De almas vazias.
    Queria que o mundo fosse mais justo
    Porém, avarento de nascença, fui o primeiro a esconder o sol na palma da
    mão, antes que o vizinho o fizesse.
    E mesquinho por vocação escondi as noites com lua
    Para que os poetas não a cortejassem.
    Queria ter dito mais besteiras,
    Porém fui desses idiotas amantes das proparoxítonas
    E sujeito oculto nos bate-papos de botecos de esquinas,
    Onde a vida não acontece por decreto.
    Queria ter colhido mais flores,
    Porém o medo de espinhos afugentou a primavera.
    E outono que sempre fui,
    plantei inverno quando a terra pedia verão.
    Hoje queria ter acordado mais cedo,
    Porém temo que pra mim
    Seja tarde demais.

     

    Assista o video-poema no youtube:

     

    http://www.youtube.com/watch?v=SeqB5FWIdSE

     

    O vídeo-poema foi feito para divulgar a poesia "Porém", que faz parte
    do livro Colecionador de pedras, da coleção Literarura
    periférica da Global Editora.

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